RIO — O risco de problemas de inadimplência no mercado livre de energia elétrica brasileiro ainda é alto, por isso é importante adotar soluções que ampliem a segurança do segmento, defende a CEO da N5X, Dri Barbosa.
A executiva aponta que o mercado brasileiro tem passado por problemas de risco de descumprimento de contratos em intervalos de cerca de um ano e meio, com o mais recente no segundo semestre de 2024 quando comercializadoras ameaçaram que não conseguiriam honrar os acordos.
“Cada vez mais, o tamanho do impacto é maior”, diz.
A N5X atua como uma “bolsa” de negociação de contratos no ambiente livre e pretende se estabelecer no país como contraparte central para essas tratativas.
No mercado financeiro, a contraparte central se interpõe entre os compradores e vendedores e honra os contratos em caso de inadimplência de algum dos lados.
Hoje, como ainda não existe essa figura no setor elétrico, as negociações são bilaterais, entre os compradores e os vendedores.
Por enquanto, as discussões para atuar como contraparte central ainda estão na fase regulatória, mas, segundo Barbosa, a expectativa é que isso ocorra em 2026.
“O grande objetivo da N5X é conseguir endereçar a questão de liquidez e segurança da comercialização de energia no Brasil. E entendemos que a solução que endereça isso é, efetivamente, trazer derivativos com contraparte central”, afirma.
Tela de negociação deve ampliar segurança e liquidez
Em um passo nessa direção, a N5X lança na quarta-feira (23/4) a sua própria ferramenta para uma tela de negociações de contratos de comercialização de energia.
Até então, a companhia atuava apenas na formalização das negociações bilaterais, com o fornecimento de uma boleta padronizada. A maior parte das transações ocorria por meio de conversas WhatsApp entre compradores e vendedores.
Agora, com o lançamento da tela, a N5X passa a auxiliar também na etapa da negociação dos acordos.
“A gente facilita o encontro dos participantes”, explica Barbosa.
Na tela, os participantes do mercado vão poder lançar ordens com limites de risco e preços, de modo a encontrar pares dispostos a negociar. Além disso, a plataforma terá um chat profissional, rastreável pelas empresas.
A expectativa é ampliar a liquidez do mercado, além de melhorar a governança e a estabilidade das negociações.
Segundo a executiva, a sinalização de preços do mercado também deve passar a ficar mais clara.
“Na tela, é possível ver todas as ordens que estão abertas. Então você consegue analisar e ver o que aquilo está me mostrando do sinal de preço para esses produtos”, afirma.
A tela de negociações da N5X passa a funcionar das 9h às 18h a partir desta quarta (23), quando vai ocorrer o evento de lançamento na B3, em São Paulo.
Inicialmente, estão aptas a participar 33 empresas. A partir de 9 de maio, a companhia abrirá para as 80 empresas ativas em negociações que utilizam a bolsa.
Entre as companhias cadastradas na N5X estão Auren, Casa dos Ventos, Eletrobras, Eneva, Hydro e Statkraft.
Hoje, o Brasil tem cerca de 600 comercializadoras no mercado livre de energia. Barbosa aponta que cerca de 40% dessas companhias têm um volume de negociação que justifica a adoção da solução da N5X.
Ela lembra, no entanto, que a perspectiva do mercado livre de energia brasileiro é de expansão.
Até o momento, o ambiente livre de negociação é restrito apenas a consumidores de média e alta tensão, mas na semana passada o Ministério de Minas e Energia (MME) enviou à Casa Civil a proposta de modernização das regras do setor, o que inclui a liberalização do mercado para consumidores de baixa tensão.
Segundo a proposta do MME, a abertura para a indústria e comércio terá início em março de 2027 e para todos os demais consumidores em março de 2028.