A migração de consumidores industriais para o mercado livre de gás natural deve se manter acelerada em 2025.
Na avaliação da coordenadora de Gestão e Consultoria em Gás Natural e Biometano da Thymos Energia, Jamille Moreira, contudo, a abertura do mercado se concentrará entre grandes e médios clientes, num primeiro momento (veja a lista abaixo).
A tendência, segundo ela, é que usuários menos gás-intensivos adotem passos mais lentos, por outro lado.
“Eu diria que o mercado deve expandir, continuar crescendo entre os grandes e médios consumidores, mas para esses pequenos [a migração] deve acontecer de uma forma bem gradual. Não acho que será a curto prazo, nem médio prazo, não. Vai demorar um pouco”, afirmou Jamille, em entrevista à agência eixos.
A Thymos assessorou algumas migrações este ano, como a Cerâmica Ramos e a Unipar. A empresa administra, hoje, uma carteira superior a 2 milhões de m³/dia de gás de clientes de setores diversos como cerâmica, petroquímica, mineração e química.
A consultora não espera que pequenos consumidores de gás, com volumes abaixo de 300 mil a 500 mil m3/mês, consigam viabilizar migrações para o mercado livre neste momento, por questões estruturais.
Segundo ela, as economias obtidas hoje no mercado livre, de 5% a 12%, na média, não são tão atrativas para pequenos consumidores industriais – já que a migração eleva, para o consumidor, muitas vezes, a exposição a penalidades pela oscilação de consumo, por exemplo.
“Hoje esses usuários, no mercado cativo, não realizam programação, têm contratos mais simples. Então para entrar nessa dinâmica [de mercado livre], eles precisariam de preços muito mais competitivos de molécula e de toda uma outra infraestrutura de transporte e distribuição [com menos penalidades] para viabilizar”, analisa.
Efeito manada
Mesmo com economias mais modestas que a realidade do mercado livre de energia elétrica, as migrações dos consumidores de gás têm acelerado, na visão dela, por uma espécie de efeito manada.
“Nessa leva dos ceramistas que migraram, por exemplo, a ideia é não ficar para trás. Então, o preço que o concorrente conseguiu, eu tenho que conseguir também, pelo menos conseguir o mesmo”.
Jamille destaca que, junto com o aumento das migrações, o mercado deve passar também por uma diversificação de fornecedores.
Ela acredita que o amadurecimento do mercado deve atrair agentes do mercado financeiro para a comercialização de gás, a exemplo do movimento que ocorreu no setor elétrico – e do que já aconteceu com o BTG Pactual Commodities no gás.
“Os bancos não vão ficar de fora. Eles já sabem muito sobre como fazer hedge de câmbio, de Brent. Eles não vão perder a oportunidade de trazer mais um produto financeiro para dentro da prateleira deles. Sem contar que muitos bancos já atuam na comercialização de energia elétrica. Então, o gás é só mais uma vertente como produto”.
Falta harmonização
O pleno desenvolvimento do mercado livre, segundo Jamille, porém, ainda esbarra em algumas amarras – dentre elas a falta de harmonização das regulações estaduais e de contratos entre as transportadoras.
“Isso tudo ajudaria bastante para expandir o mercado como um todo e não só o mercado livre”, disse.
Em participação recente no estúdio eixos, durante a gas week 2025, o sócio-fundador da ARM Consultoria, Bruno Armbrust, destacou que uma das lições a serem tiradas da experiência europeia com a liberalização do mercado de gás é a necessidade de se discutir permanentemente medidas pró-abertura.
Assista o painel na íntegra.
A migração compulsória de médios e grandes consumidores industriais para o mercado livre de gás natural, a exemplo do que aconteceu na Espanha e Itália, sugere Armbrust, poderia ser replicada no Brasil como forma de acelerar a abertura do mercado.
Migrações mais que dobram
O número de indústrias que migraram para o mercado livre de gás natural mais que dobrou nos últimos seis meses.
Levantamento da agência eixos, com base em dados públicos da Agência Nacional de Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP), mostra que ao menos 43 clientes industriais tinham contratos ativos no mercado livre até fevereiro, com 11 supridores diferentes.
Veja a lista:
- Gerdau (Petrobras)
- Proquigel Química (Petrobras)
- Alunorte (Celba)
- Refinaria de Mataripe (Petrobras, Shell e Galp)
- Biancogres Cerâmica (Shell)
- Suzano (Shell)
- CSN (Petrobras, Shell e Galp)
- Ternium (Petrobras)
- Vale (Origem, Eneva e Edge)
- Arcelor Mittal (Petrobras)
- M. Dias Branco (Galp)
- Cerâmica Carmelo Fior (MGás)
- Dexco (BTG Pactual Commodities)
- Cerâmica Alfagres (MGás)
- AGC Vidros do Brasil (Edge)
- Viva Pisos e Revestimentos (MGás)
- Pisoforte Revestimentos Cerâmicos (MGás)
- LEF Pisos e Revestimentos (Edge)
- Delta Indústria Cerâmica (Edge)
- Cerâmica Capri (Eneva)
- Wheaton Brasil Vidros (Galp)
- Cerâmica Villagres (Shell)
- Cerâmica Serra Azul (Brava Energia)
- Braswell Papel e Celulose (Galp)
- Samarco (Shell e Eneva)
- Cerâmica Ramos (Edge)
- Unipar Indupa do Brasil (Edge)
- Lume Cerâmica (Edge)
- Embramaco (Edge)
- Evonik (Shell)
- Cerâmica Cristofoletti (Galp)
- Cerâmica Savane (Galp)
- Karina Pisos e Revestimentos Cerâmicos (Galp)
- Seara Alimentos (MGás)
- Cedasa, Incopisos, NovaPorcelanato (Edge)
- Cerâmica Almeida (Galp)
- Yara Brasil Fertilizantes (Galp)
- Cerâmica Formigrês (Edge)
- Braskem (Voqen)
- Tupy Minas Gerais, Tupy S.A. (Shell)
- Volkswagen (Galp)
- Nestlé (Galp)
- Cabot Brasil (Galp)
Os volumes contratados no mercado livre não são públicos.
A Edge estima que sejam, atualmente, da ordem de 9 milhões de m3/dia e que haja potencial para se alcançar um patamar de até 15 milhões de m3/dia este ano – o que representa mais da metade do consumo industrial no mercado de gás brasileiro.