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Clima desafia setor de energia, mas CEOs parecem menos preocupados

Mudanças climáticas são apontadas como a principal ameaça por 31% dos executivos da indústria de energia no Brasil

São Paulo (SP), 18/03/2024 - Funcionários da Enel trabalham na rua General Jardim, em Vila Buarque, durante falta de energia na região central | Foto: Rovena Rosa/Agência Brasil
São Paulo (SP), 18/03/2024 - Funcionários da Enel trabalham na rua General Jardim, em Vila Buarque, durante falta de energia na região central | Foto: Rovena Rosa/Agência Brasil

NESTA EDIÇÃO. Percentual de CEOs de energia que se enxergam expostos à mudança climática caiu de 39% em 2023 para 31% em 2024.
 
Enquanto quase um terço dos entrevistados afirma que investimentos climáticos aumentaram seus custos, cerca de metade relata aumento de receita.


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Ondas de calor, incêndios, tempestades e inundações desafiaram o setor energético brasileiro – e global – em 2024, mas, curiosamente, caiu o percentual de CEOs preocupados com a exposição aos efeitos do clima extremo, mostra a Global CEO Survey da PwC divulgada nesta terça (18/3). 
 
As mudanças climáticas são apontadas como a principal ameaça para o setor por 31% dos executivos entrevistados – menos do que os 39% registrados em 2023. A pesquisa foi feita entre outubro e novembro de 2024.
 
Na média da economia geral, o percentual despenca para 21% entre os que enxergam suas companhias “expostas” ou “muito expostas” aos impactos do clima.
 
Ainda assim, as mudanças climáticas seguem no topo das preocupações dos CEOs de energia e serviços de utilidade pública. Em seguida vem a disrupção tecnológica (26%), seguida por riscos cibernéticos, instabilidade macroeconômica e conflitos geopolíticos, todos com 23%.
 
Em um setor que passa por transformações em meio à necessidade de cortar emissões, ganhar eficiência, substituir fontes fósseis e atender à uma demanda crescente por energia, a maioria (51%) dos CEOs acredita que suas empresas não serão viáveis economicamente por mais de dez anos sem mudanças significativas – acima da média geral.
 
Quase um terço dos entrevistados afirma que investimentos climáticos aumentaram seus custos, enquanto quase metade relata aumento de receita.
 
“Os riscos climáticos têm impactado as operações de diversas empresas do setor, intensificando a pressão e acelerando a necessidade de transição energética. O salto verificado entre os líderes de energia pode refletir essa crescente exigência por adaptação, além da influência das mudanças regulatórias e da disrupção tecnológica”, explica o relatório. 
 
“Esses desafios se tornam ainda mais complexos diante da instabilidade econômica, que exige investimentos estratégicos e respostas ágeis para garantir competitividade e sustentabilidade no longo prazo”, completa.



Adriano Correia, sócio e líder da Indústria de Energia e Serviços de Utilidade Pública, lista algumas oportunidades para o setor trazidas pelo contexto das mudanças climáticas ao redor do mundo.
 
Hidrogênio de baixo carbono, baterias para armazenamento de energia e nuclear para suprir a super-demanda de centros de dados para inteligência artificial, além dos combustíveis sustentáveis são alguns exemplos.
 
“Em resposta à crise do clima, vemos discussões sobre buscar alternativas. Por mais que o hidrogênio tenha perdido o fôlego, continuamos vendo alguns investimentos, pesquisas e uma pressão para viabilizá-lo”, disse à agência eixos.
 
“Os investimentos em baterias para reduzir a intermitência em solar e eólica é um tema que vai se concretizar este ano. Há um investimento muito importante em solar, não só no Brasil, como resposta às mudanças climáticas”, completa.
 
Ele também cita os investimentos em resiliência de redes e em previsão climática, inclusive com o uso de inteligência artificial para respostas mais rápidas, como outras áreas que têm despertado interesse na indústria energética.
 
De acordo com a pesquisa, transição energética e digitalização estão alterando as fronteiras tradicionais do setor, com 43% dos CEOs afirmando que suas empresas começaram a competir em pelo menos um novo segmento nos últimos cinco anos, em um movimento de diversificação e adaptação.


Melhora climática. O baixo volume de chuvas que levou a volatilidade de preços no setor elétrico em fevereiro não deve se repetir ao longo do ano, apontou a Nottus. Apesar da redução das chuvas pelo país, não há previsão de seca neste ano. A perspectiva para o setor elétrico em 2025 é mais positiva do que nos dois anos anteriores, segundo a consultoria meteorológica.
 
Recorde de calor e de produção de ar-condicionado. A produção nacional de ar-condicionado atingiu recorde em 2024, com seis milhões de unidades fabricadas, aumento de 38% em relação ao ano anterior, de acordo com o MDIC. O crescimento foi impulsionado, em parte, pelas sucessivas ondas de calor que elevaram a demanda por refrigeração, refletindo também os sucessivos recordes no consumo de energia elétrica no país.
 
Combustíveis fósseis. A ministra do Meio Ambiente e Mudança do Clima, Marina Silva (Rede), defendeu nesta terça (18/3) a construção de um “mapa do caminho” para o abandono dos combustíveis fósseis. O objetivo, além de mobilizar US$ 1,3 trilhão em financiamento climático, especialmente para países de baixa renda, é chegar à COP30 com um plano concreto de ações de mitigação e adaptação às mudanças climáticas.
 
Por falar em COP30… Também nesta terça, um grupo de mais de 260 organizações de diversos países divulgou uma carta cobrando da presidência da COP30 a adoção de mecanismos eficazes de transparência e medidas contra a influência indevida do lobby dos combustíveis fósseis e agronegócio. 
 
Leilão das térmicas. O ministro de Minas e Energia, Alexandre Silveira (PSD), reconheceu que existem dúvidas sobre a utilização de biodiesel nas usinas do leilão de reserva de capacidade (LRCAP 2025). Silveira afirmou que térmicas a óleo diesel que vão concorrer no certame com a promessa de conversão para o biocombustível podem utilizar a decisão judicial como artifício para empregar combustíveis sujos.
 
E30 em 2025. O Instituto Mauá de Tecnologia confirmou a viabilidade técnica da elevação da mistura de etanol anidro, de 27,5% (E27) para 30% (E30), que deve ocorrer ainda este ano, segundo previsão do ministro de Minas e Energia, Alexandre Silveira (PSD). Com a redução no consumo interno de gasolina, o ministério estima que o Brasil vai caminhar rumo à autossuficiência do combustível fóssil.
 
Etanol de milho. A ANP autorizou a instalação de usina produtora de etanol da Inpasa Agroindustrial em Balsas (MA). O aval foi publicado no Diário Oficial da União desta terça (18/3). A unidade terá capacidade de produzir 1.250 m³ de etanol hidratado e a 1.250 de etanol anidro por dia, utilizando cereais como matéria prima.
 
Cinco milhões na GD. A micro e minigeração distribuída de energia (MMGD) atingiu um novo marco no Brasil, superando 5 milhões de unidades consumidoras que utilizam créditos provenientes da geração própria de energia, divulgou a Aneel nesta terça (18/3). No primeiro bimestre de 2025, mais de 128 mil novas unidades aderiram ao Sistema de Compensação de Energia Elétrica (SCEE).

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