NDC brasileira

Cebds defende que Brasil aposte em energia limpa para cumprir ambição climática

Exploração de petróleo em novas fronteiras desafia renovabilidade da matriz brasileira, aponta documento entregue ao governo na terça (11/3)

Conteúdo Especial

Marina Grossi, presidente do Cebds, conversa com Ana Toni, CEO da COP30 (Foto Fernando Donasci/MMA)
Marina Grossi [à esquerda], presidente do Cebds, e Ana Toni, CEO da COP30 (Foto Fernando Donasci/MMA)

BRASÍLIA — O Conselho Empresarial Brasileiro para o Desenvolvimento Sustentável (Cebds) e a coalizão global We Mean Business Coalition (WMBC) apresentaram, na terça (11/3), um relatório sugerindo medidas para o Brasil implementar sua Contribuição Nacionalmente Determinada (NDC) ao Acordo de Paris. Entre elas, fortalecer sua posição como líder em energias renováveis.

O documento (.pdf) com recomendações sobre “harmonização de políticas setoriais para facilitar investimentos privados na descarbonização”, incentivos à transição corporativa e diálogos para transparência e previsibilidade foi entregue à diretora executiva da COP30 e secretária nacional de Mudança do Clima do Ministério do Meio Ambiente, Ana Toni.

“Anfitrião da COP30, o Brasil reforça sua liderança climática global e pode converter suas metas em ações concretas, impulsionando investimentos e um modelo sustentável de desenvolvimento”, comenta Marina Grossi, presidente do Cebds.

Segundo a executiva, o engajamento empresarial será decisivo para viabilizar inovação, energia limpa e a descarbonização da economia.

No ano passado, durante a COP29, no Azerbaijão, o Brasil se tornou o segundo país a apresentar sua nova NDC e se comprometeu a reduzir suas emissões entre 59% e 67% até 2035, em comparação às emissões de 2005.

As metas setoriais, no entanto, ainda estão em elaboração no Plano Clima, que deve ficar pronto antes da COP30, marcada para novembro em Belém, no Pará.

No documento, as organizações destacam a necessidade de um Plano Clima forte, com políticas claras e coerentes para implementação, capazes de impulsionar o investimento do setor privado em ações climáticas.

“O país tem os recursos, a tecnologia e o potencial de investimento para demonstrar como as economias emergentes podem se descarbonizar e, ao mesmo tempo, impulsionar a competitividade industrial, a segurança energética e novas oportunidades de mercado”, defende Maria Mendiluce, CEO da We Mean Business Coalition.

“Agora é o momento de passar das metas para a implementação e transformar a ambição em progresso econômico e ambiental tangível”, completa.

Petróleo desafia transição

Entre os setores-chaves da economia para o sucesso da implementação da NDC, estão energia e transportes.

O relatório reforça a tese de que o Brasil tem potencial para liderar a transição energética global, aproveitando sua matriz elétrica 85% renovável. Ao mesmo tempo, defende que a indústria precisa adotar tecnologias de baixa emissão, como captura de carbono (CCS) e eletrificação de processos.

No entanto, critica os planos do governo Lula (PT) para exploração de petróleo em novas fronteiras.

“A manutenção do percentual de energias renováveis dentro da matriz energética brasileira enfrenta desafios”, destaca.

“O esgotamento das bacias offshore atualmente exploradas motiva estudos sobre novas possíveis campos de exploração, inclusive em áreas ambientalmente sensíveis, como a foz do Rio Amazonas. Estudos indicam que a exploração destes novos campos é incompatível com a meta climática estabelecida na NDC brasileira”, completa.

O capítulo dedicado a energia lista subsídios nacionais que contribuíram para a expansão da indústria eólica no Nordeste, o programa Mobilidade Verde e Inovação (Mover) de incentivos à produção nacional de veículos de baixa emissão, além das políticas recém aprovadas para incentivar as indústrias de hidrogênio de baixo carbono e biocombustístiveis.

E defende que o governo continue desenvolvendo as “vantagens competitivas nacionais no setor de renováveis”, além de investir em inovação em áreas como biocombustíveis, hidrogênio verde e captura de carbono.

“O Brasil tem a oportunidade de demonstrar uma liderança ao reformar e readequar seus subsídios a combustíveis fósseis — que somaram US$ 5,6 bilhões em 2022 — ao apoiar projetos de transição justa, eficiência energética e fontes renováveis”, conclui.

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