CERAWeek 2025

Petrobras busca participação minoritária em produtor de etanol, diz Tolmasquim

Diretor de Transição Energética da Petrobras diz que rentabilidade do etanol "não deixa a desejar" em relação ao petróleo

HOUSTON, TX — A Petrobras busca formar parcerias com empresas de etanol que já possuem usinas em operação, garantindo que a petroleira entre no setor como sócia minoritária, disse o diretor de Sustentabilidade e Transição Energética da Petrobras, Maurício Tolmasquim. Em entrevista ao estúdio eixos, na CERAWeek 2025, evento da S&P Global, ele destacou que o etanol representa uma oportunidade de negócio lucrativa, além de contribuir para a diversificação do portfólio da companhia. Veja acima a íntegra da entrevista.

“É uma atividade muito interessante e rentável. Ela não deixa a desejar ao petróleo, não. Então, do ponto de vista de margem de negócio, é um bom negócio”, afirmou. 

A Petrobras planeja voltar ao mercado de etanol com um investimento de US$ 2,2 bilhões, já aprovado pelo conselho da empresa. 

Segundo Tolmasquim, a estatal não pretende desenvolver usinas do zero, mas sim se associar a um parceiro do setor, criando uma nova empresa para operar as plantas existentes e viabilizar futuras expansões. 

“Será uma parceria com uma empresa que já tenha uma quantidade de usinas funcionando. A Petrobras será minoritária, para não se tornar uma empresa estatal”, explicou.

Transição energética e gás natural

Além do etanol, Tolmasquim reforçou que a Petrobras mantém investimentos no petróleo, mas vem ampliando sua atuação na transição energética. A empresa aumentou em 42% o orçamento para projetos de baixo carbono, que agora representam 25% do CAPEX total da companhia. “Estamos num nível adequado, abaixo de algumas empresas europeias, mas acima das americanas”, afirmou.

O gás natural foi outro ponto de destaque na entrevista. Para Tolmasquim, o combustível é essencial para a segurança energética do Brasil e para substituir fontes mais poluentes na indústria. “Nós temos uma quantidade grande de fontes renováveis, mas parte delas é intermitente. As térmicas a gás complementam essas fontes e garantem segurança ao sistema”, explicou.

Biometano entra no radar da Petrobras

A Petrobras também iniciou um movimento para incorporar biometano ao seu portfólio, impulsionada por uma nova regulamentação que exige que 1% da oferta de gás natural seja proveniente de biometano já a partir do próximo ano. Para mapear o mercado e avaliar fornecedores, a empresa lançou um edital para aquisição do combustível renovável.

“Não podíamos ficar parados. Precisamos entender se há oferta, qual o preço, se o produto chega ao gasoduto ou se será via certificados. Por isso, abrimos essa chamada pública”, explicou Tolmasquim. Ele destacou que a movimentação gerou grande interesse no setor, mas que ainda será necessário avaliar a viabilidade econômica e o volume real disponível antes de avançar.

Leilão de térmicas e expansão do gás

Sobre o leilão de reserva de capacidade, previsto para o meio do ano, Tolmasquim reforçou que a iniciativa é essencial para garantir a segurança energética do país. O certame deve permitir a contratação de usinas térmicas, assegurando um suprimento confiável para momentos de pico de demanda e reduzindo o risco de apagões.

“Hoje temos um excedente de energia, mas a demanda cresce com mais ar-condicionados, verões mais quentes e a eletrificação da economia. Além disso, a solar tem um crescimento expressivo, mas para atender o sistema à noite, precisamos de térmicas”, explicou.

A Petrobras possui nove térmicas atualmente contratadas e pode levar algumas dessas usinas ao leilão, além de projetos em desenvolvimento, como as unidades de Itaboraí, que fazem parte da estratégia da empresa para fortalecer o setor de gás no Brasil. “Esse leilão é fundamental. Ele garante uma receita estável para as térmicas, viabiliza novos investimentos e mantém a segurança do sistema”, destacou.

Ele também comentou sobre a importação de gás da Argentina, que segue no radar da Petrobras, mas depende da viabilidade econômica. “A Argentina tem grandes reservas de gás não convencional e já existe uma infraestrutura conectando os países. O desafio agora é encontrar um preço que feche essa equação”, disse.

Sem pressa para eólica offshore

A Petrobras continua monitorando o setor de eólica offshore, mas sem pressa para investir. Tolmasquim explicou que a demora na regulamentação e a competitividade de outras fontes renováveis levaram a empresa a adotar um ritmo mais cauteloso. “A Petrobras sabe operar no mar, mas não basta ter essa capacidade. É preciso que as condições de rentabilidade sejam adequadas para entrarmos”, afirmou.

A empresa segue analisando as oportunidades nos diferentes segmentos da transição energética e, segundo Tolmasquim, novos anúncios devem ser feitos à medida que os projetos avançarem.

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