Hub de hidrogênio

Sempen firma contrato para planta de amônia verde no Porto do Açu 

Brasil tem potencial único para liderar produção de hidrogênio verde, e-SAF, metanol e amônia verde, avalia o CEO Juan Pablo Freijo

Mauro Andrade (diretor da Prumo), Marcus Ricchezza (Prumo), Juan Pablo Freijo (CEO da Sempe), Letícia Villa-Forte (Prumo), Ubiratan Castro (Sempen), Luiz Trevia (Porto do Açu) | Foto Divulgação
Mauro Andrade (diretor da Prumo), Marcus Ricchezza (Prumo), Juan Pablo Freijo (CEO da Sempe), Letícia Villa-Forte (Prumo), Ubiratan Castro (Sempen), Luiz Trevia (Porto do Açu) | Foto Divulgação

RIO — O Porto do Açu e a Sempen, empresa especializada na produção de combustíveis renováveis, assinaram um contrato de reserva de área para a instalação de uma planta de produção de amônia verde. 

O empreendimento será localizado no hub de hidrogênio de baixo carbono do complexo porto-indústria, no norte do estado do Rio de Janeiro. A planta terá capacidade de produção de um milhão de toneladas anuais e a decisão final de investimento (FID) está prevista para 2027-2028, com a operação iniciando em 2030.

Para a Sempen, o Brasil apresenta condições únicas para a produção de combustíveis sustentáveis devido à sua matriz elétrica predominantemente renovável e à abundância de CO2 biogênico, elementos essenciais para garantir a competitividade do hidrogênio verde e seus derivados, em especial no mercado europeu. 

“O Brasil tem um potencial único para se tornar líder global na produção de hidrogênio verde, e-SAF (combustível sintético de aviação), metanol e amônia verde”, afirmou Juan Pablo Freijo, CEO da Sempen, em entrevista à agência eixos.

“Nossa principal tese é que o Brasil pode atender plenamente às exigências europeias para combustíveis sustentáveis, especialmente no que diz respeito aos RFNBOs (sigla em inglês para combustíveis renováveis de origem não biológica, devido à sua matriz elétrica renovável e sua capacidade de suprir demanda com alta sustentabilidade”.

Freijo explica que a amônia verde – que deverá ser produzida na planta no Porto do Açu – pode ser utilizada de diversas formas, fortalecendo sua relevância no mercado europeu de RFNBOs. 

“Vemos a amônia verde tanto como um vetor de hidrogênio quanto como um combustível para transporte marítimo. Muitas refinarias europeias já buscam substituir o hidrogênio cinza pelo verde, e a amônia desempenha um papel importante nessa transição”.

Ele calcula que na primeira fase de operação do projeto será possível produzir entre 150 mil a 200 mil toneladas de amônia verde por ano, até escalar a 1 milhão de toneladas anuais.

O executivo também comentou sobre os desafios da introdução da amônia verde no mercado interno brasileiro, em especial na substituição dos fertilizantes importados, o que poderia reduzir a dependência brasileira de outros países.

Um dos gargalos é o preço. “Apesar de termos recebido sinais de interesse, o custo acaba afastando os interessados”, observa o CEO.

Hidrogênio para SAF

No Brasil, a empresa também conta com uma iniciativa para produção de e-SAF no Mato Grosso do Sul, que já foi selecionada em chamada do BNDES.  

“Nosso projeto de e-SAF no Mato Grosso do Sul avançou muito bem, com ótimos resultados. Agora, estamos na etapa de análise de viabilidade para iniciar sua execução”, afirmou Freijo, destacando o potencial de CO2 biogênico da região — matéria-prima essencial para a produção do combustível sustentável para aviões.

Além disso, no Uruguai, a companhia desenvolve um projeto de SAF a partir de óleos vegetais e uma planta-piloto de produção de hidrogênio verde para abastecer caminhões de transporte de madeira para produção de celulose.

Açu trabalha para se tornar um cluster de hidrogênio

O Porto do Açu tem investido significativamente na infraestrutura para atrair investidores e se consolidar como um cluster de hidrogênio. Além da Sempen, o porto já conta com contratos de reserva de área para três outros projetos de hidrogênio de baixo carbono e derivados, desenvolvidos pela pelas empresas Fuella, HIF Global e Yamna

“Nosso trabalho tem sido focado em reduzir os riscos para os investidores, mitigando incertezas e diminuindo custos de capex e opex”, destacou Mauro Andrade, diretor executivo de desenvolvimento de negócios da Prumo Logística — controladora do porto — em entrevista à agência eixos.

Segundo o executivo, a infraestrutura compartilhada é um dos grandes diferenciais do Açu, permitindo que empresas utilizem terminais de armazenamento e outros serviços sem precisar investir individualmente nessas estruturas.

Eugenio Figueiredo, CEO do Porto do Açu, reforça que a estratégia adotada pelo complexo industrial visa acelerar a implementação de projetos, oferecendo previsibilidade e apoio desde os estágios iniciais. 

“Iniciamos o licenciamento de um milhão de metros quadrados e estamos expandindo para três milhões de metros quadrados, criando um ecossistema favorável para a produção de hidrogênio verde e seus derivados”, afirmou à agência eixos.

Além disso, Figueiredo conta que o Porto também realizou estudos aprofundados sobre a capacidade das linhas de transmissão existentes na região e o fornecimento de água, bem como o potencial local de CO2 biogênico.

“São custos importantes do projeto, e quando o investidor vê que já tem um esforço colocado, uma engenharia e, principalmente, um tempo investido ali, ele entende que o processo será mais curto no final do dia, para a tomada de decisão final de investimento”. 

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