Além da criação de uma regulação robusta, o desenvolvimento do mercado de baterias no Brasil vai demandar também um trabalho de aprendizado junto a financiadores e importadores, aponta o diretor Global de Estratégia Comercial da Atlas Renewable Energy, Lucas Salgado.
O conhecimento adquirido em outros países pode ajudar nesse sentido, aponta.
A expectativa do executivo é que o mercado de baterias vai deslanchar rapidamente no Brasil, em meio à redução dos preços internacionais dos sistemas.
“É necessário ajudar o mercado a se preparar. Estamos fazendo esse trabalho, trazendo essa experiência que já temos”, diz.
A companhia está desenvolvendo um projeto de armazenamento a partir de baterias na região de Antofagasta, no Chile, com capacidade para 200 megawatts (MW).
O projeto é stand-alone, ou seja, está sendo desenvolvido sem ligação a uma usina de geração específica.
Na prática, as baterias vão armazenar energia da rede nos horários em que os preços estiverem baratos, para disponibilizar quando houver maior demanda e os preços estiverem mais altos.
Segundo Salgado, um dos motivos que ajudou o mercado de baterias a se desenvolver mais rapidamente no Chile do que no Brasil foi o fato de que a diferença entre os preços da energia entre o dia e a noite são muito grandes.
“Financeiramente, a conta lá já fechou antes”, explica.
Ele ressalva, no entanto, que o mercado chileno tem particularidades em relação ao brasileiro, como a maior irradiação solar e diferenças no fator de capacidade dos parques solares.
Um dos desafios para colocar o projeto chileno de baterias de pé foi desenvolver um equilíbrio entre o tamanho dos sistemas e os preços do mercado que garantisse a remuneração dos projetos.
“Tem que projetar preços futuros para isso, tem que ter uma base de conhecimento muito grande”, diz.
Além disso, a construção de uma nova rede de fornecedores e a logística associada para um mercado ainda incipiente também foi um entrave a ser superado, assim como o desenvolvimento da modelagem financeira e técnica.
Expansão no Brasil
A companhia avalia a hibridização dos parques solares que opera no Brasil, com a instalação das baterias, para aproveitar a infraestrutura existente.
Ao todo, a Atlas tem 1,6 GW em potência instalada no país em geração solar fotovoltaica, entre ativos em operação e construção. A empresa projeta alcançar 2,7 GW de capacidade no país até o final do primeiro trimestre de 2026, a partir da fonte solar.
A companhia também estuda participar do leilão de potência prometido pelo governo brasileiro para a negociação exclusiva de baterias este ano.
Salgado explica que o leilão vai ser importante para ajudar a financiar os projetos, a partir dos contratos firmados.
“Em toda a introdução de tecnologia no Brasil, os leilões foram bem importantes, tanto para o lado de gerar demanda para o produto, mas também como um recebível”, afirma.
Nesse sentido, o diretor defende que os prazos dos contratos oferecidos no leilão precisam viabilizar o financiamento e a amortização dos investimentos.
“É necessário trabalhar esse modelo também com as instituições financeiras que vão auxiliar no desenvolvimento dos projetos. Todo mundo tem que estar alinhado, entendendo e concordando que o modelo de receita, de remuneração do ativo, faz sentido”, diz.
Na visão de Salgado, a expectativa é que o leilão seja competitivo, com a participação de players de diferentes elos do setor elétrico, como geradores, transmissores e fundos de investimentos.
Por isso, é importante que as garantias exigidas para as ofertas afastem “aventureiros”.
“Isso garante que quem vai concorrer e participar são empresas que realmente vão entregar os ativos depois , vão conseguir cumprir com o investimento prometido”, diz.
Demanda crescente na América Latina
O diretor da Atlas aponta ainda que a companhia tem percebido um interesse crescente pelo armazenamento de energia por parte dos consumidores no Brasil, Chile e México.
Isso ocorre sobretudo entre clientes com alta demanda de energia, que buscam instalar baterias no modelo “atrás do medidor”, para garantir a segurança do suprimento e evitar quedas no fornecimento.
“Tem uma questão de segurança e também da qualidade da energia”, diz.
Ele lembra que essas soluções também ajudam os consumidores a diminuir o custo da energia, com a opção de modular os horários de compra e arbitrar preços. Assim, é possível comprar a eletricidade quando está mais barata e armazenar para usar nos horários em que os preços estão mais caros.