NESTA EDIÇÃO. COP30 pode marcar estreia do Brasil nos corredores marítimos sustentáveis.
Acordo com a Noruega vai estudar rotas e viabilidade de combustíveis de baixo carbono para embarcações.
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Brasil e Noruega planejam apresentar na COP30, em novembro, pelo menos uma alternativa de corredor transatlântico sustentável, uma iniciativa para descarbonizar o transporte marítimo substituindo combustíveis fósseis.
Os dois países assinaram um acordo, na quarta (26/2), para um projeto-piloto envolvendo indústria e institutos de pesquisa que irá identificar rotas e portos estratégicos, além de se dedicar a viabilizar o uso de combustíveis de emissão zero.
Hoje, cerca de 80% do frete internacional é feito por embarcações movidas, quase que em sua totalidade, a derivados do petróleo. Não à toa, o setor responde por cerca de 3% das emissões globais de gases de efeito estufa (GEE).
Essa trajetória pode mudar. Em 2023, a indústria concordou em chegar a emissões líquidas zero até 2050 e os combustíveis sustentáveis são um dos pilares da estratégia para alcançar esse objetivo.
Não quer dizer que será fácil, ou rápido. Ainda há uma série de questões a serem resolvidas até que as embarcações e combustíveis de baixo carbono estejam disponíveis em escala, assim como a infraestrutura.
- A aquisição e encomenda de embarcações de emissão zero quadruplicou para US$ 452 milhões entre 2023 e 2024, de acordo com a BloombergNEF, indicando um movimento mais intenso do setor em direção a novas possibilidades de abastecimento.
- A oferta dessa energia, no entanto, está cercada de incertezas. Metanol e amônia verdes, por exemplo, são derivados de hidrogênio obtido a partir da eletrólise, cujos projetos não estão avançando no ritmo esperado.
A ONU estima que serão necessários US$ 28 bilhões a US$ 90 bilhões por ano até meados do século para desenvolver infraestruturas compatível com combustíveis neutros em carbono.
“Esse é um projeto que vai trazer benefícios para todo o mundo, não apenas para os dois países. Junto com o governo norueguês, nós adotamos um compromisso capaz de tornar o modal marítimo ainda mais sustentável e ecologicamente desenvolvido”, disse o ministro dos Portos e Aeroportos, Silvio Costa Filho (Republicanos), durante a assinatura do memorando com a Noruega.
É um passo do Brasil para tentar se posicionar neste futuro mercado, que pode, inclusive, alterar algumas rotas do comércio internacional: a Organização Marítima Internacional (IMO, em inglês) discute um imposto global sobre o carbono das embarcações.
Corredores populares
Acordos para desenvolver infraestrutura para navios de baixo carbono estão ganhando impulso em diferentes partes do mundo, mostra um mapeamento de novembro de 2024 do Global Maritime Forum (GMF).
No ano passado, havia pelo menos 62 iniciativas, um crescimento de 40% em relação a 2023, enquanto um terço dos corredores anunciados anteriormente avançaram para uma nova fase de exploração, incluindo estudos de viabilidade, roteiros de implementação e avaliação de custos.
Desse total, seis iniciativas no Pacífico estão se preparando para implementação no mundo real. Uma delas aqui na América do Sul.
Parceria entre Chile, Japão e Coreia do Sul está desenvolvendo um corredor para exportação de concentrado de cobre – mineral estratégico para a transição energética – e espera receber a primeira embarcação movida a amônia em 2028.
É uma oportunidade também para esses países desenvolverem suas indústrias de hidrogênio. Apenas essas seis iniciativas podem exigir mais de dois milhões de toneladas de combustível à base de hidrogênio por ano até 2030.
O GMF alerta, no entanto, que muitos desses projetos correm o risco de atingir um “muro de viabilidade” se o custo da transição para novos combustíveis não for urgentemente abordado por incentivos de políticas nacionais.
“Essa falta de política nacional para cobrir os custos de combustível é agora o gargalo número um e em breve limitará o desenvolvimento de corredores verdes”, diz.
Dentre as recomendações do relatório está o compartilhamento de custos e riscos associados a novos combustíveis entre governos e indústria, além de aproveitar os esquemas existentes, como os leilões específicos para transporte do H2Global.
Cobrimos por aqui
Curtas
RenovaBio na Justiça. As distribuidoras de combustíveis ameaçam levar queixas ao Cade e à Justiça sobre a negativa de fornecimento de biocombustíveis para o cumprimento da mistura obrigatória. As empresas reunidas na Associação Nacional das Empresas Distribuidoras de Combustíveis (ANDC) reclamam de oligopólio na comercialização de biocombustíveis.
Curtailment. Os cortes de geração solar e eólica chegaram a 400 mil horas em 2024, apontou um levantamento da consultoria Volt Robotics. No total, 14,6 terawatts-hora (TWh) médios foram cortados. Segundo a consultoria, 1.445 usinas solares e eólicas foram afetadas em 2024, com R$ 1,6 bilhão em prejuízos para os geradores.
Distribuição de energia. A regulamentação da renovação das concessões de distribuição de energia traz regras mais rígidas para resiliência de redes a eventos climáticos severos, com maior exigência sobre o tempo de recomposição dos serviços, além de uma maior importância à satisfação dos consumidores na avaliação das distribuidoras. Entenda
Net zero mais barato. Relatório do Comitê de Mudanças Climáticas do Reino Unido publicado na quarta (26) calcula que o país pode atingir emissões líquidas zero até 2050 gastando apenas 0,2% do produto interno bruto do país ou cerca de £ 4,3 bilhões a cada ano, em média. Isso é uma redução de 75% em relação à estimativa do comitê em 2020. (Bloomberg)
EUA contra taxa de metano. O Senado dos EUA votou nesta quinta (27/2) uma resolução para anular a taxa proposta ainda no governo Biden sobre emissões de metano de grandes produtores de petróleo e gás. A medida ocorre após a aprovação de uma resolução semelhante pela Câmara na quarta-feira. (Reuters)
Europa afrouxa ESG. A Comissão Europeia apresentou na manhã desta quarta-feira um pacote de medidas para simplificar suas regulações de sustentabilidade. A justificativa é reduzir os custos de adequação às regras e proteger a competitividade das empresas do bloco. (Reset)