NESTA EDIÇÃO. IMO discute mecanismos para precificar emissões e financiar combustíveis sustentáveis.
Brasil e União Europeia se dividem em propostas para taxação de carbono e certificação de biocombustíveis marítimos.
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O 18º encontro do grupo de trabalho para corte de emissões da Organização Marítima Internacional (IMO, em inglês) terminou nesta sexta (21/2) com dois impasses sobre a mesa: taxa de carbono e biocombustíveis.
No primeiro caso, embora haja uma concordância sobre a necessidade de um mecanismo de precificação de carbono para viabilizar a adoção em escala de combustíveis sustentáveis, duas propostas diferentes têm estendido o debate sobre a estrutura que deverá ser levada para deliberação do comitê em abril.
O grupo de trabalho se reunirá mais uma vez, na primeira semana de abril, para tentar chegar a uma convergência e apresentar um rascunho para ser discutido na semana seguinte pelo Comitê de Proteção do Meio Ambiente Marinho MEPC 83.
Uma das propostas em discussão é a criação de um imposto universal sobre as emissões, de forma linear, isto é, calcular quanto o navio emite ao longo do ano e cobrar um imposto que pode chegar a US$ 150 a US$ 300 a tonelada de CO2.
Defendido pela União Europeia e países da África, o modelo também conquistou apoio de Dominica, Geórgia, Granada, Kiribati, Malawi, México, Namíbia, Nauru, Nova Zelândia, Senegal, Suíça, Trinidad e Tobago e Turquia, nesta semana.
Paralelamente, o Brasil tenta emplacar como alternativa a definição de um teto de emissões.
O governo brasileiro entende que a taxação linear prejudica o comércio de longa distância, porque os navios passam mais tempo emitindo durante a travessia do oceano, e dá vantagens para quem precisa percorrer um caminho menor.
“Nós apoiamos um mecanismo flexível para a precificação, com uma curva de emissões esperada até 2050: quem estiver emitindo acima dessa curva faria um pagamento. Quem estiver abaixo receberia um crédito”, explicou o comandante da Marinha Flavio Mathuiy, assessor da Comissão Coordenadora para os Assuntos da IMO, durante um evento na Embaixada da Noruega em dezembro de 2024.
A Noruega, inclusive, é uma das co-patrocinadoras da proposta do Brasil, junto com a China.
Segundo o comandante, o país apresentou estudos à IMO mostrando que o mecanismo permite cumprir o objetivo de zerar emissões até 2050 com combustíveis sustentáveis a preços competitivos.
Duelo fuel x food
Combustíveis sustentáveis, aliás, são outro ponto de discórdia.
O Brasil tenta emplacar etanol e biodiesel como soluções de curto prazo para acelerar a descarbonização enquanto os derivados de hidrogênio verde não ganham escala, mas enfrenta resistência europeia.
No início da semana, transportadoras, incluindo a gigante alemã Hapag-Lloyd, e ONGs pediram à agência da ONU que exclua biocombustíveis de origem agrícola de sua lista de alternativas.
Eles argumentam que há um risco de disputa pelos óleos de palma e de soja, o que pode ampliar o desmatamento para cultivo dessas culturas e a própria concorrência com alimentos, com consequências para emissões relacionadas à mudança do uso da terra.
É justamente a narrativa que o governo brasileiro tentou mudar durante a presidência do G20, em 2024, e agora na IMO.
O país tem justificado que apenas 8% do seu território é destinado à agricultura e há um importante potencial de recuperação de áreas degradadas para produção de bioenergia a ser explorado.
Cobrimos por aqui
Curtas
Hidrogênio desacelera. A espanhola Repsol cortou sua meta de produção de hidrogênio verde para 2030 em até 63%, segundo informações da Reuters. Com a revisão da meta, a empresa espera atingir entre 0,7 GW e 1,2 GW de capacidade de eletrolisador até o final da década, frente à meta de 1,9 GW estipulada anteriormente.
Baixo orçamento. Nota técnica do Observatório do Clima (OC), Climainfo, Inesc e outras nove organizações ligadas ao meio ambiente e clima alerta para o impacto do corte orçamentário do governo sobre a destinação de recursos para áreas como fiscalização ambiental, enfrentamento de secas, gestão de florestas e o programa Bolsa Verde.
Fiscalização climática. Ferramenta do Tribunal de Contas da União (TCU), o Painel ClimaBrasil permitirá aos tribunais de contas de todo o país avaliar e aprimorar políticas públicas ambientais e climáticas. A iniciativa é uma adaptação nacional do ClimateScanner, projeto global coordenado pelo TCU por meio da Organização Internacional das Instituições Superiores de Controle (Intosai).
Transmissão no Nordeste. O Ministério de Minas e Energia (MME) aprovou nesta quinta-feira (20/2) a quarta emissão do Plano de Outorgas de Transmissão de Energia Elétrica (Potee) de 2024, com previsão de reforço à rede no Nordeste. O documento define obras e instalações prioritárias para a expansão do sistema de transmissão de energia nos próximos seis anos.
Créditos REDD+. A ZEG anunciou na quinta (20/2) uma nova unidade de negócios dedicada à conservação florestal da Amazônia para geração de créditos de carbono. A intenção é ofertar títulos a partir de projetos REDD+ seguros, com alta integridade e transparência para o mercado voluntário. Eles serão certificados pela Verra.
Fraudes na mistura de biodiesel. A ANP interditou, na quinta (20/2), as operações de três distribuidoras de combustíveis em São Paulo: Maximus Distribuidora de Combustíveis, Distribuidora de Combustíveis Saara e Alpes Distribuidora de Petróleo. As interdições, aplicadas nas cidades de Santos, Paulínia, Guarulhos e Ribeirão Preto, valem em todo o país.
Eletrificando. A gigante chinesa de baterias Contemporary Amperex Technology (CATL) colaborará com a Volkswagen em baterias para veículos elétricos, em um movimento da montadora alemã para se adaptar ao mercado competitivo e em rápida evolução dos VEs.
Artigos da semana
Proteger a água para garantir a energia do futuro É importante pensar em uma regulamentação que leve em conta o uso eficiente da água na produção de hidrogênio, escreve Gabriel Chiappini
Ativos verdes, um mercado em plena expansão Emissão e comercialização podem movimentar até US$ 30 bilhões nos próximos cinco anos, impulsionadas por fatores como metas de descarbonização, escrevem Paulo Costa, José Mauro Coelho e Guilherme Mercês
Mercado de carbono regulado: os desafios para a implementação do sistema em 2025 Sistema Brasileiro de Comércio de Emissões depende de regulamentação para definir limites, órgão gestor e integração com o mercado voluntário, escrevem Claudia Hori, Gabriela Mello, Guilherme Mota e Felipe Boechem
O papel do marketing no “novo” cenário do setor elétrico Empresas precisarão entender hábitos, oferecer soluções customizadas e proporcionar uma experiência de aprendizado ao consumidor para impulsionar seus negócios, escreve Luiz Fernando Vianna
O futuro do setor de energia: tendências e desafios a superar em 2025 Mudança radical de orientação governamental nos EUA, combinada com o custo de financiamento mundo afora, poderá impactar investimentos em novas energias, escrevem Bruna de Barros Correia e Carlos Frederico Lucchetti Bingemer