NESTA EDIÇÃO. Brasil tem potencial para produzir aço, alumínio, cimento e fertilizantes de baixo carbono e agregar R$ 300 bilhões ao PIB até 2030, segundo consultoria.
Depende, no entanto, de estímulos à demanda por energia renovável. Indústria aponta custos entre principais gargalos.
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Mapeamento da PwC Strategy& encomendado pela Abrace (associação grandes consumidores industriais de energia) aponta que o Brasil tem cerca de 30 rotas industriais que podem adicionar aproximadamente R$ 1 trilhão ao PIB até 2030, além de criar mais de três milhões de empregos.
Essas oportunidades, no entanto, dependem de uma série de fatores relacionados à matriz elétrica nacional, como competitividade e renovabilidade.
“O Brasil não é apenas o país do biocombustível, da energia renovável, mas também é o país da indústria de baixo carbono”, disse Bruna Dias, senior manager da Strategy&, durante o lançamento do estudo nesta quinta (20/2).
Entre os exemplos de potenciais mercados estão eletrificação veicular e industrial; aço, alumínio, cimento e fertilizantes de baixo carbono; além de bioquímicos e biocombustíveis avançados, como o SAF para aviação.
A maior parte desse potencial está, aliás, nos produtos de baixo carbono, que respondem juntos por R$ 300 bilhões. Seguida pelos biocombustíveis, com US$ 250 bilhões.
“Muitas coisas já estão sendo feitas. Várias leis aprovadas, outras em andamento, e a gente considerou isso. Mas agora a gente precisa de uma coordenação, um olhar, de fato, para a demanda de energia. E conseguir viabilizar essa nova indústria”, comentou Dias.
A análise parte do princípio de que, hoje, a maior parte dos projetos e políticas no Brasil tem foco na oferta, e há oportunidades ao explorar o lado da demanda, convertendo a capacidade renovável do país em exportação de produtos com baixa intensidade de carbono e alto valor agregado.
É, acima de tudo, uma forma de aproveitar a janela que se abre com o isolamento dos Estados Unidos sob a era Trump, a exemplo de outros mercados emergentes como Oriente Médio, México, Índia e Vietnã.
“O Brasil se destaca por sua matriz limpa e pode usar vantagem energética para exportar produtos industriais de baixo carbono. Além disso, em setores com alto volume de exportação, o país possui intensidade de CO2 mais competitiva. No entanto, o custo unitário da energia no Brasil cresceu acima da inflação e o impacto dolarizado é ainda maior”, explica o estudo.
“Precisamos de medidas que reduzam drasticamente os encargos que tiram competitividade energética da indústria. Nosso custo energético, sobretudo elétrico, deve ser uma fonte de competitividade de novas rotas industriais”, completa.
Chegou a hora da demanda?
“Na maioria dos países o grande problema é a oferta de renováveis. No nosso caso, é um pouco o oposto. Nós temos muita oferta. Então como é que a gente estimula essa demanda?”, resume a secretária de Mudanças Climáticas do Ministério do Meio Ambiente, Ana Toni.
Segundo a secretária, uma das maneiras de viabilizar o consumo industrial de energia de baixo carbono é através de instrumentos econômicos para atrair investidores internacionais.
Ela cita como exemplo iniciativas do Ministério da Fazenda como a Plataforma de Investimentos em Transformação Climática e Ecológica do Brasil (BIP), o Ecoinvest e o Fundo Clima.
Ainda assim, reconhece que o ponto central está no custo da energia.
“Obviamente, o preço da energia é o que vai fazer muita diferença para atrair esses investimentos. Ter uma boa legislação, ter os instrumentos econômicos é fundamental, mas assegurar que tem um preço de energia renovável, em particular, que seja acessível é o que vai dar a capacidade de trazer esses investimentos”, completa.
No mesmo evento, o secretário de Transição Energética do Ministério de Minas e Energia (MME), Thiago Barral, também bateu na tecla de que é preciso proteger a competitividade para que os consumidores sejam vetores da transformação da matriz.
“O transitioning away from fossil fuels requer que a gente não só olhe o lado da oferta, mas principalmente trabalhe a transformação da demanda e o cuidado para que os custos sejam adequadamente alocados e trabalhados”, defende Barral.
Na visão do secretário, o desafio da implementação de marcos legais que foram aprovados em 2024 – Combustível do Futuro, hidrogênio de baixo carbono, eólica offshore e mercado de carbono, por exemplo – é inserir a perspectiva da demanda.
“Protegendo a competitividade e fazendo com que seja a demanda o vetor de transformação e de criação das oportunidades do investimento”, reforça.
Cobrimos por aqui
Curtas
Hidrogênio de olho no acesso à rede. Associações da indústria eólica e de hidrogênio enviaram uma carta ao MME solicitando a antecipação do cronograma de entrega de estudos para acesso à rede de transmissão. As associações destacam que a conclusão desse estudo pela EPE está prevista apenas para dezembro de 2025, e que o prazo está desalinhado com os cronogramas de decisão de investimento de importantes projetos em andamento. Entenda o que está em jogo
Solar no A-5. Geradores solares pediram ao MME para participar do leilão de energia nova A-5, destinado a pequenas hidrelétricas, sob o argumento de garantir isonomia entre as tecnologias. Para a Absolar, a inclusão da fonte vai gerar vantagens para as tarifas de energia elétrica pagas pelos brasileiros.
A-5 adiado. Vale dizer, o governo adiou os leilões de energia nova para agosto. O prazo final de cadastramento de projetos foi fixado em 10 de março. O MME deverá publicar a nota técnica de capacidade remanescente do Sistema Interligado Nacional (SIN) para escoamento de geração até 25 de abril.
Hidrogênio de etanol. A Universidade de São Paulo (USP) iniciou, na quarta (19/2), os testes para avaliar a taxa de conversão de etanol em hidrogênio, na primeira estação experimental do mundo dedicada à produção da molécula renovável a partir do biocombustível.
O posto de abastecimento, localizado na Cidade Universitária, em São Paulo, conta com investimento de R$ 50 milhões, e também servirá como fonte de dados para avaliar os índices de consumo e rendimento do combustível nos veículos, entre eles, três ônibus e dois veículos leves.
Cimento com renováveis. A Casa dos Ventos fechou um contrato para fornecer 65 MWm para a Cimento Nacional durante 15 anos. O suprimento vai garantir a autossuficiência energética da cimenteira nas unidades produtivas no Brasil. A energia será gerada pelos complexos eólicos Serra do Tigre (RN) e Babilônia Sul (BA). Segundo as empresas, juntos, os empreendimentos contribuem para evitar a emissão de cerca de 1,92 milhão de toneladas de CO2/ano.
MMGD. A micro e minigeração distribuída registrou em janeiro de 2025 um crescimento de 737 MW no Brasil, 100% a partir de energia solar. Com as instalações consolidadas no mês, a modalidade chegou a 36,836 GW de capacidade instalada no país
Fundo para calamidades. O plenário da Câmara dos Deputados aprovou na quarta-feira (19/2) o projeto de lei que suspende bandeiras tarifárias e cortes de energia elétrica, água e esgoto em caso de calamidade pública. Distribuidoras de energia serão ressarcidas pela União por meio do Fundo Nacional para Calamidades Públicas, Proteção e Defesa Civil (Funcap).