diálogos da transição

Contratação de térmicas e disputa pela rede desafiam hidrogênio no Brasil

Indústria do hidrogênio verde, que ainda dá os primeiros passos para sair do papel no Brasil, é uma das que podem sair perdendo com um grid menos renovável

Presidente Lula (PT) sanciona marco legal do hidrogênio de baixo carbono com veto parcial para envio de novo texto à Câmara. Na imagem: Dário Durigan, governador Eumano de Freitas, Lula e Alexandre Silveira durante sanção de marco do hidrogêncio, no Porto do Pecém no Ceará, em 2/8/2024 (Foto: Ricardo Stuckert/PR)
Dário Durigan, governador Eumano de Freitas, Lula e Alexandre Silveira durante sanção de marco do hidrogênio, no Porto do Pecém no Ceará (Foto: Ricardo Stuckert/PR)

NESTA EDIÇÃO. Derrubada de veto presidencial à contratação obrigatória de térmicas a gás coloca pode reduzir renovabilidade da matriz elétrica com consequências para projetos de hidrogênio verde e data centers, diz Abeeólica.

Nova indústria também observa regulação para acesso à rede e futura disputa com outros consumidores ultra-eletrointensivos.


EDIÇÃO APRESENTADA POR

A possibilidade de derrubada, pelo Congresso Nacional, do veto do presidente Lula (PT) à obrigatoriedade de contratação de 4,25 GW de térmicas a gás até 2031 na lei que trata das eólicas offshore preocupa desde ambientalistas até indústrias de energia renovável, de olho no que isso significará para a matriz brasileira do futuro.
 
A indústria do hidrogênio verde, que ainda dá os primeiros passos para sair do papel no Brasil, é uma das que podem sair perdendo com um grid menos renovável, já que boa parte dos projetos mira a exportação para a Europa e precisa cumprir requisitos rígidos em relação à origem da eletricidade para obtenção da molécula. 
 
“Essas térmicas, essa contratação forçada é um desastre para o planejamento energético brasileiro em todos os aspectos”, diz Elbia Gannoum, presidente da Associação Brasileira de Energia Eólica e Novas Tecnologias (Abeeólica). 
 
Em entrevista à agência eixos, ela avalia que a opção pelas térmicas coloca em xeque a intenção do governo brasileiro de liderar a transição energética e retomar o crescimento da economia.
 
O Brasil vem enfrentando um cenário de sobreoferta de energia que tem levado a cortes em níveis recordes na geração solar e eólica e pressionado os custos e a rentabilidade dos projetos renováveis.
 
Além do impacto direto sobre nos investimentos em eólica, solar e hidrogênio, a medida representa um entrave para outros projetos estratégicos, como a atração de data centers para o Brasil por meio do conceito de powershoring, isto é, consumidores eletrointensivos que buscam regiões com energia limpa e barata para instalarem suas atividades. Confira a entrevista



Ultra-eletrointensiva, a indústria de hidrogênio também é desafiada pela disputa por acesso à rede elétrica.
 
Em fase de consolidação de contribuições, uma consulta pública da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) busca aprimorar a regulação para pedidos de acesso por grandes consumidores, como plantas de produção de hidrogênio verde e data centers.
 
A medida visa evitar uma nova “corrida do ouro”, semelhante à observada em 2021, quando projetos de geração eólica e solar sobrecarregaram o sistema de transmissão com os pedidos.
 
É também uma tentativa de sinalizar adequadamente a necessidade de expansão da malha de transmissão. 
 
Segundo a agência, estão sendo estudados “aprimoramentos relacionados a maior segurança na implantação e remuneração da rede para conexão dos consumidores por meio do aporte de Garantia Financeira para emissão de Parecer de Acesso e para assinatura do Contrato de Uso do Sistema de Transmissão (CUST)”. 
 
O aporte de garantias visa assegurar os agentes que realmente estão comprometidos com o acesso. Leia na matéria de Gabriel Chiappini


Por falar em hidrogênio, a Hintco — empresa responsável pela operacionalização da iniciativa H2Global — anunciou nesta quarta (19/2) o início do segundo leilão global de hidrogênio verde, após a recente aprovação do esquema pela Comissão Europeia. O orçamento total é de 2,5 bilhões de euros, podendo chegar a 3 bilhões de euros, para promover a produção e o comércio internacional de hidrogênio renovável.
 
Transição japonesa. A nova meta climática do Japão prevê corte de 73% nas emissões de gases de efeito estufa (GEE) até 2040, com base nos patamares de 2013 e em 60% até 2035. A NDC que substituirá a versão de 2021 prevê que fontes renováveis forneçam até metade da eletricidade do país até 2040, além de maximizar o uso de energia nuclear para atender à crescente demanda na era da inteligência artificial.
 
Financiamento solar. O financiamento para instalação de projetos fotovoltaicos de geração própria cresceu 12,4%, de 2023 para 2024, na plataforma Meu Financiamento Solar, do banco BV. Ao todo, foram cerca de 45 mil propostas aprovadas pela empresa no ano passado, das quais 83% foram para instalação em residências.
 
Belo Monte. A Associação Brasileira de Empresas Geradoras de Energia Elétrica (Abrage) pediu, nesta terça-feira (18/2), que o Ibama reconsidere a posição sobre a redução de vazão da usina hidrelétrica Belo Monte, no Pará. A entidade, que representa as hidrelétricas, argumenta que haverá perdas para os consumidores e também podem haver impactos em outras usinas.
 
Clima extremo 1. O Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS) indicou um novo recorde na demanda média de carga no Sudeste e Centro-Oeste, na última segunda (17/2), motivado pela onda de calor que afeta as regiões. A demanda média ficou em 54.599 MWmed. Em menos de 30 dias, esta é a segunda vez que houve registro de recorde de demanda média.
 
Clima extremo 2. Ao menos 112 mil imóveis permanecem sem energia elétrica na manhã desta quarta-feira (19/2), em razão das fortes chuvas que atingiram a região metropolitana, incluindo a capital paulista, na terça. De acordo com boletim da Enel Distribuição São Paulo, as precipitações afetaram principalmente as zonas norte e oeste da cidade paulistana.
 
Fica pra depois. O HSBC Holdings vai recuar em algumas de suas metas climáticas, em resposta ao ritmo lento da descarbonização na economia em geral, disse a instituição financeira nesta quarta (19), durante divulgação de resultados. As metas de redução de emissões para suas operações, que foram inicialmente definidas para 2030, agora foram adiadas para 2050. O banco também disse que está revisando as metas para emissões associadas aos seus empréstimos a sete setores de alto carbono. (Bloomberg)

Newsletter diálogos da transição

Inscreva-se e fique por dentro de tudo sobre Transição Energética