NESTA EDIÇÃO. Confira destaques da live Diálogos da Transição desta segunda (17/2)
Em meio a clima e demanda de energia em aquecimento, executivos discutem espaço de fontes fósseis na matriz.
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Assim como outros emergentes, o Brasil deve assistir sua demanda de energia crescer nos próximos anos, à medida em que a economia – e o clima – aquece e setores intensivos miram o país como destino para seus negócios.
Ao se preparar para esse cenário, o país discute sua transição energética, tentando acomodar ao lado das renováveis intermitentes suas ambições petroleiras e a tradição carbonífera da região Sul.
Ao mesmo tempo, precisa encontrar quem está disposto a pagar pelo ‘prêmio verde’ da descarbonização, de olho nos riscos da inflação para o restante dos consumidores.
Esses foram alguns pontos abordados por executivos da indústria de petróleo e energia nesta segunda (17/2), durante o evento Diálogos da Transição, promovido pela agência eixos. (Assista no YouTube)
Viviana Coelho, gerente executiva de Mudança Climática e Descarbonização da Petrobras, explica que, embora a intensidade de carbono da energia esteja em trajetória de queda, o aumento do consumo vai anulando esses ganhos.
“Nos últimos cinco anos, a intensidade de carbono da matriz mundial caiu 13% a 15%. Mas por que não caiu a emissão de energia? Não caiu porque a gente tem um consumo primário de energia maior. Então, apesar de cada unidade de energia já ter um conteúdo em carbono mais baixo do que era alguns anos atrás, o aumento do consumo faz com que a emissão ainda não tenha caído”.
Ainda assim, a executiva defende o petróleo como um insumo relevante – ainda que não seja para queima na forma de combustíveis – para o Brasil ocupar um espaço que ainda existirá no mercado internacional.
Transição do carvão
Globalmente, carvão é o principal emissor, seguido do petróleo e gás natural. E o Brasil, que tem uma matriz diversa, com fontes renováveis e biomassa, avalia a manutenção – e possível ampliação – da participação dessas fontes fósseis em sua matriz.
É o que está em jogo, por exemplo, na análise dos vetos do marco das eólicas offshore, e da exploração de petróleo na Foz do Amazonas, no Amapá.
“O projeto de lei das eólicas offshore foi um dos poucos projetos de lei que saiu sem subsídio nenhum para a fonte. Porém, ele veio com uma série de subsídios para as térmicas a gás natural, para as térmicas a carvão, muito com preocupação de segurança energética”, critica Bernardo Bezerra, diretor de Energia, Regulação e Institucional da Serena Energia.
Um dos pontos do marco legal vetado por Lula (PT) é a extensão de contratos de termelétricas a carvão.
Candiota, no Rio Grande do Sul, é uma das usinas que seria beneficiada com a extensão. Ela está com contrato vencido.
Para Bezerra, o que o país deveria estar discutindo é como fazer a transição dos trabalhadores para indústrias renováveis.
“Temos o exemplo do contrato de uma termelétrica a carvão em Candiota, que finalizou ano passado. Deveríamos fazer um descomissionamento dessa usina. Mas tem uma série de lobbies no sentido de recontratá-la por mais 50 anos. São custos bilionários para a sociedade para a gente continuar emitindo gases de CO2, quando na verdade deveríamos estar preocupados em uma transição energética para essas cerca de 10 mil famílias que existem nessa região”, completa.
Eletrificação no Norte Global, biocombustíveis no Sul
“Hoje a matriz de eletricidade é por volta de 55% de combustíveis fósseis (2024) e até 2050 a gente projeta que seja na casa de 10%. Ou seja, é esperada uma mudança bastante drástica no nosso cenário base de como a matriz de produção de eletricidade vai mudar nos próximos 25 anos”, analisa Raphael Faucz, vice-presidente da consultoria norueguesa Rystad Energy.
Durante o evento Diálogos da Transição, ele observou, no entanto, que a eletrificação deve ocorrer de forma desigual nas diferentes economias globais, especialmente no caso do setor de transportes.
“Quando a gente fala em eletrificação de carros, há um movimento bastante claro principalmente nos países desenvolvidos – Estados Unidos e na Europa –, e China. Mas os biocombustíveis acabam sendo uma opção muito mais viável, acessível para países em desenvolvimento”.
O Brasil é um desses exemplos. Em outubro de 2024, o país aprovou uma política para incentivar a expansão da participação de biocombustíveis na matriz de transportes e tenta, em fóruns globais, vencer barreiras à sua biomassa.
Ao lado do Brasil estão Índia, que tem apostado no etanol, Indonésia e Malásia, grandes produtoras de biodiesel de palma. A Indonésia, por exemplo, espera iniciar o mandato de 40% de biodiesel no seu diesel a partir de março (Reuters).
Curtas
UTE Brasília. A Termo Norte Energia conseguiu marcar para 12 de março a audiência pública para construção de uma térmica em Brasília (DF), onde não há suprimento de gás natural. O projeto estima um consumo de 5,80 milhões de m³ por dia e conta com a construção de um gasoduto por uma empresa do mesmo grupo. Ambos poderão ser beneficiados pelas emendas incluídas no projeto que criou um regime de contratação de eólicas offshore. E foram vetadas por Lula em janeiro.
Minerais para transição energética. A Vale anunciou na última sexta que pretende investir R$ 70 bilhões até 2030 na região de Carajás, no Pará, para ampliar a produção de minério de ferro e cobre, minerais estratégicos para a transição energética global. A meta é alcançar 200 milhões de toneladas anuais de minério de ferro em 2030, visando atender à demanda por aço de baixa emissão de carbono. Já a produção de cobre deve crescer 32%, chegando a cerca de 350 mil toneladas no período.
R$ 1 bi para indústria verde. O Fundo Nacional de Desenvolvimento Industrial e Tecnológico (FNDIT) começa a operar nesta segunda-feira (17/1). Previsto na Lei 14.902/2024, que criou o Programa Mobilidade Verde e Inovação (Mover), o fundo financiará projetos voltados à descarbonização e à transição energética, com recursos provenientes de políticas industriais. A gestão dos recursos, estimados em R$ 1 bilhão, será realizada pelo BNDES.
Fusões e aquisições no setor elétrico bateram recorde em volume no ano passado, aquecidas pela descarbonização, segurança energética e, principalmente, pela necessidade das empresas se adaptarem à nova realidade de atendimento ao consumidor. De acordo com a KPMG, as companhias de energia elétrica realizaram ao longo do ano 72 operações de fusões e aquisições, um aumento de 41%.
Geração distribuída. A Athon Energia comprou 23 usinas solares fotovoltaicas da GreenYellow que somam capacidade instalada de 50,68 megawatt-pico (MWp). Elas estão distribuídas nos estados de Paraná, São Paulo, Goiás, Minas Gerais, Mato Grosso e Rio de Janeiro, além do Distrito Federal.
Economia circular. Desdobramento de um decreto assinado em junho de 2024, o Plano Nacional de Economia Circular entrará em consulta pública a partir de desta terça (18/2), com propostas para incentivar o uso eficiente de recursos naturais e práticas sustentáveis ao longo da cadeia produtiva.
Rio 40°. A cidade do Rio de Janeiro atingiu o Nível de Calor 4 às 12h35 desta segunda (17). No Calor 4, há índices de calor muito alto (40°C a 44°C) com previsão de permanência ou aumento por, pelo menos, três dias consecutivos, de acordo com a gestão municipal. É a primeira vez que o Rio atinge esse patamar desde que o protocolo foi criado, em junho do ano passado.
Captura de CO2 em FPSOs. A SBM Offshore anunciou nesta segunda (17) a assinatura de um estudo com a Petrobras para a aplicação de Módulos de Captura de Carbono em FPSOs. O design do módulo é baseado em um estudo de engenharia e design entre a SBM Offshore e a Mitsubishi Heavy Industries e qualificado pela DNV. Segundo o grupo, a solução modular compacta permite uma redução significativa das emissões gerais associadas à produção de petróleo e gás.
Enel lança títulos vinculados à sustentabilidade. O grupo de energia lançou três novos títulos vinculados à sustentabilidade nesta segunda (17). A multinacional italiana está vendendo 750 milhões de euros em um título de vencimento de 3 anos; 750 milhões de euros em um título de 6 anos; e 500 milhões de euros em um título de 11 anos, de acordo com a Bolsa de Valores de Londres. Os recursos obtidos com a venda serão destinados a fins corporativos gerais.