JUIZ DE FORA — A Eletronuclear vai reduzir despesas e reorganizar sua estrutura para tentar equilibrar as contas e garantir a continuidade do projeto de Angra 3. As medidas incluem corte de cargos de chefia, revisão de contratos, redução de gastos com pessoal e a implementação de novos custos para funcionários que vivem nas vilas residenciais da empresa e, ainda, adoção de plano de demissão voluntária (PDV/PDI).
As ações visam, segundo nota enviada pela companhia nesta sexta (7/2), aprimorar a governança e assegurar o andamento da nova usina nuclear. O pacote de cortes ocorre a menos de um mês da reunião extraordinária do CNPE em que o governo retomará o debate sobre a retomada das obras de Angra 3.
Reestruturação na Eletronuclear
A nova estrutura, aprovada pelo Conselho de Administração em 27 de janeiro, entrará em vigor em 1º de abril de 2025 e visa gerar uma economia anual estimada em R$ 3 milhões.
A reestruturação inclui o corte de 43 cargos de chefia, a extinção de 4 superintendências e 36 gerências/assessorias, além da realocação de funcionários das operações de Angra 3 para as usinas em funcionamento (Angra 1 e 2), a fim de otimizar a mão de obra.
A revisão de contratos e a racionalização dos serviços terceirizados também fazem parte da reestruturação, que foca principalmente nas áreas corporativas, mas também afeta setores de operação e engenharia. O novo organograma reflete a situação atual do projeto de Angra 3, que teve sua data de conclusão adiada de 2028 para 2031.
A estrutura anterior, em vigor desde 2022, possuía 116 cargos de chefia. Com a nova organização, o número dos cargos será reduzido para 73, com a extinção ou redistribuição de 43 funções de comando.
O residente da Eletronuclear, Raul Lycurgo, destacou que a mudança “permite um modelo mais enxuto e eficiente, alinhado às boas práticas do setor, sem comprometer a segurança e a qualidade dos serviços prestados”. A empresa afirma que a reestruturação não vai gerar demissões, mas busca ajustar a estrutura às necessidades atuais e ao andamento de Angra 3.
Redução de despesas
Além das mudanças estruturais, a Eletronuclear anunciou a cobrança de uma taxa para manutenção das vilas residenciais em Angra dos Reis, cobrindo serviços como limpeza, água, luz, telefone e IPTU. A cobrança não é aluguel, mas uma forma de repassar custos que antes eram integralmente bancados pela empresa.
Entre as ações adotadas também estão a revisão de contratos, a otimização de processos, o controle mais rigoroso de despesas com pessoal e a redução do quadro de funcionários, por meio de um plano de demissão voluntária (PDV/PDI).
A medida ocorre em um cenário de aumento nos desembolsos com a operação. Desde 2021, as despesas com Pessoal, Material, Serviços de Terceiros e Outros (PMSO) da Eletronuclear ultrapassaram em mais de 50% o valor autorizado pela Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel).
Em 2022, a empresa gastou R$ 1,6 bilhão com PMSO, enquanto o valor autorizado foi de R$ 1,1 bilhão, com um déficit de cerca de R$ 700 milhões. Em 2024, o orçamento projetado é de R$ 2,4 bilhões, enquanto o autorizado é de R$ 1,4 bilhão, o que representa um déficit de R$ 1 bilhão.
Para cortar gastos, a Eletronuclear conseguiu diminuir as despesas para R$ 1,9 bilhão em 2024, invertendo a tendência de aumento, embora ainda acima do valor permitido pela Aneel. A meta, segundo a companhia é equilibrar os custos até 2026, garantindo a continuidade do projeto Angra 3.
Revisão do plano de negócios
A Eletronuclear também está ajustando seu planejamento estratégico para os próximos anos. O novo Plano de Negócios e Gestão (PNG), aprovado pelo Conselho de Administração, define as diretrizes para 2025-2029. O documento contempla o projeto de extensão da vida útil de Angra 1, metas de eficiência operacional e o fortalecimento da governança corporativa.
EPE defende conclusão de Angra 3
A Empresa de Pesquisa Energética (EPE) afirmou que os estudos sobre os impactos da conclusão de Angra 3 destacam que o projeto evitará custos com abandono, reduzirá custos sistêmicos e trará maior segurança energética e confiabilidade ao sistema elétrico nacional. A análise, que seguiu uma abordagem estratégica, também apontou benefícios em termos de descarbonização e resiliência climática para a matriz energética brasileira.
Além disso, a conclusão da usina ajudaria a evitar arrependimentos futuros, como a perda de domínio tecnológico e a desmobilização da cadeia de fornecedores no Brasil, segundo a EPE. A estatal ressaltou que decisões tomadas com base em visões limitadas têm causado “arrependimentos custosos em outros países”.
A posição da EPE foi divulgada após reportagem do Estadão, que apontou um possível custo adicional de até R$ 61 bilhões para os consumidores. A declaração foi apoiada por entidades do setor nuclear, que defendem a finalização das obras.
Em dezembro, durante reunião do CNPE, o ministro de Minas e Energia, Alexandre Silveira (PSD), chegou a pautar a continuidade das obras e recomendou aprovação. No entanto, a decisão foi adiada devido a um pedido de vistas coletivo, e a definição final ficou para o final de fevereiro.
A decisão será crucial para que a Eletronuclear, responsável pelo projeto, possa honrar compromissos financeiros com fornecedores, parceiros e credores.