NESTA EDIÇÃO. Descarbonização da aviação na América Latina custará US$ 318 bilhões até 2050, aponta associação do setor.
É preciso investir em infraestrutura, tecnologia e novos combustíveis e, ao mesmo tempo, encontrar soluções para manter a indústria competitiva.
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A descarbonização do transporte aéreo na América Latina e Caribe deve custar US$ 318 bilhões entre 2020 e 2050, ou cerca de US$ 10,2 bilhões por ano, mostra relatório da Associação Latino-Americana e do Caribe de Transporte Aéreo (Alta).
O valor é uma fração do US$ 5,3 trilhões estimados globalmente e inclui investimentos na produção de combustíveis sustentáveis (SAF, em inglês), desenvolvimento de novas tecnologias para aeronaves, melhorias operacionais e infraestruturais, além de medidas de compensação de carbono.
A região responde por cerca de 6% do tráfego aéreo mundial e 4,8% relacionadas ao setor e tem pela frente uma série de desafios para tornar suas viagens mais sustentáveis, sem tornar seus custos restritivos.
Com o SAF duas a cinco vezes mais caro que o querosene convencional, de petróleo, o estudo observa também aumento de custos para as companhias aéreas e, consequentemente, passagens mais caras.
Fundos de investimentos colaborativos para apoiar a produção e uso, investimentos em infraestrutura e ambiente regulatório favorável são algumas formas de contornar o problema.
Além disso, o relatório da Alta (.pdf) traz como recomendação a inclusão de matérias-primas e metodologias regionais em esquemas internacionais – uma agenda que o Brasil abraçou ao longo da presidência do G20, em 2024, na tentativa de superar barreiras à sua biomassa.
“Os países da região devem trabalhar para garantir que as matérias-primas e as medições de Análise do Ciclo de Vida da região sejam reconhecidas em esquemas internacionais, como o Corsia”, diz a Alta.
Sem créditos para offset
A trajetória passa ainda pelas compensações com créditos de carbono – mas eles também estão escassos.
A aviação civil internacional é signatária do Corsia, um mecanismo que estabelece critérios para SAF e para as compensações de carbono.
- A primeira fase do Corsia começou em 1º de janeiro de 2024 e vai até 2026, com participação voluntária de 126 países, cobrindo cerca de 80% das emissões anuais do setor de aviação. A segunda fase começa em 2027 e é obrigatória.
Em um relatório de maio de 2024, a consultoria Abatable modelou dois cenários para créditos Corsia, e espera um pico na oferta dos títulos já em 2025, com a oferta cumulativa capaz de atender à demanda somente até 2029 – isso, com uma expectativa conservadora de demanda abaixo de 100 milhões de créditos até depois de 2034. (S&P Global)
O relatório da Alta vai na mesma direção e indica desafios ainda maiores na América Latina, embora a região responda por menos de 5% das emissões globais relacionadas ao setor.
“Na região da América Latina e do Caribe (LAC), o Corsia enfrenta vários desafios, especialmente a falta de créditos de carbono elegíveis suficientes para a implementação. As companhias aéreas da região estão limitadas quanto às opções disponíveis para compensar suas emissões, o que coloca em risco sua conformidade com os requisitos do esquema”.
Para a associação, é preciso desenvolver projetos locais de geração de créditos de carbono que sejam reconhecidos pelo esquema da Organização da Aviação Civil Internacional (Icao, em inglês).
Prepare-se para turbulências
Assim como todos os setores econômicos precisam resolver a equação para substituir combustíveis fósseis, cortar emissões de carbono e limitar o aquecimento do planeta a 1,5°C, a indústria da aviação enfrenta um duplo desafio: avançar na descarbonização e se adaptar aos efeitos das mudanças climáticas.
Além de apontar aumento na frequência e severidade das turbulências em ar claro (CAT, na sigla em inglês), o relatório da Alta lista como alguns eventos climáticos dos últimos anos – que quebraram recordes de calor – já impactam as viagens.
Em 2022, temperaturas de verão extremas no Reino Unido causaram o derretimento de pistas de pouso, levando à suspensão temporária de operações.
Já em abril de 2024, altas temperaturas no México reduziram a densidade do ar, o que compromete a capacidade de decolagem das aeronaves. Companhias aéreas foram forçadas a restringir o peso das aeronaves no Aeroporto Internacional da Cidade do México.
Aqui no Brasil, o exemplo emblemático vem das tempestades que devastaram o Rio Grande do Sul no primeiro semestre de 2024. As inundações atingiram a torre de controle do Aeroporto de Porto Alegre, provocando seu fechamento temporário.
“Mudanças nos padrões das correntes de jato (jet streams) também impõem novos desafios, já que variações na velocidade e direção desses ventos de alta altitude podem aumentar o consumo de combustível e o tempo de voo. Em 2019, as companhias aéreas voaram mais de um milhão de quilômetros adicionais para evitar grandes tempestades, consumindo 6 mil toneladas extras de combustível e emitindo mais de 19 mil toneladas de CO2”, completa o documento.
Cobrimos por aqui
Curtas
Parceria Brasil-Japão. Cooperação técnica que está em fase de elaboração pelo Brasil e pelo Japão mira descarbonização e transição energética a partir do uso integrado de combustíveis sustentáveis e tecnologias limpas. Representantes dos dois governos que integram o Comitê Conjunto de Promoção de Comércio e Investimentos e Cooperação Industrial se reuniram, nesta terça-feira (28/1), no Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (MDIC), para avançar nas discussões sobre o tema.
Mudança de regras. O governo japonês anunciou nesta quarta (29/1) uma revisão de suas regras para leilões de energia eólica offshore, enquanto o setor globalmente enfrenta atrasos e despesas crescentes causadas por cadeias de suprimentos restritas e inflação. Após uma série de consultas para tentar garantir a conclusão dos projetos offshore, o governo japonês vai adotar um esquema de ajuste de preços de eletricidade e depósitos mais altos para cobrir atrasos. (Reuters)
Suíços contra jovens verdes. Os eleitores suíços devem rejeitar um conjunto de regras climáticas rígidas propostas pela ala jovem do Partido Verde, já que a maioria da população considera os custos econômicos muito altos. Cerca de dois terços do eleitorado são contra a chamada “ Iniciativa de Responsabilidade Ambiental ”, que exige — entre outras coisas — reduzir os gases de efeito estufa emitidos pelo consumo em 90%, em comparação com 2018. (Bloomberg)
Biometano na Natura. O grupo fechou uma parceria com a Ultragaz para ampliar a substituição do uso de combustíveis fósseis por biometano na sua fábrica em Cajamar, em São Paulo. A expectativa é que a Natura reduza em 20% as emissões de carbono do complexo industrial através da utilização do biometano em caldeiras e frotas de caminhões de transporte de carga.
Eólica do Piauí para o metrô de SP. O Grupo CCR e a Neoenergia concluíram o acordo firmado em novembro do ano passado para sociedade em três parques do complexo eólico Neoenergia Oitis, no Piauí. É o primeiro projeto na modalidade de autoprodução do Grupo CCR. A operação irá atender 60% da demanda total por energia elétrica da companhia, abastecendo as operações da ViaMobilidade – Linhas 8 e 9, ViaQuatro e ViaMobilidade – Linhas 5 e 17, do sistema metroferroviário de São Paulo.
Clima extremo. Toda a capital paulista está em estado de atenção para alagamentos por causa das chuvas que atingem a cidade desde a manhã desta quarta-feira (29). Segundo a Defesa Civil, o estado de atenção foi decretado às 10h55 e permanece em vigor até o momento. Nenhuma ocorrência de maior gravidade foi registrada na cidade até agora. (Agência Brasil)