PIPELINE. YPFB, PRIO, Voqen e BTG estreiam na comercialização de gás; 2025 também desponta como um ano de consolidação para Edge, Eneva e MGás.
MME ajusta regras do LRCAP para ampliar universo de térmicas aptas a participar. Equinor vende gás de Raia para Comgás. Petrobras lança edital para comprar biometano. CMPC Celulose Riograndense prepara migração para mercado livre. Agergs nega pedido da Sulgás para suspender revisão tarifária.
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Estamos de volta para mais um ano de cobertura do setor de gás natural para falar de estreias. Empresas de diferentes perfis colocaram o pé na atividade de comercialização neste começo de 2025 – e outras podem chegar.
Dentre as novidades, destaque para a PRIO, produtora de gás nacional; e a YPFB Energia do Brasil, trader criada pela petroleira estatal boliviana.
Tem também o BTG Pactual Commodities chegando no mercado, além da Voqen, o braço de comercialização de gás e energia da Braskem.
Passos à frente dessas novas entrantes, Edge, Eneva e MGás (grupo J&F) seguem ativas. E 2025 desponta como um ano de consolidação para elas.
Olho também nas oportunidades de importação de gás argentino, que também podem trazer mais comercializadoras para o tabuleiro.
A seguir, a gas week apresenta um breve perfil das novas entrantes deste início de 2025 e faz um giro pelo mercado, para mostrar quem mais pode pintar. Para ficar de olho. Feliz ano novo!
Bolivianos miram venda direta
A YPFB Energia do Brasil contratou capacidade do Gasbol, em mais um passo no plano de entrar na comercialização. Ao todo, reservou o direito de injetar 50 mil m³/dia em Corumbá (MS) – a principal porta de entrada do gás boliviano no mercado brasileiro.
O contrato é trimestral – em razão da suspensão da oferta de capacidade 2025-2029, no fim de 2024, a ANP aprovou uma solução provisória para destravar a contratação de capacidade na malha da TBG, enquanto o regulador estuda uma forma de contornar o aumento inesperado das tarifas.
O movimento da YPFB faz parte de um reposicionamento da estatal boliviana frente à abertura do mercado brasileiro. A companhia vem buscando aumentar a sua carteira de clientes para além da Petrobras, sua parceira histórica.
Esta semana, aliás, a YPFB anunciou que está negociando novos contratos (incluindo firme) no Brasil para 2025-2027 – desde outubro, a Argentina deixou de nomear gás firme da Bolívia, o que abriu espaço para redirecionamento desse gás ao mercado brasileiro.
A YPFB informou que tem direcionado gás para “diversos clientes no mercado brasileiro” – embora, num primeiro momento, a YPFB tenha ancorado na Petrobras o envio dos volumes que a Argentina deixou de comprar.
A estatal boliviana tem se aproximado, nesse contexto, de comercializadoras privadas; em paralelo, tenta desenvolver o seu próprio braço de trading.
Desde 2019, no primeiro ano do governo de Jair Bolsonaro (PL), quando o Novo Mercado de Gás começou a ganhar forma, a YPFB tem manifestado interesse em vender diretamente o gás boliviano no mercado brasileiro.
A companhia tem autorização da ANP há cinco anos, mas deu, agora, seu primeiro passo mais concreto. Pelo baixo volume movimentado, a iniciativa é entendida no mercado como primeiro teste da boliviana.
Em novembro, a YPFB Energia do Brasil assinou um contrato de importação de gás com a própria YPFB.
Também em 2024, a companhia iniciou, com o intermédio dos governos de ambos os países, uma aproximação com a indústria brasileira — interessada em comprar gás boliviano sem intermédio da Petrobras.
Num primeiro momento, a YPFB mira oportunidades de vender o próprio gás boliviano no mercado brasileiro, mas, no futuro, mira o gás argentino.
A YPFB tem autorização da ANP para trazer, para o mercado brasileiro, 2 milhões de m³/dia da Bolívia – e outros 5 milhões de m³/dia da Argentina.
Negociar contratos de compra e venda de gás proveniente de outros países, para comercialização no mercado internacional, é uma das novas atribuições da YPFB, pelo Decreto Supremo 5.206/2024 – o mesmo que criou o trânsito internacional como nova linha de negócios da estatal boliviana.
A comercialização internacional, contudo, seria uma segunda fase de internacionalização. Num primeiro momento, a intenção da empresa é atuar como agregadora de gás em trânsito – ou seja, como responsável pela recepção, programação, transporte e entrega de gás argentino ao Brasil pelo sistema integrado de transporte da Bolívia.
Já assinou com a TotalEnergies e a Matrix Energy, aliás, o seu primeiro contrato operacional internacional do tipo.
Falando em Bolívia… depois de ficar seis anos sem divulgar suas reservas certificadas, a YPFB confirmou oficialmente o declínio de seus volumes nos últimos anos. Ao fim de 2023, possuía 4,5 TCFs, uma queda de 58% em relação aos 10,7 TCF certificados em 2017. A gestão da estatal boliviana questiona, contudo, os valores certificados na ocasião.
Gás de Wahoo a caminho
A PRIO espera um salto na sua produção de gás em 2025 e começa a dar seus primeiros passos na comercialização.
Firmou um acordo com a Petrobras para acessar o Sistema Integrado de Escoamento de gás natural da Bacia de Campos e a Unidade de Tratamento de Gás de Cabiúnas, em Macaé (RJ). Com isso, a petroleira independente consegue acessar diretamente o mercado.
A companhia informou que sua carteira inicial será de 300 mil m³/dia, mas que a previsão é ultrapassar 1 milhão de m³/dia ao longo de 2025, com o início da produção de Wahoo, na Bacia de Campos.
Além desse campo, a PRIO opera Frade (100%) e Albacora Leste (90%), que também produzem gás.
A petroleira informou à agência eixos que já está vendendo seu gás ativamente no mercado desde 1° de janeiro, na saída da UPGN, “diretamente a empresas de grande porte, sem a presença de intermediários”.
A companhia destacou, contudo, que a venda pode ser feita para todo o mercado, inclusive para outras comercializadoras.
Voqen e BTG montam portfólio
Outra empresa que está estreando como carregadora é a Voqen. A empresa contratou uma capacidade de 30 mil m3/dia na malha da NTS, para retirada em São Paulo, onde está localizado o seu primeiro cliente: uma unidade da própria Braskem, a primeira do grupo a migrar para o mercado livre.
Em 2024, a Voqen já estava ativa na montagem de seu portfólio de suprimento. Fechou, na ocasião, um contrato com a Shell; e abriu uma concorrência para compra de até 1,6 milhão de m3/dia para fornecimento a partir de 2025.
A expectativa da companhia é concluir o processo nas próximas duas semanas. A empresa mira tanto para consumo das unidades industriais do grupo quanto para terceiros – com foco no segmento industrial.
A Braskem espera migrar uma segunda unidade em São Paulo para o mercado livre em abril e, na sequência, planeja a migração de plantas na Bahia, Rio Grande do Sul e Alagoas.
O BTG Pactual Commodities também está dando os seus primeiros passos como trader de gás. Contratou a saída de 30 mil m³/dia em São Paulo, no Gasbol.
Uma das comercializadoras líderes em energia elétrica do mercado brasileiro, a companhia obteve em 2024 a autorização da ANP para atuar como comercializadora e carregadora.
Ao longo do ano passado, o BTG Pactual Commodities começou a montar a sua carteira de suprimento. Celebrou, com a MGás, o seu primeiro contrato master – aqueles que definem as condições gerais e que permitem às partes serem mais ágeis em potencias negociações futuras.
O negócio de gás não chega a ser uma novidade para o BTG – que está presente no setor, de forma indireta, como principal acionista da Eneva.
Para ficar de olho
O ano de 2025 desponta como um ano de consolidação para o trio Edge, Eneva e MGás. As empresas fizeram importantes movimentos no ano passado.
A Edge, por exemplo, contratou para 2025 uma saída de 546 mil m3/dia em São Paulo e Minas Gerais, na malha da Nova Transportadora do Sudeste (NTS). Dentre os principais clientes da comercializadora da Compass este ano estão a Saint Gobain e a Vale.
Já a Eneva, que começou a comercializar o gás do hub Sergipe no 2º semestre de 2024, contratou uma saída de 320 mil m3/dia no Gasbol; e de 324,5 mil m3/dia na malha da Transportadora Associada de Gás (TAG), no Espírito Santo e Sergipe.
A companhia já anunciou contratos para 2025, no mercado livre, com Vale e Cerâmica Capri
A MGás, que se tornou em 2024 uma das principais importadoras de gás boliviano, diversificou o seu portfólio de suprimento e de clientes. Estreou no mercado livre, com um contrato de curto prazo com a CSN; e fechou acordos de comercialização de longo prazo com clientes da indústria de cerâmica para os próximos anos.
Olho também na Vibra e Energisa. A Vibra, por exemplo, vem montando o seu portfólio de suprimento e chegou a fechar, em 2024, seu primeiro contrato no mercado livre, para venda de gás à Samarco.
A Energisa se prepara para começar a produzir biometano em 2025 e lançou, em 2024, seu braço de comercialização de gás. A companhia busca fontes de suprimento de gás natural fóssil, para compor seu portfólio.
E atenção às oportunidades de importação de gás argentino. Agentes se movimentam para viabilizar o envio das primeiras moléculas de gás argentino ao Brasil na janela do verão.
Edge, MGás e Tradener fecharam recentemente novos acordos de suprimento com produtores argentinos para importação de gás natural do país vizinho. Matrix Energy, Gas Bridge e Pan American Energy também estão na corrida.
GÁS NA SEMANA
Mudança no LRCAP. O MME publicou uma portaria com mudanças nas diretrizes do Leilão de Reserva de Capacidade 2025 que, na prática, ampliam o universo de térmicas existentes aptas a participar. As alterações beneficiam a Eneva, que, pelas regras divulgadas inicialmente, ficava impedida de recontratar seus ativos no Parnaíba.
– O ministro da Fazenda, Fernando Haddad (PT), afirmou na quinta (9/1) que diversos ministérios se manifestaram para que Lula vete os trechos do marco legal das eólicas offshore que tratam de temas alheios – um deles é a contratação das térmicas locacionais.
Missão nos Emirados. Alexandre Silveira se reuniu com a Adnoc para discutir oportunidades de investimentos no setor de gás, incluindo fertilizantes. Um dos temas tratados foi o leilão de gás da PPSA.
Reforma tributária. Um grupo de cinco associações ligadas a diferentes elos da cadeia do gás enviou uma carta ao presidente Lula pedindo o veto aos trechos da regulamentação da reforma tributária que incluem o gás natural processado e o biometano no regime monofásico.
Gás de Raia. A Equinor fechou com a Comgás um contrato de dez anos para comercialização de gás, incluindo volumes do projeto previsto para 2028.
Conexão TAG-NTS. A ANP autorizou o início das operações da interconexão entre a malha de gasodutos do Sudeste e Nordeste. A interligação permite a transferência bidirecional em até 20 milhões m³/dia.
TBG sob nova direção.Angélica Laureano assume o comando da transportadora tendo o desafio imediato de chegar a uma solução com a ANP para o aumento inesperado das tarifas do Gasbol em 2025.
Caso Sulgás. A Agergs negou por unanimidade o pedido da distribuidora para suspensão dos efeitos da revisão tarifária 2024. Na ocasião, a agência gaúcha aprovou um aumento da margem aquém do pleiteado pela distribuidora.
Mercado livre. A CMPC Celulose Riograndense, de Guaíba (RS), se prepara para migrar para o ambiente de contratação livre. Recebeu autorização da Agergs, em dezembro, para avançar nas negociações com a Sulgás.
Biometano. A Petrobras lançou um edital para a aquisição do gás renovável, com o objetivo de cumprir o mandato inicial de 1% previsto no Combustível do Futuro. O objetivo é mapear o mercado sob o ponto de vista da oferta.
– A ABiogás vê o edital como um marco para o crescimento do mercado de biometano. O setor de biogás se prepara para participar da concorrência. Além da estatal, a Shell também começou as negociações para atender ao mandato.