Renováveis

Shell freia desenvolvimento de eólicas offshore no mundo e pausa projeto de hidrogênio no Brasil

Petroleira anglo-holandesa vai redefinir estratégia global para o hidrogênio após conclusão de projeto na Holanda

Cristiano Pinto da Costa, presidente da Shell, em entrevista ao estúdio eixos durante a ROG.e no Rio, em 25/9/2024 (Foto Vitor Curi/eixos)
Presidente da Shell, Cristiano Pinto da Costa, durante entrevista ao estúdio eixos na ROG.e 2024 | Foto Victor Curi/eixos

A Shell Brasil pausou o projeto de pesquisa e desenvolvimento de uma planta-piloto de hidrogênio verde no Porto do Açu, no Norte fluminense, em meio à interrupção global de novas iniciativas nesse segmento pela companhia fora da Europa. A empresa também está desacelerando os projetos de eólicas offshore no mundo, devido às dificuldades da cadeia de suprimentos.  

Segundo o CEO da Shell Brasil, Cristiano Pinto da Costa, o grupo decidiu concentrar os esforços na área de hidrogênio no desenvolvimento de uma planta na Holanda, antes de definir a estratégia global para novos projetos. 

A iniciativa no Porto do Açu, anunciada em 2022, tinha previsão de entrada em operação em 2025, com um eletrolisador com capacidade de 10 megawatts (MW), abastecido pela energia elétrica da rede. 

“A estratégia global é: ao invés de sair abrindo cinco, dez, quinze frentes no mundo,  concentrar nas frentes que já foram abertas, terminar a construção dessa planta de hidrogênio, botar o negócio para funcionar, aprender com os erros e com os acertos”, disse o CEO em conversa com jornalistas no Rio de Janeiro nesta terça-feira (07/1). 

Fornecedores são entrave na Europa

O projeto da companhia em curso na Europa prevê a instalação do maior eletrolisador do mundo, com 200 megawatts (MW) de capacidade, no Porto de Roterdã, com capacidade para entregar 60 mil quilos de hidrogênio renovável por dia. 

A empresa, no entanto, enfrentou dificuldades para fechar contratos de fornecimento de longo prazo, devido aos custos, e optou por usar a produção para descarbonizar as próprias atividades. 

“Quem está fora do setor acha que é mais fácil desenvolver esses projetos do que a realidade demonstra”, disse Costa. 

Eólica offshore esbarra em alta dos custos

Na área de geração de energia eólica offshore, a companhia também escolheu desacelerar o desenvolvimento de novos projetos, devido ao aumento dos custos e às dificuldades na cadeia de fornecimento. 

“O custo da produção da eólicas offshore globalmente cresceu nesses últimos anos e, naturalmente, vários investidores decidiram dar uma parada, uma repensada, e a Shell também entrou nessa”, afirmou o CEO. 

No Brasil, a companhia chegou a fechar um acordo de cooperação com a Eletrobras em 2022 na área. 

Na mesma época, a Shell também chegou a dar entrada no licenciamento ambiental junto ao Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e Recursos Naturais (Ibama) de seis projetos de eólicas offshore, com potencial de 17 GW de potência, nos estados do Piauí, Ceará, Rio Grande do Norte, Espírito Santo, Rio de Janeiro e Rio Grande do Sul.

Segundo Costa, entretanto, a companhia não tem nenhum projeto de eólicas offshore em estudo no Brasil no momento. 

“Nos últimos anos o custo para desenvolver o projeto cresceu demais. E, quando se coloca isso tudo em contexto, hoje o Brasil tem outras fontes de energia que, na nossa opinião, são mais competitivas nesse momento do que a offshore”, disse. 

Em meio à reorganização global nas iniciativas em novas fontes de energia, em 2023 a Shell anunciou a intenção de manter a produção global de petróleo em 1,4 milhão de barris/dia até o final da década. 

“É natural você testar novas tecnologias, avançar, encarar as dificuldades, ter que dar um passo para trás, um passo para o lado, estudar de novo, voltar. Por isso que eu volto sempre no ponto: quando eu falo de transição energética, acho que é um grande erro assumir que transição energética é uma coisa ou a outra. Na verdade, uma transição energética justa é feita com segurança energética”, afirmou o executivo. 

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