RIO – A meta do Acelerador da Transição Industrial (ITA, em inglês), iniciativa lançada na COP28, nos Emirados Árabes, com parceria do Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (MDIC), é que os projetos brasileiros de hidrogênio verde e derivados – apoiados pela plataforma – alcancem a decisão final de investimento (FID, na sigla em inglês), até a COP30.
Marcada para novembro de 2025 em Belém, no Pará, a cúpula climática da ONU será presidida pelo Brasil, que pretende colocar foco na agenda de financiamento para transição em economias emergentes ao longo do ano que vem.
“Até a COP30 esperamos anunciar que vários dos projetos que estamos apoiando chegaram à decisão final de investimento e também revelar uma nova onda de projetos no Brasil”, afirma Faustine Delasalle, diretora executiva do ITA, em entrevista à agência eixos.
“Gostaríamos muito que a descarbonização da indústria fosse considerada um tópico importante na COP30 […] Ao sair da COP29, as manchetes diziam que havia sido uma oportunidade perdida para a agenda de descarbonização da indústria. Queremos evitar que isso aconteça em Belém e garantir que a descarbonização do setor tenha destaque”, completa.
Recentemente, o ITA anunciou a inclusão de três novos empreendimentos brasileiros de produção de hidrogênio verde e derivados em seu Programa de Apoio a Projetos – European Energy, Fortescue e Green Energy Park se juntaram à Atlas Agro. Juntos, eles somam mais de US$ 9,5 bilhões em investimentos previstos.
Entre os projetos anunciados, destacam-se iniciativas voltadas à produção de amônia e metanol verdes, que apresentam maturidade para avançar rapidamente para a fase de implementação – um dos critérios da plataforma.
Outros critérios incluem a relevância setorial, escala comercial, potencial de descarbonização e utilização de tecnologias inovadoras.
Delasalle explica que a plataforma tem o objetivo de destravar os desafios que impedem os empreendimentos a chegarem ao FID.
Um dos trabalhos é estimular a demanda doméstica e de exportação, priorizando produtos verdes como fertilizantes, amônia, HBI (ferro-esponja) e combustível sustentável de aviação (SAF). Além disso, o ITA identifica possíveis barreiras regulatórias e fontes de financiamento.
“Trabalhamos com os desenvolvedores de projetos para entender quais são as barreiras que eles enfrentam para ter confiança suficiente para prosseguir com o projeto e garantir o financiamento privado”, conta a diretora.
Vantagem competitiva
Segundo Delasalle, esses investimentos aproveitam a vantagem competitiva do Brasil na produção de hidrogênio verde e atendem à crescente demanda por commodities verdes nos mercados nacional e internacional.
Ela pontua que o país, além da abundância de recursos naturais em termos de energia renovável, bioenergia e minerais críticos, tem uma importante base industrial e políticas públicas em direção à industrialização verde, e cita o Programa Nova Indústria Brasil.
“A combinação de ambos os recursos naturais, uma forte base industrial pré-existente e a liderança do governo realmente criaram as condições para que nos interessássemos em trabalhar no Brasil e desenvolver nossa parceria com o MDIC”.
Contudo, na avaliação da diretora, construir novas plantas industriais verdes no Brasil será mais ágil do que descarbonizar as existentes.
“Uma dimensão é como descarbonizar a base industrial existente. Outra dimensão é como desenvolver novas plantas industriais verdes que se baseiam nas vantagens competitivas do Brasil. A segunda conversa provavelmente será muito mais rápida do que a primeira”, comenta.
Ainda assim, Delasalle comenta que o ITA também está comprometido em trabalhar com o governo brasileiro para estimular tanto a oferta quanto a demanda por hidrogênio verde e energia limpa, a exemplo do aço, cimento e alumínio – que hoje estão sujeitos ao Mecanismo de Ajuste de Carbono nas Fronteiras (CBAM) da União Europeia.
“Estamos discutindo com nossos interlocutores no governo brasileiro sobre medidas que possam estimular a demanda”.
O Sul Global e as barreiras verdes
A diretora também enxerga o CBAM como uma oportunidade para a indústria brasileira – hoje considerada uma barreira protecionista pelos países que compõem os Brics.
Segundo ela, caso seja implementado adequadamente, o CBAM pode criar um mercado para commodities verdes produzidas no Brasil. É necessário, porém, ampliar o debate sobre o mecanismo entre as diversas partes.
“Precisamos de mais diálogos entre os participantes europeus e os participantes de diferentes mercados emergentes para entender como os produtores verdes em países como o Brasil ou no Oriente Médio podem se beneficiar da CBAM”, comenta.
A diretora lembra que os países do Sul Global têm liderado uma onda de projetos industriais verdes, seja pela disponibilidade recursos naturais para produção de energias renováveis seja pela maior confiança de investidores nestas regiões.
“Está relacionado ao fato de que há vários países emergentes e em desenvolvimento que realmente têm vantagens competitivas para produzir energia limpa e, portanto, atraem atividades com uso intensivo de energia limpa que exigirão energia limpa no futuro”, diz.
“Mas também mostra uma confiança cada vez maior das empresas e dos governos da América Latina, Índia e Ásia de que eles podem buscar a industrialização verde como um impulsionador do desenvolvimento econômico”, completa.
Para Delasalle, um obstáculo comum é o alto custo de financiamento, intensificado pelas altas taxas de juros, como no Brasil.
“O financiamento concessional é realmente essencial para reduzir a taxa de juros e trazer a competitividade da indústria pesada em economias emergentes”.