Alternativas sobre a mesa

Sergipe cogita relicitar Sergas caso negociação sobre revisão do atual contrato de concessão não avance

Agrese recomenda alternativas ao governo estadual, em caso de judicialização da revisão de cláusulas da atual concessão

Fábio Mitidieri, governador de Sergipe, na Onshore Week 2023, em Maceió/AL (Foto Gustavo Costa/eixos)
Fábio Mitidieri (PSD) é governador de Sergipe | Foto Gustavo Costa/eixos

RIO – A Agrese, agência reguladora de Sergipe, recomendou que o governo estadual relicite a Sergas ou até mesmo crie uma 2ª área de concessão de gás canalizado no estado, caso não chegue a um acordo com a Mitsui sobre a revisão dos termos econômicos do contrato da distribuidora.

governo local vê necessidade de atualizar o contrato, do início da década de 1990, à atual realidade do mercado, como forma de aumentar a competitividade do gás no estado. E abriu um debate, este ano, sobre uma possível revisão da taxa de retorno dos investimentos da distribuidora.

A Câmara Técnica de Gás Canalizado (Camgás) da Agrese publicou nesta quinta (12/12) uma nota técnica (na íntegra em .pdf) sugerindo ao governo de Fábio Mitidieri (PSD) a assinatura de um termo aditivo com mudanças em uma série de cláusulas econômicas do atual contrato de concessão atual.

E cita o aumento do prazo da concessão como uma eventual compensação.

O documento sugere, dentre outras alterações:

  • a substituição da taxa de remuneração fixa de 20% dentro do modelo vigente de cost plus pelo WACC no modelo price cap;
  • regime de transição por meio da redução gradual da taxa de retorno em até cinco anos
  • inclusão de fator de eficiência para revisões tarifárias;
  • adoção de 100% (e não mais 80%) do volume no cálculo da margem;
  • adoção de conta gráfica;
  • e exclusão da remuneração do imposto de renda

O regulador sergipano cita, na nota técnica, que o atual contrato de concessão da Sergas, na forma como está configurado, “é incapaz de produzir os resultados esperados no que se refere a modicidade tarifária, expansão de rede, equilíbrio de mercado” e por consequência o desenvolvimento do potencial tecnológico e econômico” de Sergipe.

A taxa de retorno de 20%, conclui, traduz-se em um “prêmio à ineficiência” e “um limitador à expansão da rede”. Hoje, nove dos 75 municípios do estado são abastecidos pela Sergas.

Entenda os modelos Cost plus e Price cap

Cost plus: É uma metodologia mais tradicional. A tarifa é calculada com base nos custos necessários para prestação do serviço acrescida de uma taxa de retorno preestabelecida e que garante a rentabilidade para a concessionária.

Visa a proporcionar um estímulo maior à expansão da rede. É, nesse sentido, um modelo mais voltado para mercados em desenvolvimento, com grande potencial de expansão. Permite reduzir o risco do concessionário, já que os custos podem ser repassados para o mercado.

Price cap: Nessa metodologia, define-se uma tarifa máxima a ser cobrada pelo concessionário durante um ciclo tarifário. A empresa assume mais riscos, mas é mais incentivada a obter ganhos de eficiência, já que se apropria de parte da redução de custos.

É mais aplicada em mercados mais desenvolvidos e maduros. Exige maior maturidade do regulador, na análise detalhada das projeções que definem as tarifas.

Risco de judicialização

A Agrese reconhece, no entanto, o risco de judicialização sobre a questão. E coloca, sobre a mesa, alternativas:

  • constituir uma 2ª concessionária estadual e leiloá-la, para atuação em áreas atualmente não atendidas pela Sergas;
  • venda de 100% das ações da Sergas numa operação conjunta entre o estado de Sergipe e sócios, seguida de nova licitação para a concessão (com o contrato atualizado);
  • e a declaração de nulidade do contrato da Sergas, sob o argumento legal de que a atual concessão, da década de 1990, não foi formalizada por meio de devido processo licitatório.

O estado poderia, assim, assumir o controle da concessionária e iniciar o leilão após a estruturação de um novo contrato.

Próximos passos

Dentro da iniciativa de revisão dos termos do atual contrato de concessão, o próximo passo será a definição da modelagem do aditivo ao contrato. A Agrese recomenda que o estado inicie a discussão do assunto com os demais acionistas da Sergas.

Apenas a Mitsui deve se manter no capital ao fim do rearranjo societário em curso que levará o estado a ampliar sua participação na empresa.

Relembre: Sergipe chegou a um acordo com a Norgás (Compass/Mitsui) para ampliar a participação estatal dos atuais 17% do capital total da distribuidora para 58,5%. 

A Mitsui, por sua vez, manterá sua participação direta de 41,5% na empresa.

O acordo foi homologado recentemente na Justiça. É um desdobramento de um caso judicializado pelo governo estadual em torno da venda da fatia da Compass na Norgás para a Infra Gás e Energia (comprada, posteriormente, pela Energisa)

Sergipe acusou a Compass (e a Norgás) de falhas no rito para o exercício dos direitos de preferência na operação e conseguiu, por liminar, barrar a venda das ações da Sergas para a Infra Gás (e por consequência, para a Energisa).

O regulador entende que, caso a proposta de revisão de contrato da Sergas avance, a assinatura do novo termo aditivo seja precedida de Análise de Impacto Regulatório – que permitirá verificar, por exemplo, a necessidade de compensações no prazo de concessão para reparação de eventuais perdas.

O regulador sugere a contratação de consultoria para o estudo de impacto regulatório

A agência cita a recomendação da AIR ao rebater as críticas recebidas – sobretudo da Sergas e das distribuidoras de uma forma geral – sobre a revisão do contrato.

A atualização do contrato, com consequente redução da taxa de retorno da concessão, é um pleito recorrente entre os consumidores industriais e aos produtores. As distribuidoras, por sua vez, pregam respeito às condições contratuais vigentes – o contrato de concessão em Sergipe vence em 2044. Eixos explica:

A repercussão do caso

O debate em Sergipe é um microcosmo da discussão sobre o modelo regulatório das distribuidoras de gás do Brasil como um todo. Afinal, as regras que regem a remuneração da Sergas são as mesmas da maioria das concessionárias de gás canalizado no país.

A expectativa – entre agentes do mercado e do próprio governo local – é que o caso sergipano abra as portas para debates na mesma direção em outros estados.

O assunto chegou recentemente ao Rio Grande do Sul. Em novembro, o Conselho Superior da Agergs recomendou ao governo estadual de Eduardo Leite (PSDB) a revisão e adequação do contrato de concessão da Sulgás “ao atual arcabouço legal e normativo regulatório e à realidade do mercado de gás canalizado” no Rio Grande do Sul.

Na controversa Revisão Tarifária da Sulgás este ano, aliás, a Agergs decidiu pela exclusão dos tributos sobre a renda do cálculo do custo de capital, um dos componentes da margem da concessionária.

É justamente um dos pontos que a Agrese, em Sergipe, recomendou que seja revisto na discussão sobre a revisão do contrato.

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