Biden sinaliza abrir mão de uma convivência cordial e profícua, diz Bolsonaro

Candidato à presidência dos EUA disse que poderia impor sanções econômicas ao Brasil caso o país "não pare de devastar a Amazônia"

Brasília - DF, 29/09/2020) Cerimônia de Sanção do Projeto de Lei 1.095/2019.

Fotos: Clauber Cleber Caetano/PR
Brasília - DF, 29/09/2020) Cerimônia de Sanção do Projeto de Lei 1.095/2019. Fotos: Clauber Cleber Caetano/PR

O presidente Jair Bolsonaro  classificou como “desastrosa” e “lamentável” a declaração do candidato democrata à presidência norte-americana, Joe Biden, que afirmou durante o debate presidencial desta terça (29) que poderia impor sanções econômicas no valor de US$ 20 bilhões ao Brasil caso o país não pare de “devastar a floresta” amazônica.

Bolsonaro afirmou no Twitter que Biden “sinaliza claramente abrir mão de uma convivência cordial e profícua” ao fazer tal declaração e frisou que a soberania brasileira sobre a Amazônia “é inegociável”.

O presidente afirmou que seu governo está realizando ações sem precedentes para proteger a Amazônia”. Ele ressaltou ainda sua boa relação com o governo de Donald Trump ao dizer que a cooperação com os EUA é bem-vinda, inclusive para projetos de investimento sustentável. “Que criem emprego digno para a população amazônica, tal como tenho conversado com o Presidente Trump”, destacou.

Dados do  Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE), contudo, mostram que a Amazônia Legal teve 1.359 km² sob desmatamento em agosto. Até o dia 9 de setembro, foram registrados 56.425 focos queimadas na Amazônia, alta de 6% na comparação com igual período de 2019.

Essa é a primeira vez em que Bolsonaro critica abertamente o candidato democrata que lidera a corrida para a eleição de novembro nos Estados Unidos. A preocupação com as mudanças climáticas ganharam destaque na corrida presidencial com os incêndios florestais de grande dimensão que atingem a costa Oeste do país, incluindo a Califórnia, estado mais rico dos EUA.

Durante o debate de ontem, Biden afirmou que “a floresta Amazônica no Brasil está sendo destruída” e prometeu, se eleito, liderar um esforço internacional para destinar US$ 20 bilhões ao Brasil para que pare com o desmatamento na região. Caso contrário, afirmou que o país “vai enfrentar consequências econômicas significativas”, sinalizando a adoção de sanções econômicas contra o Brasil.

Também pelo Twitter o ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, disse que a conversão do valor em reais seria “quase 40 vezes maior” que o total de recursos do Fundo Amazônia, ou cerca de 120 bilhões de reais. Salles fez o comentário satirizando uma matéria que informava que o Fundo Amazônia recebeu certa de R$ 3,9 bilhões desde 2009.

Resposta contra desmatamento pode atingir etanol

As críticas à postura do governo brasileiro no combate aos desmatamentos na Amazônia ganharam destaque nas falas de líderes mundiais em agosto do ano passado, quando o presidente francês Emmanuel Macron convocou governantes dos países do G7 para discutir o avanço das queimadas na região, classificado por ele como uma “crise internacional”.

Na ocasião, o presidente da França já indicava que seu país poderia se opor à assinatura do acordo entre União Europeia e Mercosul por conta da ameaça que as queimadas impõem ao clima e ao cumprimento das metas do Acordo de Paris.

Este mês o primeiro-ministro francês, Jean Castex, afirmou que os compromissos ambientais da França e da Europa impedem a assinatura do acordo. Isso depois de o governo francês divulgar um estudo apontando que maior abertura do mercado europeu à carne e cana-de-açúcar e ao etanol pode elevar o desmatamento na América do Sul.

Também este mês o governo brasileiro comemorou o anúncio feito pela Secretaria de Agricultura do governo dos Estados Unidos (USDA, na sigla em inglês), que definiu uma cota adicional de 80 mil toneladas de açúcar brasileiro que poderá entrar no mercado norte-americano com tarifa reduzida. A cota adicional, fruto de uma negociação que favorece também a entrada do etanol norte-americano no Brasil, no entanto, só valerá até outubro. Depois desse prazo, uma nova negociação deve ser retomada com o futuro governo eleito dos Estados Unidos.

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