Maior descoberta de gás na Colômbia

Petrobras ainda não tem planos para trazer gás descoberto na Colômbia para o Brasil, diz diretora

Estatal confirma maior descoberta de gás do país vizinho, mas exportação ainda depende de mais exploração

Sylvia Anjos, diretora de Exploração e Produção da Petrobras (Foto Divulgação)
Sylvia Anjos é diretora de Exploração e Produção da Petrobras | Foto Divulgação

RIO – A Petrobras e a Ecopetrol anunciaram nesta quinta (5/12) que a conclusão da perfuração do poço Sirius-2, no offshore da Colômbia, confirmou a maior descoberta de gás natural da história do país vizinho.

A expectativa das empresas é produzir cerca de 13 milhões de m3/dia por dez anos, a partir do fim desta década.

A diretora executiva de Exploração e Produção da Petrobras, Sylvia Anjos, afirmou que os volumes descobertos até o momento serão destinados ao mercado colombiano e que, para trazer gás ao Brasil no futuro, ainda serão necessários mais investimentos exploratórios e a confirmação de novas descobertas.

Com a avaliação dos resultados da perfuração, o consórcio, operado pela Petrobras International Braspetro B.V. (44,44%) e a Ecopetrol (55,56%), confirmou a existência de volumes superiores a 6 trilhões de pés cúbicos (TCF) in place.

Esse volume, segundo as empresas, pode triplicar as reservas atuais da Colômbia. Para efeitos de comparação com ativos no Brasil, segundo a Petrobras, o volume descoberto em Sirius equivale a três vezes a reserva de Mexilhão, na Bacia de Santos; mas é menor do que os volumes de Sergipe Águas Profundas (Seap), por exemplo.

Ao todo, as companhias vão investir US$ 2,9 bilhões no desenvolvimento da produção da descoberta. A previsão é começar a produção num prazo de três anos após recebimento de todas as licenças ambientais e confirmação da viabilidade comercial da descoberta – etapas que devem ocorrer até 2027.

Gás para a Colômbia

O país sulamericano é deficitário em gás natural e o projeto Sirius está sendo concebido com foco no abastecimento interno, sobretudo o mercado não-termelétrico.

“Essa descoberta nós desejamos que fique toda na Colômbia. Não há planos da Petrobras de exportar esse gás”, disse Sylvia Anjos, em coletiva de imprensa. 

O gerente geral da Petrobras na Colômbia, Rodrigo Costa Lima e Silva, destacou que, uma vez confirmadas novas grandes descobertas no local e garantida a autossuficiência colombiana, a exportação, inclusive para o Brasil, via gás natural liquefeito (GNL) poderá se tornar uma realidade no futuro.

“Não podemos falar em exportação se as necessidades da Colômbia não estão supridas, mas as outras oportunidades exploratórias podem, se tivermos êxito em proporções similares, abrir justamente o potencial de a Colômbia ter liquefação para exportação de gás, incluindo para o Brasil, que é um dos mercados que podem se integrar com a Colômbia”, disse Lima e Silva.

“Necessitamos de gás também no Brasil, mas Sirius é para a Colômbia”, completou Sylvia Anjos.

Petrobras vai em busca de mais gás

Petrobras e Ecopetrol preveem investir mais US$ 1,2 bilhão em exploração, na perfuração de novos poços dentro do mesmo bloco de Sirius (o bloco GUA-OFF-0).

Os investimentos já estão contemplados no novo Plano de Negócios 2025-2029 da Petrobras, que prevê US$ 7,9 bilhões em exploração, com foco no offshore brasileiro.

A expectativa é perfurar dois poços na sequência em 2025. Assim, disse Sylvia, será possível ter uma noção mais clara sobre novos volumes de gás que eventualmente possam “sobrar para o Brasil”.

Após colocar em operação o Rota 3, em novembro, a Petrobras tem mais dois grandes projetos de gás em sua carteira no Brasil: Raia (Bacia de Campos), em 2028, e Seap previsto para entrar em operação a partir de 2030.

Ao mesmo tempo em que tenta destravar o licenciamento na Margem Equatorial, a Petrobras mira no exterior oportunidades de descobertas de novas fronteiras de gás.

A companhia avalia retomar investimentos na Bolívia e, em setembro, assinou um memorando de entendimentos com a argentina YPF para analisar o desenvolvimento conjunto de negócios em exploração e produção no país vizinho.

“Os investimentos na Colômbia não são excludentes com Vaca Muerta e Bolívia”, disse a executiva.

Costa Lima destaca que o gás descoberto na Colômbia, não associado, casa com a demanda brasileira por flexibilidade.

“O conceito de flexibilidade no Brasil é fundamental. Quando olhamos o mercado termelétrico brasileiro e as térmicas na ponta, com flexibilidade elevada, termos a possibilidade de diversas fontes – de gás associado, não associado, combinado com regaseificação – é fundamental para prover essa complexidade que é o sistema energético brasileiro”, disse.

“Se tivermos sucesso [na continuidade da exploração na Colômbia], é outra flexibilidade, com possibilidade de integração com mercado gasileiro via GNL”, complementou.

Licenciamento é o maior desafio

O poço Sirius-2 começou a ser perfurado em junho e está localizado dentro da área do bloco marítimo GUA-OFF-0, a 77 km de Santa Marta (capital do departamento de Magdalena, no norte do país), em lâmina d’água de 830 metros.

Sylvia Anjos destacou que o principal desafio para o desenvolvimento do ativo é o licenciamento ambiental.

Este ano, a Petrobras chegou a sofrer um revés na Justiça colombiana, que determinou a interrupção da perfuração do poço Uchuva-2, por falhas na consulta à comunidade indígena local sobre a operação. Posteriormente, a decisão foi derrubada em segunda instância.

Rodrigo Costa Lima conta que, para o projeto de desenvolvimento de Sirius, a petroleira já iniciou as consultas prévias às comunidades – etapa que antecede o licenciamento em si.

A expectativa, segundo ele, é ter todas as licenças em mãos em 2026 – o que permitiria que o gás começasse a chegar no mercado em 2029.

O consórcio também espera acelerar os trâmites de declaração de comercialidade da descoberta.

Sirius não terá plataforma

Ao ser questionada sobre os riscos de atraso no desenvolvimento do projeto, a exemplo do que vem acontecendo em Sergipe, Sylvia Anjos destacou que Sirius não terá uma plataforma.

A opção foi por um modelo subsea to shore – que consiste na conexão das instalações submarinas dos poços diretamente à unidade de processamento, em terra.

Esse conceito, de acordo com Sylvia, permitirá a redução de custos e de prazos para implementação do projeto.

As empresas se preparam para iniciar, agora, as atividades de aquisição de dados meta oceânicos – que, juntamente com informações ambientais, são essenciais para a instalação do gasoduto para o transporte de gás natural do campo para a unidade de tratamento de gás em terra, bem como para a instalação de sistemas de produção no fundo do mar.