NESTA EDIÇÃO. Políticas de mandato e metas corporativas devem levar demanda a superar a oferta de combustíveis sustentáveis de aviação em 2024.
No Brasil, a discussão sobre regulamentação do Combustível do Futuro mira incentivos para SAF.
País também precisa superar resistências aos seus biocombustíveis para abastecer mercado internacional.
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Com a demanda em alta e a oferta limitada, o mercado de combustíveis sustentáveis de aviação (SAF, em inglês) vai mostrando a necessidade de incentivos à produção em escala, para dar conta dos mandatos que estão sendo estabelecidos pelo mundo.
Mapeamento da empresa de tecnologia IDTechEx aponta que a capacidade global de produção de SAF aumentará para mais de 2 milhões de toneladas até o final de 2024, mas demanda deve superar esse crescimento devido às políticas de mandatos e compromissos voluntários de companhias aéreas, além do atraso no desenvolvimento de projetos.
Na União Europeia, a Iniciativa de Aviação ReFuelEU exige uma mistura de 2% de SAF até 2025, aumentando para 6% até 2030, 34% até 2040 e, finalmente, 70% até 2050. Já os Estados Unidos definiram meta de 3 bilhões de galões até 2030 e 35 bilhões de galões até 2050.
São questões que estão no radar da indústria e do governo brasileiros, que discutem a regulamentação da lei do Combustível do Futuro.
A partir de 2027, as companhias aéreas que operam no país precisaram reduzir 1% das suas emissões, substituindo uma parcela do seu querosene fóssil.
O início do mandato no Brasil coincide com a entrada em vigor do Corsia, um acordo da indústria internacional para obrigar a compensação de emissões de carbono para voos internacionais, com ênfase no uso de SAF.
“Temos uma preocupação muito grande de, na regulamentação, trazermos formas de financiamento para o setor. Discutimos essa semana a questão de incentivos tributários para que possamos fazer a escala da produção”, diz Mariana Pescatori, secretária-executiva do Ministério de Portos e Aeroportos.
Ela participou, na quarta (27/11), de um workshop organizado pelo Ministério de Minas e Energia (MME) para discutir os próximos passos do Combustível do Futuro.
“O que nos vai ser exigido é trazer para o setor mecanismos de financiamento para que possamos efetivamente escalar a produção e tornar isso viável”, comenta.
No fim do dia, a preocupação deve ser com os custos ao consumidor.
Para Jurema Monteiro, presidente da Associação Brasileira de Empresas Aéreas (Abear), que representa as maiores companhias de aviação do Brasil, é preciso equilibrar a balança para descarbonizar sem tornar as viagens aéreas proibitivas. O que requer financiamento e incentivos.
“O combustível é o item que mais pesa nos custos de uma empresa aérea, e se pesa no custo, pesa no nosso bolso como passageiro. Não queremos que isso siga assim, e encontrar mecanismos para que tenhamos preços mais competitivos e o SAF é um desafio”. Leia na eixos
Feito no Brasil
A aviação global contribui com 2,5% das emissões globais de CO2 e 12% das emissões de transporte. É também um dos setores de transporte de crescimento mais rápido: a Icao (Organização da Aviação Civil Internacional) projeta que as emissões do setor podem triplicar até 2050 em relação aos níveis de 2015 se não houver uma mudança de combustível.
O SAF tem potencial de reduzir em até 80% a intensidade de carbono das viagens aéreas, se demandar grandes mudanças nos motores e infraestruturas de abastecimento – ao contrário de soluções como hidrogênio e eletrificação.
Atualmente, toda a produção de SAF disponível é produzida a partir da rota HEFA (ésteres e ácidos graxos hidroprocessados) que utiliza óleo de cozinha usado, gorduras animais e óleos vegetais como matéria-prima.
E embora já esteja no limite, devido à competição pelo óleo para outras indústrias, mais de 80% da capacidade de SAF anunciada até 2030 é HEFA.
“Mesmo com toda a capacidade produtiva [de SAF], de hoje e projetada, ainda assim a aviação não vai conseguir cumprir os objetivos de longo prazo”, aponta Marcela Anselmi, assessora Internacional e de Meio Ambiente da Agência Nacional de Aviação Civil (Anac).
É neste cenário que o Brasil desponta como um potencial fornecedor de combustíveis sustentáveis. Mas precisa vencer barreiras aos seus produtos agrícolas.
“Se começarmos essa discussão já com barreiras, esse mercado não nasce”, destaca.
“É necessário que tenhamos uma discussão técnica, e que nos fóruns internacionais não permitamos que isso se torne uma pauta comercial de competitividade. O Brasil tem como entregar de maneira mais eficiente esse biocombustível. Temos vantagem comparativa e precisamos que não haja uma discussão baseada em quem ganha mais ou menos, porque assim todo mundo perde”, explica a Anselmi.
Cobrimos por aqui
Curtas
Ocidentais no caminho. Em artigo para o Guardian, Mukhtar Babayev, presidente da COP29, relata as dificuldades de chegar a um acordo para o financiamento climático que atendesse à demanda de países pobres. “Estou feliz por termos conseguido um acordo – mas as nações ocidentais impediram um acordo muito melhor”. Ele afirma que sua equipe de negociação tentou em vão aumentar o apoio ao sul global e que lições devem ser aprendidas antes da próxima cúpula no Brasil.
IA na transição. A inteligência artificial será uma aliada importante na transição energética, sendo importante para ajudar a reduzir custos no setor, na visão do head de relações institucionais da Prio, Chicão Bulhões. Em participação no evento IA e o Futuro da Energia, realizado pela agência eixos na quarta-feira (26/11).
Hidrogênio em MG. O grupo alemão Neuman & Esser (NEA) inaugurou, nesta quarta (27/11), uma nova unidade de fabricação de geradores de hidrogênio de baixo carbono, em Belo Horizonte, Minas Gerais. Com investimento de R$ 70 milhões, a nova unidade espera aumentar a produção de eletrolisadores do tipo PEM em até sete vezes, com capacidade de produzir até 70 MW/ano.
Transição marítima. Combustíveis alternativos podem representar até um quinto do consumo da transportadora AP Moller-Maersk em 2030, como parte de sua meta de atingir zero líquido até 2040. A dinamarquesa consome entre 10 e 11 milhões de toneladas de óleo combustível equivalente por ano, das quais 3% foram combustíveis alternativos no ano passado, conta Emma Mazhari, vice-presidente e chefe de mercados de energia. (Reuters)
Questão de saúde. Estudo conjunto da Universidade Federal de Minas Gerais e da Universidade de Bonn mostra relações entre o impacto de medidas conservacionistas na Amazônia e a saúde das populações locais. Os pesquisadores descobriram que a redução das queimadas levava a uma queda proporcional no número de hospitalizações e mortes por problemas respiratórios. (DW)
Resíduos sólidos. Quase todos os municípios brasileiros (99,8%) informaram ter serviços de limpeza urbana e manejo de resíduos sólidos em 2023, indicando uma ampla cobertura territorial, aponta o IBGE. Por outro lado, 31,9% desses municípios ainda utilizavam os lixões a céu aberto como disposição final dos resíduos – considerada a pior maneira. (Agência Brasil)