diálogos da transição

Brasil lança plano com 100 recomendações para eletromobilidade

Documento do MDIC e Cepal busca facilitar a atração de investimentos para a introdução de ônibus elétricos nas cidades

Ônibus 100% elétrico Attivi Integral da Marcopolo, em demonstração no 6° Simpósio SAE Brasil de Mobilidade Urbana, em 11/9/2024 (Foto Divulgação)
Ônibus 100% elétrico Attivi Integral da Marcopolo | Foto Divulgação

NESTA EDIÇÃO. Plano nacional pretende nortear políticas públicas para transporte coletivo urbano.

Foco é desenvolver cadeia produtiva nacional de componentes e baterias.

E atrair investimentos privados para introdução de ônibus elétricos nas cidades.


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Incentivo à indústria nacional, desenvolvimento de novos negócios e reciclagem de baterias são algumas das recomendações do Plano Nacional de Ônibus Elétricos (.pdf) lançado na última semana pelo Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio (MDIC) e a Comissão Econômica para a América Latina (Cepal).

O documento é resultado de um ano de trabalho com dezenas de organizações setoriais e deverá nortear futuras políticas públicas para eletrificação do transporte urbano. 

Parte da premissa de que a ausência de um plano nacional dificulta a atração de investimentos para a introdução de ônibus elétricos nas cidades. 

“O Brasil já possui um histórico de protagonismo na produção global de ônibus, sendo um dos principais produtores mundiais, com forte presença no mercado latino-americano. A transição para a eletrificação dos veículos é essencial para que o país mantenha e expanda sua liderança no setor, exigindo o desenvolvimento de novas competências, adaptação de processos produtivos e intensificação das atividades de pesquisa e inovação”, explica o estudo.

São 100 recomendações, elaboradas a partir da identificação do grau de maturidade tecnológica de cada parte de cada componente do ônibus elétrico, considerando a prontidão para os próximos cinco, dez e 15 anos.

No topo da lista está a definição de metas de nacionalização de componentes. A proposta é atingir índice de nacionalização de 80% dos ônibus elétricos em até 10 anos, fortalecendo a produção local e reduzindo a dependência de importações. 

Inclui a nacionalização progressiva de baterias e a padronização de plugues e conectores.

Para isso, serão necessários incentivos fiscais e atração de empresas para produção local, inclusive com a oferta de condições de crédito favoráveis para companhias interessadas em fabricar componentes que hoje são importados.

Programas de fiscalização de emissões, capacitação de trabalhadores, plataforma de exportação e novos negócios são outras recomendações para viabilizar a inserção dessa nova tecnologia na frota, pensando também em como melhorar o serviço de transporte público para os usuários e absorver as pessoas que já trabalham no setor.


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ciclo de vida de baterias e componentes também está inserido no trabalho. Uma das recomendações pede a promoção da economia circular, observando a reutilização de componentes e matéria-prima, incentivando práticas que reduzam o impacto ambiental e o desperdício na cadeia produtiva. 

No caso das baterias, defende a acessibilidade do parâmetro do estado de saúde nas baterias para facilitar o gerenciamento do ciclo de vida das baterias em primeira vida (em até 10 anos), além de incentivos de P&D para promover a reciclagem de baterias alinhados com políticas públicas de economia circular. 

Com uma frota de 107 mil ônibus, o Brasil tem atualmente cerca de 350 veículos eletrificados no transporte público. Renovar toda essa frota levaria 13 anos, a um custo de cerca de R$ 214 bilhões, segundo o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES).

Instituições de fomento como BNDES e Finep são elencadas no plano como possíveis financiadoras de programas de pesquisa e desenvolvimento para desenvolver a cadeia produtiva nacional.

O banco de desenvolvimento já está de olho nesse mercado e trabalha em uma carteira de projetos para as 21 regiões metropolitanas do país.

Sede da COP30 em 2025, Belém recebeu em setembro 40 ônibus elétricos para integrar a frota que faz o transporte público da região metropolitana.

O governo do Pará encomendou veículos fabricados pela brasileira Eletra para integrar o BRT da capital. Com investimentos de R$ 120 milhões, a aquisição faz parte do programa para descarbonizar o estado.

Também em fase de transição da frota, a maior metrópole do país começou a substituir ônibus a diesel por elétricos em 2023. 

Em São Paulo, a nova legislação de mudanças climáticas prevê a substituição de cerca de 15 mil veículos. Até o final de 2024, a meta da prefeitura era ter 20% da frota (2,6 mil ônibus) composta por eletrificados, no entanto, em setembro, o número de veículos em circulação era 207.

Em março de 2024, a Câmara Municipal do Rio promulgou a lei 8.264/24, estabelecendo que os ônibus que realizam transporte coletivo da cidade precisarão ser substituídos gradualmente por veículos elétricos com zero emissão de CO2, até alcançar 100% da frota em 2040.

Entre as diretrizes da lei, está a promoção de políticas públicas que reduzam a emissão de gases do efeito estufa, além da eliminação da dependência de combustíveis fósseis e do investimento em segurança energética. A transição começará pela zona sul.


Do Brasil para a América Latina. Em sua primeira visita ao Brasil, o presidente da montadora chinesa GWM International, Parker Shi, disse que a empresa estuda expansão no mercado brasileiro de veículos elétricos, com a possibilidade de suprir outras regiões da América Latina a partir da produção no Brasil.

Shi se reuniu com o presidente Lula (PT) e o vice e ministro da Indústria, Geraldo Alckmin (PSB), na terça (26/11). A GWM está instalando uma fábrica em Iracemápolis (SP) e espera iniciar a operação em 2025. Com investimento de R$ 10 bilhões, terá capacidade de produzir 30 mil a 45 mil carros por ano, com foco em elétricos e híbridos (inclusive a etanol). 

50 GW fotovoltaicos. A fonte solar fotovoltaica ultrapassou 50 gigawatts (GW) de potência instalada operacional no Brasil, divulgou, nesta terça-feira (26/11), a Absolar. Do total, 33,5 GW são de geração solar própria, por meio de sistemas pequenos e médios, e 16,5 GW são de grandes usinas solares, de acordo com o levantamento.

Financiamento para energia. A Comissão de Finanças e Tributação da Câmara dos Deputados aprovou projeto de lei que obriga o governo a estabelecer diretrizes sobre as fontes de financiamento e as metas de participação dos programas energéticos na matriz energética nacional. O texto ainda precisa ser analisado por outras comissões antes de ir a Plenário.

Se aprovada, a medida será válida para programas específicos, como os de uso do gás natural, do carvão, da energia termonuclear, dos biocombustíveis, da energia solar, da energia eólica, do biogás e do biometano. 

Árvores dando lugar a aterro. A Prefeitura de São Paulo enviou à Câmara Municipal um projeto que prevê a transformação de uma área de preservação ambiental na Zona Leste em aterro sanitário. Para isso, teriam de ser cortadas 10 mil árvores. O local, no entanto, abriga árvores nativas da Mata Atlântica. (G1)

Captura de carbono. Repsol Sinopec e Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS) colocam em operação na próxima quinta (28) um novo equipamento para captura direta de 300 toneladas de CO₂ do ar por ano. O DAC 300TA faz parte do programa NET, sigla para Negative Emissions Technology, que desenvolve soluções para negativar as emissões de atividades industriais, independentemente de sua fonte geradora. O lançamento ocorre em Porto Alegre com visitas ao local da instalação do equipamento e ao laboratório de tecnologias de baixo carbono.