A aplicação de instrumentos do mercado financeiro no mercado livre de energia no Brasil vai ajudar a reduzir os riscos das negociações no país, afirma o chefe de Risco e Análises Estratégicas da N5X, Erick Takarabe.
A companhia pretende estabelecer uma câmara de liquidação e compensação no país com uma contraparte central, o que deve ajudar a fazer uma gestão mais eficiente dos riscos do mercado.
“A gente permitiria o acesso a participantes do mercado financeiro para operarem também dentro do mercado de energia”, diz o executivo.
Para ele, é importante que o mercado livre de energia passe a contar com essa figura da contraparte central, que se interpõe entre os compradores e vendedores, como ocorre no mercado financeiro.
“Na inadimplência de alguns dos lados, ela honra com a parte adimplente”, explica.
A discussão surge num momento em que há rumores de que algumas comercializadoras não estão conseguindo honrar contratos e estariam precisando renegociar vendas.
Segundo Takarabe, hoje as três principais ameaças no ambiente de contratação livre no país são os riscos de mercado, das contrapartes e sistêmico.
O risco de mercado está relacionado à variação dos preços de negociação. Hoje, as cotações baseadas no preço da liquidação das diferenças (PLD), que tem grande flutuação devido à influência de fatores climáticos, já que a maior parte da geração no país vem de usinas hidrelétricas, eólicas e solares.
“A influência do tempo, do clima no fator de risco é muito grande”, diz o executivo.
Além disso, existe ainda o risco entre as contrapartes, que decorre do fato de que hoje a maior parte das negociações no mercado livre são bilaterais.
“Se um quebrar, todas as contrapartes que ele tinha no mercado sofrem também o risco do contrato ficar inválido”, explica.
O cenário leva ainda ao risco sistêmico do mercado, que está relacionado à possibilidade de quebra sucessiva de negociantes, num “efeito dominó”, caso ocorra inadimplência da parte de um agente.
Segundo Takarabe, a criação de uma contraparte central traria uma estrutura de salvaguardas para o mercado, o que garantiria a disponibilidade de recursos em casos de eventuais inadimplências. Os recursos viriam de garantias depositadas pelos negociadores antes de começar a operar.
“No caso de um não honrar e se tornar inadimplente, a contraparte central pode usar essas garantias depositadas para honrar com a parte adimplente”, diz.
Em operação desde junho de 2024, a N5X é uma bolsa para negociação de contratos de energia elétrica no mercado livre. A iniciativa é uma parceria do fundo L4 Venture Builder, apoiado pela B3, e a a Nodal Brazil, do grupo European Energy Exchange (EEX).
Takarabe foi contratado recentemente pela N5X para criar a câmara de compensação dentro da “bolsa de energia”. Ele foi responsável por uma operação similar no mercado financeiro brasileiro, quando ocorreu a união entre a BM&F e a Bovespa, criando a B3.
“Meu grande trabalho foi fazer a modelagem, a definição do sistema de risco, do modelo de risco”, explica.
Segundo o executivo, a criação da contraparte central pode ajudar a atrair instituições financeiras de grande porte para operar no mercado livre de energia no país e dar mais liquidez ao setor.
“Muitos participantes, não só daqui do Brasil, como de fora também, estão interessados em entrar no mercado para prover liquidez. Ter mais participantes para fazer mais giro nesse mercado teria um benefício”, diz.
Um dos próximos desafios para estabelecer a câmara de compensação será a obtenção de licenças de operação, junto aos reguladores, como Comissão de Valores Mobiliários (CVM) e o Banco Central.
“A ideia aqui é a gente conseguir montar uma estrutura, uma funcionalidade muito parecida com a B3. Obviamente com as suas peculiaridades dado esse mercado que é bem específico”, afirma.