diálogos da transição

Mercado de carbono pode ajudar indústria de hidrogênio verde no Brasil

É uma oportunidade para o Brasil produzir commodities verdes e competir com a China

NESTA EDIÇÃO. Precificação do carbono pode tornar hidrogênio de eletrólise mais competitivo.

É uma oportunidade para o Brasil produzir commodities verdes e competir com a China.

E ainda: divergência sobre meta de financiamento na COP29 é de trilhão de dólares.


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A criação do mercado regulado de carbono – aprovado no Senado na quarta (13/11) e enviado para a Câmara – é um mecanismo de preço que pode ajudar a viabilizar a indústria do hidrogênio verde no Brasil, avalia o country manager da Fortescue no Brasil, Luís Viga.

Ele participou nesta quinta (14/11) dos Diálogos da Transição 2024, produzido pelo estúdio eixos. Na pauta, como o hidrogênio pode contribuir para a transição global para longe dos combustíveis fósseis. (Assista no Youtube)

A mineradora australiana está investindo na produção de hidrogênio verde – a partir da eletrólise com energias renováveis – em diversas partes do mundo.

Recentemente, o grupo anunciou a primeira decisão final de investimento (FID) para uma instalação nos Estados Unidos, a Arizona Hydrogen.

No Brasil, a expectativa é anunciar a FID em 2025, na unidade que será instalada no Complexo Industrial e Portuário do Pecém, no Ceará. Este é um dos cinco projetos mais avançados da Fortescue no mundo, de acordo com Viga.

E o mercado de carbono, um passo mais perto de se concretizar, traz mais um sinal positivo para esse tipo de empreendimento.

“É mais um mecanismo em termos de precificação. É importante para dar essa sinalização para o mercado e quem está investido no verde ter o seu retorno”, diz Viga. 

Hoje, a indústria utiliza o hidrogênio cinza, obtido a partir da reforma do gás natural, que tem uma intensidade de carbono de cerca de 10 kgCO2/KgH2. Já o verde pode chegar a intensidades próximas a 1 kgCO2/kgH2, ou menos. 

Na medida em que o carbono terá um custo com o mercado regulado, tecnologias de menor emissão tendem a ganhar competitividade.

“O hidrogênio verde vai ser ajudado, sim, como outros projetos de transição energética, com o mercado de carbono regulado. Existe todo um custo desse carbono, um custo da sociedade, com a nossa saúde ou com os os efeitos climáticos que a gente está experienciando, que tem que ser, de alguma maneira, traduzido”, explica.

Assim como outras tecnologias que começaram mais caras e hoje são competitivas, ele acredita que o hidrogênio pode trilhar o mesmo caminho e alcançar paridade de preço com o fóssil.

“A gente quer competir por preço, num produto premium, e o Brasil traz essas condições, porque tem ventos de qualidade, solar de qualidade, hidrelétrica de qualidade, traz isso tudo junto para formar o mercado competitivo”. 


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O potencial brasileiro para desenvolver a indústria de hidrogênio renovável pode ser um diferencial no novo cenário econômico que se desenha internacionalmente, em meio a uma cobrança crescente por produtos com menor pegada de carbono. 

Para isso, o país precisa fazer o dever de casa, e garantir o alinhamento de políticas ambientais e industriais.

“O Brasil tem todos os predicados para levar essa indústria para frente e a gente tem que fazer o nosso dever de casa bem feito. Essa é uma indústria que é a vocação natural do Brasil. A gente tem que utilizar o nosso forte para competir mundialmente”, defendeu o executivo da Fortescue.

O energético está entre as alternativas mais promissoras para descarbonizar setores de difícil abatimento, onde a eletrificação é ainda mais desafiadora.

No caso brasileiro, há ainda um potencial de aproveitamento na indústria para exportação de commodities verdes, como aço, fertilizantes e combustível marítimo.

Na visão de Viga, é também uma forma de posicionar o país para competir com a indústria chinesa.

“Eu não consigo competir com a manufatura da China de igual para igual. Nem os Estados Unidos está conseguindo. O Brasil vai ter muita dificuldade para fazer. Mas se a gente se diferenciar com a menor pegada de carbono, com a matriz limpa e trazendo ainda uma manufatura limpa para o Brasil, me parece ser uma agenda que ninguém tem no mundo”.

Esta semana, começou em Baku, no Azerbaijão, a COP29, conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas, que tem como principal missão chegar a um acordo para o financiamento climático internacional.

É um tema que afeta diretamente a viabilidade de projetos de hidrogênio.

Globalmente, há mais de 360 GW de eletrolisadores previstos para entrar em operação antes de 2030 e em vários estágios de desenvolvimento. Mas, até o início deste ano, apenas 3% (12 GW) deles haviam atingido o fechamento financeiro ou iniciado a construção, segundo agências internacionais.

“Tudo que ganha escala vai reduzindo o preço e vai ganhando um espaço maior na sociedade. A gente tem a indústria do petróleo há 160 anos ganhando escala, enquanto a indústria do hidrogênio verde está começando a sair do papel”, comenta Fernanda Delgado, CEO da Associação Brasileira da Indústria do Hidrogênio Verde (ABIHV).

“Ainda precisamos de muito tempo, de muito fôlego, de muito investimento para ganhar essa escalabilidade, ainda que a gente tenha feito coisas de uma forma muito célere até agora. Para isso, a gente precisa de política pública”, pontua.

Hoje foi o dia do financiamento na COP29 e há um longo caminho daqui até o encerramento da cúpula no final da semana que vem, já que a diferença entre expectativa e realidade é de aproximadamente US$ 1 trilhão. 

Na manhã de quarta (13/11), foi publicado o novo rascunho da nova meta quantificada global de financiamento climático (NCQG, sigla em inglês), o principal documento desta COP.

É onde está a discussão sobre os recursos que países ricos precisam mobilizar para os de renda média e baixa. 

E muitas nações pobres estão contando com isso para atualizar seus compromissos até a COP30 de Belém. Ou seja, se os ricos falharem aqui, as chances de sucesso no ano que vem são ainda menores.

Enquanto o grupo G-77+China, do qual o Brasil participa, pede US$ 1,3 trilhões – exclusivamente financiamento público –, os países ricos querem US$ 200 bilhões, valor que não cobre nem a inflação em relação à meta anterior de US$ 100 bilhões, ampliando também as contribuições para incluir bancos multilaterais e setor privado.


Senado aprova mercado de carbono, que volta para Câmara. O PL 182/2024, que cria o mercado regulado de carbono no Brasil e estabelece diretrizes para o mercado voluntário, foi aprovado na noite de quarta (13) pelos senadores. Como foram feitas alterações, o texto retornará à Câmara dos Deputados.

Durante o debate em plenário, a relatora no Senado, Leila Barros (PDT/DF), e o governo fizeram algumas concessões a fim de superar a resistência de parlamentares da oposição e dos agentes setoriais que se empenharam para mexer no texto.

Argentina sai da COP… Javier Milei ordenou que a delegação argentina se retirasse da COP29 (80 representantes) após apenas três dias de negociações. O presidente argentino de extrema direita chegou a ameaçar retirar o país do Acordo de Paris durante sua campanha eleitoral (seguindo os passos de Trump), mas recuou depois. A subsecretária de Meio Ambiente, Ana Lamas, esclareceu que a ordem se aplicava apenas à COP29 e não significava que a Argentina sairia do pacto climático. 

…e se afasta no G20. A Argentina do ultraliberal Javier Milei tem provocado embates nas discussões dos grupos de trabalho do G20. O país se recusou a assinar dois documentos prévios, um sobre igualdade de gênero e outro que abordava o desenvolvimento sustentável. Especialistas não descartam que a Argentina possa se negar a assinar a declaração final na cúpula de líderes da próxima semana. (UOL)

NDCs. Além do Brasil, o Reino Unido também apresentou a atualização da sua meta climática na quarta (13), dando a largada para as NDCs de nações ricas e grandes poluidoras históricas. O país europeu se compromete a ter 100% de energia renovável em 2030 e indica um corte de emissões de 81% até 2035 em relação aos níveis de 1990 – mas não esclarece quanto carbono isso significa.

Roteiro para investimentos renováveis. A presidência brasileira do G20 lançou, na quarta (13), em Baku, um roteiro para aumentar o investimento em energia de baixo carbono em países emergentes. O estudo (.pdf) aborda desafios críticos para essas economias, que precisam ver o fluxo de capital aumentar mais de seis vezes até 2035, e traz recomendações com prazos definidos para reduzir os custos de financiamento.

Viu isso? 

Taxar os bilhões. Líderes indígenas e ativistas climáticos lançaram hoje (14) uma campanha cobrando a responsabilização das nações ricas e dos bilionários de todo o mundo pelo financiamento de soluções climáticas. Com o dossiê Taxar seus bilhões, o grupo explica como e porque os bilionários devem pagar para consertar a crise climática. O lançamento ocorreu no dia das Finanças, enquanto negociadores discutiam como os países mais ricos devem gastar os bilhões necessários para uma transição energética justa.

Títulos sustentáveis. Relatório anual do BID Invest mostra que a instituição de fomento alocou US$ 3,7 bilhões com emissões de títulos sustentáveis, entre 2021 e 2023, sendo 56% para projetos sociais e 44% projetos verdes na América Latina e no Caribe. A maior parcela do financiamento apoiou iniciativas focadas em avanço socioeconômico e empoderamento (US$ 1,3 bilhão) e energia renovável (US$ 1,2 bilhão), ambas áreas críticas para o desenvolvimento regional.