RIO – A Origem Energia fechou um contrato de suprimento de gás natural com a Vale e vai estrear no mercado livre.
O acordo prevê a entrega de 300 mil m³/dia firmes até o fim de 2025, para as plantas de produção de pelotas e briquetes da Unidade Tubarão, em Vitória (ES).
O fornecimento das primeiras moléculas está previsto para a partir de sexta (15/11). O acordo prevê uma rampa de crescimento dos volumes até que o pico seja alcançado em 2025.
A diretora Comercial da Origem Energia, Flavia Barros, conta que a empresa vai se manter ativa no mercado livre.
Ela destaca que a entrada nessa modalidade permitirá à companhia não só buscar diferenciações maiores (de preços e condições de suprimento), mas também uma aproximação com o setor industrial.
“Aproximar-se de clientes que têm essa flutuação de demanda [como a Vale] faz com que conheçamos melhor o perfil de consumo da indústria e consigamos oferecer flexibilidade contratual e, quando estivermos autorizados pela ANP, oferecer nosso serviço de estocagem de gás”, afirmou, em entrevista à agência eixos.
Origem e a Transportadora Associada da Gás (TAG) desenvolvem em conjunto um projeto de armazenamento subterrâneo de gás nos reservatórios depletados do Polo Alagoas. Ainda aguardam o aval do regulador para iniciar as atividades.
Origem busca diversificação
Até então, os únicos clientes da Origem eram as distribuidoras de gás canalizado de Alagoas (Algás) e Bahia (Bahiagás), mas o plano da companhia é diversificar a sua carteira – incluindo também, na estratégia de monetização, o setor termelétrico.
A Origem tem planos de participar, com um projeto do tipo, no próximo Leilão de Reserva de Capacidade.
“A carteira perfeita de clientes seria mesclar os diferentes segmentos. Assim conseguimos administrar a nossa produção da melhor forma possível”.
A Origem produz cerca de 1,775 milhão de m3/dia no Polo Alagoas. O foco em gás não associado, segundo Flavia Barros, casa com a demanda do setor industrial por flexibilidade de suprimento e por modelos de contratos “fora da caixinha”.
Ela acredita que a demanda dos consumidores por soluções flexíveis vai começar a ganhar corpo também nos demais elos da cadeia – não só nas condições de suprimento, mas também de movimentação do gás nas redes.
“Esse vai ser um movimento exigido dos fornecedores, das distribuidoras e transportadoras”.
Mercado livre em ascensão
A executiva vê o mercado livre em processo de amadurecimento no Brasil.
“O drive para a migração de clientes é a competitividade e um suprimento mais aderente [às demandas]. Esses consumidores não tinham muita flexibilidade de negociação com as distribuidoras”
“Tudo isso exige um letramento do mercado, que está sendo liderado pelos grandes consumidores, mas que aos poucos vai se permeando. O gás vai se desmistificando”, comentou.
A diretora da Origem destaca que as migrações tendem a ocorrer mais aceleradamente no Sudeste, em estados onde há uma diferença maior entre o preço oferecido no mercado livre e as tarifas das distribuidoras.
No Nordeste, onde a desconcentração do mercado se deu de forma mais consistente e as distribuidoras locais obtiveram uma competitividade com a abertura do setor, esse spread é menor.
“A intenção de migrar pode ser menor, mas vai ocorrer também no Nordeste”, ressalvou.
“O movimento de migração, apesar de gradual, porque existe uma necessidade de educação, é um processo irreversível”, completou.
Mercado livre ainda tem barreiras
Ainda há, porém, alguns desafios para o desenvolvimento pleno do mercado livre.
Para Barros, a contratação de transporte em modalidades mais flexíveis é caro – os produtos diários, por exemplo, têm multiplicadores de 1,6x em relação à tarifa de referência.
“Esses produtos encarecem com as penalidades, que restringem as flexibilidades, sobretudo no setor elétrico”, comentou.
O atraso na execução da agenda regulatória da ANP também é um ponto de atenção.
Segundo a executiva, a prioridade neste momento deveria ser a execução dos dispositivos legais já postos – como a regulamentação da Lei do Gás de 2021.
“Se toda hora ficarmos criando lei nova e decretos, criaremos instabilidades”, disse.
Questionada especificamente sobre as discussões em torno da inclusão de um programa de gas release no relatório do Paten, ela destacou que a desconcentração é salutar para o desenvolvimento do mercado.
“O Nordeste é um case de mercado com competição que traz benefícios claros, mas tem que ser estudado. O modelo [de gas release] tem que ser adequado. Se não, acaba criando incerteza sobre novos projetos”
Barros, aliás, vê com naturalidade os recentes reposicionamentos comerciais da Petrobras, em resposta à concorrência.
“É a Petrobras respondendo à necessidade de flexibilidade e competitividade”.