RIO – A Noruega decidiu não inserir a mineração no fundo do mar na sua pauta para os debates do G20 deste ano, disse a jornalistas a cônsul-geral da Noruega no Rio de Janeiro, Mette Tangen.
“Não é um assunto que vamos levar para o G20. Tem várias áreas, arenas globais, onde esse assunto é discutido. Então, a gente não acha que é necessário levar para o G20 por enquanto”, comentou durante evento nesta segunda (4/11).
A Cúpula de Líderes do G20 ocorre nos dias 18 e 19 de novembro no Rio de Janeiro, com discussões sobre transição energética justa e financiamento climático.
A declaração de Tangen ocorre em um contexto no qual o Brasil, atual presidente rotativo do G20, convidou a Noruega para participar do debate da cúpula. No entanto, o país escandinavo preferiu focar seus esforços em outros temas comuns da transição energética, como a captura e armazenamento de carbono (CCS) e a energia eólica offshore.
O Brasil é defensor de uma pausa preventiva na exploração de minerais no fundo do mar, e está entre os 32 países que assinam manifesto demonstrando preocupações com possíveis riscos ao ecossistema marinho.
Além do Brasil, a União Europeia e mais cinco países que integram o G20 se manifestaram a favor de uma moratória até que se conheça os possíveis impactos dessa atividade no mar e se desenhe um código de mineração segura. São eles: França, Alemanha, Reino Unido, Canadá e México.
Já a Noruega aprovou no início do ano a permissão para exploração e possível extração de minerais do fundo do mar na sua plataforma continental.
Entre os motivos que levaram o o país aprovar a exploração em alto mar, estão a redução da dependência da China para o fornecimento de minerais necessários para baterias de veículos elétricos, turbinas eólicas e painéis solares; e o desenvolvimento de novas commodities, dado que sua principal exportação – petróleo e gás – deve diminuir gradualmente.
Embora o assunto não esteja na mesa de debates do G20, a Noruega ainda espera cooperar com o Brasil no tema, segundo Per Sogge, assessor especial do Ministério da Energia da Noruega.
“Ambos vemos grande potencial para maior cooperação com energia eólica offshore, captura e armazenamento de carbono e minerais do fundo do mar”, disse durante o evento promovido pela Noruega no Rio de Janeiro.
Foco na agenda comum
“O CCS é um ótimo exemplo de uma área onde nossos países têm interesses semelhantes e podem trabalhar juntos”, pontuou Sogge.
Ele lembrou que o objetivo do projeto Northern Lights de CCS na Noruega – recém inaugurado – vai além de reduzir as emissões do país, e busca “demonstrar ao mundo que a tecnologia está funcionando para que outros países também possam adotá-la”.
Por aqui, o primeiro passo para a regulamentação do CCS foi dado com a sanção da lei do Combustível do Futuro. Entretanto, Mette Tangen destaca a importância também da aprovação de um mercado de carbono para o desenvolvimento da tecnologia, ressaltando que, na Noruega, essa estrutura faz com que o CCS seja mais barato do que emitir carbono.
“É fundamental ter um preço no carbono. Porque para as empresas de petróleo na Noruega, hoje em dia, seria mais barato fazer CCS do que emitir. Por conta da regulação, elas têm um limite de emissões na Noruega. E o carbono tem preço. É mais caro pagar esse preço do que fazer CCS”, explicou Tangen.
Eólicas offshore
A Noruega também aposta na geração eólica offshore como um dos pilares para transição energética, aproveitando a experiência do país em operações no mar.
A cônsul-geral, lembrou que o país realizou um leilão este ano, que marca o início do desenvolvimento dessa indústria.
“Na Noruega teve um leilão esse ano, e vamos começar a construir a primeira área, utilizando as tecnologias do setor de petróleo”.
Para Thomas Conradi Granli, diretor da Innovation Norway Brasil, a eólica offshore é uma oportunidade estratégica para manter a indústria de óleo e gás competitiva e criar novos empregos de alta qualificação.
Ele pontua que tanto a Noruega como o Brasil têm “um setor offshore muito grande, que gera muitos empregos de alta renda, alta qualificação e inovação”. Segundo Granli, “sem migrar para a eólica offshore, esse setor fica um pouco sem outra perna. Então, é um pouco uma escolha estratégica também de país”.