Diálogos da Transição

Políticas climáticas cobrem apenas 13% das emissões de metano

Depois de estabilizarem no início dos anos 2000, emissões de metano voltaram a subir e já contribuem com aumento de 0,5 °C

As emissões de metano do setor de energia precisarão cair para cerca de 20 milhões de toneladas por ano até 2030 (Foto: Pixabay)
As emissões de metano do setor de energia precisarão cair para cerca de 20 milhões de toneladas por ano até 2030 (Foto: Pixabay)

NESTA EDIÇÃO. Depois de estabilizarem no início dos anos 2000, as emissões de metano voltaram a subir e já contribuem com aumento de 0,5 °C na temperatura global média.

Políticas de mitigação atuais cobrem apenas 13% do volume lançado na atmosfera.

É preciso implementar estratégias mais assertivas, alertam cientistas.


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Publicado nesta segunda (28/10), estudo da Earth League alerta que os níveis de metano na atmosfera estão aumentando e apenas 13% das emissões atuais são cobertas por políticas de mitigação.
 
A Earth League é um consórcio internacional de cientistas que anualmente lança 10 insights relacionados ao clima.
 
No estudo deste ano, o primeiro tópico é dedicado ao segundo maior responsável pelo aquecimento global, cujos níveis estão crescendo substancialmente desde 2006 impulsionados por combustíveis fósseis, gado e resíduos.
 
Também houve avanço nas emissões naturais devido a reações causadas ​​pelo clima.
 
“Sem uma ação rápida para conter as emissões de gases de efeito estufa de fontes humanas, essas fontes naturais de metano – como pântanos – provavelmente continuarão a crescer, exigindo maiores reduções das atividades humanas”, alerta o relatório.
 
Os cientistas calculam que o gás de efeito estufa foi responsável por um aumento de 0,5 °C nas temperaturas globais médias desde o final dos anos 1800. 
 
Apesar de se dissipar mais rápido, o metano (CH₄) esquenta o planeta 28 vezes mais do que uma molécula de dióxido de carbono (CO₂) em um século.



Com tão poucas estratégias políticas cobrindo o problema das emissões, a Earth League aponta a urgência de entender os principais fatores por trás do recente aumento nos níveis de metano para melhor direcionar ações de mitigação.
 
A tecnologia é uma aliada. O uso de satélites, por exemplo, vem se provando uma ferramenta eficaz para detectar grandes emissões de instalações industriais individuais, como minas de carvão, campos de produção de petróleo e gás e gasodutos. 
 
Além disso, trabalhos de modelagem e amostragem de ar expandida para análise de isótopos de metano ajudam no mapeamento de fontes como aterros sanitários, arrozais e gado.
 
“Cortes profundos nas emissões de metano das indústrias de combustíveis fósseis e gestão de resíduos são os mais viáveis, e muitas soluções também são econômicas, pois melhoram a eficiência e usam tecnologias existentes”, observam os cientistas. 
 
Eles alertam que, no setor de combustíveis fósseis, um número relativamente pequeno de fontes grandes e intermitentes tem um impacto descomunal nas emissões totais. 
 
“Aglomerados de grandes emissões de instalações de petróleo e gás e gasodutos, bem como mineração de carvão, foram observados em todo o mundo, incluindo plumas de metano detectadas na Argélia, China, Cazaquistão, Rússia, Turcomenistão e EUA, frequentemente exibindo emissões de dezenas de toneladas por hora”. 
 
Também foram detectadas emissões contínuas em instalações de resíduos sólidos urbanos em Buenos Aires (Argentina), Lahore (Paquistão), Déli e Mumbai (Índia), variando na faixa de 3 a 29 toneladas por hora. 
 
É no agro, no entanto, que está a maior fonte de emissões e a maior dificuldade de resolver – mas existem opções. 
 
“As mitigações incluem o uso de rações para gado com menor emissão, gestão de esterco, mudanças na dieta para longe da carne de criação e redução do desperdício de alimentos. Embora estejam surgindo tecnologias para remoção de metano ou para oxidá-lo em CO2, elas estão em estágios iniciais e exigiriam desenvolvimento, escala e incentivo significativos para serem econômicas”, indica o estudo.

Assinado por 158 países, o Global Methane Pledge (GMP) estabelece como meta a redução de 30% nas emissões de metano dos níveis de 2020 até 2030. 
 
A iniciativa é voluntária e está institucionalizando os relatórios de emissões, mas é preciso transformar a intenção em prática.
 
Os cientistas observam como positivas as regulações da Agência de Proteção Ambiental dos EUA e o regulamento da União Europeia de 2024 sobre emissões de metano no setor de energia. 
 
E defendem que essas políticas e mecanismos de precificação de emissões devem ser replicadas em outras regiões e outros setores econômicos.

  • Em 2023, os EUA anunciaram a introdução gradual da exigência de eliminação da queima rotineira de gás natural produzido por novos poços de petróleo. Também passou a exigir o monitoramento dos vazamentos de metano e exigir reduções nas emissões de equipamentos como controladores, bombas e tanques de armazenamento. A expectativa é evitar evitar cerca de 58 milhões de toneladas de emissões de metano de 2024 a 2038.
  •  Na UE, indústrias de óleo e gás fóssil, e carvão passam a ser obrigadas a medir, monitorar, relatar e verificar  suas emissões de metano, além de adotar medidas para reduzi-las. Exige ainda o fim da queima evitável e rotineira e redução da queima e ventilação para situações como emergências ou mau funcionamento técnico. 

Marcada para a segunda semana de novembro no Azerbaijão, a 29ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (COP29) prevê uma declaração para redução de metano dos resíduos orgânicos com compromissos “alinhados a 1,5 °C“.
 
Na COP28, em 2023, o foco foi dos combustíveis fósseis, com a Carta de Descarbonização de Petróleo e Gás (OGDC) buscando emissões de metano upstream quase nulas até 2030.
 
Para a Earth League, o momento pode ser aproveitado para impulsionar a adoção de políticas que vêm mostrando eficácia.
 
“Na COP29, o Programa de Trabalho de Mitigação (MWP) poderia priorizar o metano em linha com seu mandato sobre ação climática de curto prazo e implementação urgente. Especificamente, o MWP pode aumentar a conscientização, facilitar o compartilhamento de ferramentas e soluções de mitigação e criar um impulso para uma adoção mais ampla e escalonamento de abordagens bem-sucedidas”. 
 
Além disso, aponta que a próxima rodada de Contribuições Nacionalmente Determinadas (NDCs) precisa abordar as emissões de metano separadamente, com metas e estratégias específicas do setor para aumentar a transparência e a ambição. 


Lula não vai à COP. Depois de cancelar sua participação na COP16 da Biodiversidade, que está ocorrendo em Cali, na Colômbia, o presidente Lula (PT) também desmarcou a ida a Baku, capital do Azerbaijão, para a conferência climática COP29, em novembro. 
 
Auxiliares do presidente dizem que Lula preferiu priorizar outros dois eventos internacionais que serão realizados na América do Sul: a reunião da Cooperação Econômica da Ásia e dos Pacífico (APEC, na sigla em inglês) e a cúpula de líderes do G20, no Rio de Janeiro. O vice-presidente, Geraldo Alckmin, irá a Baku no lugar. (G1)
 
SAF de biogás. A produtora de biometano Geo bio gas&carbon e a Cooperação Brasil-Alemanha para o Desenvolvimento Sustentável inauguraram na última semana o escritório de coordenação da parceria para o desenvolvimento da primeira planta no Brasil para produção de combustível sustentável de aviação (SAF, na sigla em inglês) a partir de biogás. Objetivo é estabelecer requisitos básicos para a produção industrial.
 
Vale do Lítio. A mineradora australiana Lightning Minerals Limited firmou um memorando de entendimento (MoU) com o governo de Minas Gerais para investir R$ 20 milhões na exploração de lítio na região de Salinas, no Vale do Jequitinhonha, conhecida como Vale do Lítio. A empresa se comprometeu a utilizar serviços e fornecedores locais na primeira fase dos seus projetos Caraíbas, Canabrava e Esperança.
 
BNDES e banco de fomento dos EUA miram investimentos no Brasil. O BNDES e o U.S. International Development Finance Corporation (DFC) assinaram um acordo-quadro de cooperação nesta segunda (28), em Washington, para apoiar projetos de mineração, biocombustíveis, descarbonização e hidrogênio verde, agricultura regenerativa, baterias e semicondutores de eletromobilidade, entre outras áreas. (Agência Brasil)
 
Cogeração renovável. Cogen e Unica calculam que o montante total de garantia física de termelétricas a biomassa obteve um acréscimo de 399,8 MWmédios, 17% acima do registrado em relação ao ano anterior. Com isso, a Garantia Física Total de Termelétricas a Biomassa verificada é de 2.701,6 MWmédios, valor recorde para a série histórica e que deve para evitar a emissão de cerca de 7 milhões de toneladas de CO2 por ano.