RIO — Uma das maiores geradoras de energia renovável do Brasil, a Eletrobras mais do que fornecer eletricidade para projetos de hidrogênio verde de larga escala, espera se consolidar como parceira na operação de eletrolisadores, a partir da expertise acumulada no projeto-piloto de Itumbiara.
Juliano Dantas, vice-presidente de inovação da Eletrobras, explicou à agência eixos, que a planta de hidrogênio em Itumbiara (MG) acelerou o aprendizado da empresa, permitindo o desenvolvimento de softwares operacionais específicos e de uma rede de fornecedores para a manutenção desses ativos.
Agora, com o know-how adquirido, a companhia se prepara para dar um salto na escala de produção, investindo e um novo projeto de até 20 megawatts (MW) — ainda piloto — e ampliando suas colaborações, como uma parceria em estudo para um projeto no Porto de Pecém (CE), que poderá atingir escala de GW.
“Temos muita vocação para operar esse tipo de infraestrutura. E todo o nosso desenvolvimento de tecnologia é feito considerando a nossa capacidade de operar esse tipo de ativo e de participar dessas parcerias, aportando não só energia elétrica, mas muito conhecimento e capacidade operativa para poder ter diferentes modelos de negócio”.
Dantas compara o modelo da Eletrobras ao da TSMC, empresa taiwanesa, conhecida pela eficiência em processos de produção de semicondutores, mesmo sem fabricar os equipamentos necessários para produção.
“Ela [TSMC] inova em processo, e é isso que a Eletrobras é, uma empresa de inovação em processo. Como operar o eletrolisador de forma que haja a máxima confiabilidade, o menor custo”.
Segundo o executivo, a Eletrobras pode aumentar a competitividade dos projetos de hidrogênio verde, ao entregar um gerenciamento de fluxo de energia nos eletrolisadores, de maneira que “se entregue energia da forma mais eficiente, e se consuma essa energia da forma mais eficiente”.
Ele também destaca que outro desafio para reduzir os custos de operação é identificar o tipo de equipamento adequado para o produto final que se deseja ter. Uma vez que o hidrogênio verde é matéria-prima para derivados, como fertilizantes nitrogenados e combustíveis sintéticos.
“É preciso entender que tipo de tecnologia é mais adequada para a necessidade daquele projeto, dependendo do horizonte do projeto, da eficiência desejada, do tempo para implantar”.
Investimento em inovação
Para aperfeiçoar ainda mais os processos, a companhia segue investindo em inovação. Nesta sexta (25/10), a Eletrobras inaugurou o Polo Sudeste do Innovation Grid no Porto Maravalley, no Rio de Janeiro.
A iniciativa espera conectar parceiros e descobrir novos talentos para desenvolvimento de soluções inovadoras, capazes de atender as demandas atuais do setor de energia e auxiliar no processo de transição energética.
A plataforma conta com mais dois polos: o polo do Nordeste no Porto Digital, em Recife, e o Polo Sul, no Centro de Inovação da Associação Catarinense de Tecnologia (ACATE), em Florianópolis.
Acordos para hidrogênio verde
A Eletrobras possui diversos memorandos de entendimento (MoU) para avaliar oportunidades de negócios na cadeia de produção de hidrogênio verde e derivados.
Entre eles, o de fornecimento de eletricidade renovável ao projeto da Green Energy Park, no Piauí.
Em junho, juntamente com a Suzano, maior produtora mundial de celulose, anunciou uma parceria para estudar a produção de e-metanol feito a partir de hidrogênio verde – produzido através da eletrólise da água – e de CO2 biogênico, gerado da biomassa da unidade de produção da Suzano.
Em março de 2024, a Eletrobras assinou um MoU com o braço no Brasil da Paul Wurth, de Luxemburgo, para parceria no mercado de produção e utilização de hidrogênio renovável em processos industriais no Rio de Janeiro. E, em abril, com o governo do Maranhão, para o suprimento de energia renovável na cadeia de H2.
No final do ano passado, a planta de hidrogênio renovável da usina hidrelétrica de Itumbiara, operada pela Eletrobras Furnas, na fronteira de Minas Gerais com Goiás, obteve a primeira certificação brasileira de hidrogênio renovável da Câmara de Comercialização de Energia Elétrica (CCEE). A produção acumulada chegou ao final de 2023 somando duas toneladas.