Compromisso com o clima

CEOs pedem metas climáticas mais ambiciosas e fim de subsídios aos fósseis

Aliança de Líderes Climáticos reúne empresas com receitas combinadas de US$ 4 trilhões para pedir fim dos subsídios aos combustíveis fósseis

Na reunião anual do Fórum Econômico Mundial em Davos, em janeiro de 2024, líderes discutiram como fechar lacuna de 600 bilhões de toneladas de CO2
Na reunião anual do Fórum Econômico Mundial em Davos, em janeiro de 2024, líderes discutiram como fechar lacuna de 600 bilhões de toneladas de CO2 | Foto: World Economic Forum/Ciaran McCrickard

RIO — Às vésperas da Conferência da ONU sobre Mudanças Climáticas de 2024 (COP29), que ocorre em novembro, no Azerbaijão, mais de 100 CEOs e altos executivos de todo o mundo pedem, em carta divulgada nesta quinta (10/10), que governos adotem Contribuições Nacionalmente Determinadas (NDCs) mais ambiciosas e detalhadas.

A iniciativa é organizada pela Aliança de Líderes Climáticos de CEOs, que reúne empresas com receitas combinadas de US$ 4 trilhões e mais de 12 milhões de empregados e, entre outras demandas, pede o fim dos subsídios aos combustíveis fósseis.

O grupo inclui empresas como Ørsted, Enel, EDP, Fortescue Metals Group, Banco Santander, Deutsche Bank, Zurich Insurance Group, Volvo e Maersk. 

A carta, divulgada pelo Fórum Econômico Mundial, ressalta o compromisso do setor privado em acelerar a ação climática, destacando que as empresas signatárias reduziram suas emissões agregadas em 10% entre 2019 e 2022, enquanto aumentaram suas receitas em 18% no mesmo período. 

Contudo, os CEOs alertam que a velocidade das ações globais é insuficiente para atingir as metas do Acordo de Paris. 

“Os governos não podem agir sozinhos: pedimos aos colegas líderes empresariais que se comprometam estratégica e financeiramente com o net zero”, diz a carta.

Apoio a NDCs mais robustas e claras

Um dos principais pedidos dos executivos é que os governos revisem e ampliem suas NDCs – as promessas nacionais de redução de emissões dentro do Acordo de Paris

O grupo alerta que as NDCs atuais oferecem uma redução projetada de apenas 5% das emissões até 2030, muito distante da redução de 43% necessária para limitar o aquecimento global a 1,5°C. 

“As NDCs devem oferecer planos de transição claros que forneçam a transparência para que as empresas façam seus investimentos”. 

Eles pedem metas mais “críveis e ambiciosas”, que integrem o setor privado no planejamento e ofereçam clareza, destacando a necessidade de políticas de longo prazo que dêem visibilidade e segurança aos investidores e facilitem o fluxo de capital para tecnologias verdes. 

Fim dos subsídios aos combustíveis fósseis

Os signatários apoiam os compromissos feitos na COP28, especialmente em relação ao aumento das energias renováveis e da eficiência energética, mas enfatizam que é preciso ir além dos compromissos e garantir ações efetivas para garantir a transição global.

Outro ponto central da carta é o pedido de eliminação dos subsídios aos combustíveis fósseis.

A aliança defende a eliminação gradual de “subsídios aos combustíveis fósseis de forma justa, ordenada e equitativa, redirecionando-os para investimentos verdes e eficientes”.

Mobilização de financiamento climático

A carta também destaca a necessidade urgente de aumentar o financiamento climático, principalmente para os países em desenvolvimento, que precisarão de cerca de US$ 5,9 trilhões para mitigação e adaptação às mudanças climáticas até 2030. 

Entre as propostas, os CEOS pedem planos de transição setoriais específicos, e o desenvolvimento dos mercados de carbono.

A aliança sugere “expandir a precificação de carbono, já que menos de 25% das emissões globais são precificadas”, e “apoiar mercados voluntários de carbono”,  bem como “promover mercados internacionais de carbono por meio de negociações do Artigo 6”, do Acordo de Paris. 

Os CEOs ainda defendem que sejam criados mecanismos eficientes para reduzir os riscos de investimento em países de baixa e média renda, “onde os prêmios de risco de investimento são desproporcionalmente altos, inclusive aumentando substancialmente o financiamento concessional e misto, catalisado por bancos de desenvolvimento multilaterais mais adequados”. 

Segundo eles, é necessário “padronizar ferramentas de redução de risco, como dívida vinculada à adaptação, que aprimoram o financiamento colaborativo e criam um ciclo virtuoso de redução de risco, para garantir uma remuneração de capital estável”. 

Obstáculos à transição energética

Outro ponto levantado pelos líderes empresariais é a necessidade de remover obstáculos regulatórios e burocráticos que estão retardando a expansão das energias renováveis, e pedem que governos agilizem os processos de licenciamento.

“Atualmente, a capacidade total de energias renováveis ​​aguardando licenças é cinco vezes maior do que a capacidade instalada. Serão necessários 80 milhões de quilômetros de rede verde adicional até 2040, mesmo antes de contabilizar novos usos intensivos em energia, como inteligência artificial”, alertam. 

Apoio a tecnologias inovadoras e de ruptura

A aliança também defende apoio à tecnologias de ruptura, como o hidrogênio limpo, biocombustíveis e soluções de remoção de carbono, muitas das quais ainda enfrentam barreiras de custo. 

“Escalar essas tecnologias, incluindo hidrogênio limpo, derivados de hidrogênio e remoções de carbono, é crucial para atingir a descarbonização industrial”, além de “apoiar tecnologias inovadoras para atingir escala comercial e complementar soluções competitivas em termos de custo”.

Os executivos estimam que 30% das principais tecnologias de mitigação ainda enfrentam desvantagens de custo significativas, particularmente em setores de alta emissão.