RIO – O mercado livre de energia elétrica tem que oferecer soluções tecnológicas que permitam ao cliente ter poder sobre seu consumo, e não pode apenas replicar o modelo de venda “no atacado”. A visão é do CEO da comercializadora Tyr Energia, Eduardo Miranda.
Para o executivo, o pós-venda é importante nesse sentido, para garantir ao consumidor uma experiência diferente daquela que ele tem no mercado cativo.
“Varejo significa tecnologia”, defende.
O executivo lembra que isso inclui abrir ao consumidor dados aos quais ele não tem acesso no ambiente cativo, o que facilita, por exemplo, a adoção de medidas de eficiência energética.
“Também estamos empoderando o cliente ao permiti-lo tomar essa decisão de consumir menos, de ser mais eficiente. Analisar: onde está meu gasto? Por que eu gasto dessa maneira? Sem a medição digital, não tem varejo”, avalia.
Miranda defende ainda que o empoderamento dos consumidores passa pela oferta de contratos flexíveis.
No mercado livre de energia, o cliente pode negociar a compra da energia diretamente com uma geradora ou comercializadora. Com isso, ele deixa o ambiente regulado, no qual contrata obrigatoriamente a energia negociada pela distribuidora que atende a região onde está localizado.
A Tyr é um investimento do grupo Mercurio Partners, que tem também usinas termelétricas em São Paulo, Pernambuco e Paraíba.
O grupo atua também numa joint venture com a Horto Capital, a Mercurio Assets, gestora de fundos de investimentos com foco em ativos do setor energético, que opera a Energia Pecém, usina termelétrica localizada no Ceará.
A entrada na comercialização ocorreu em 2018, focada em atender a grandes geradores de energia, com o uso de uma tecnologia de medição digital desenvolvida pela GreenAnt.
A companhia começou como agregadora de carga, com a junção de um grupo de consumidores instalados num mesmo condomínio para atingir o volume mínimo necessário para migrar para o mercado livre.
Dados em tempo real
Com um software do grupo, a medição ocorre de forma única para o prédio, mas cada cliente recebe seu próprio boleto e tem acesso a um aplicativo que mostra análises dos dados de consumo em tempo real.
Por meio de tecnologias baseadas em inteligência artificial, o aplicativo permite ao consumidor entender as faturas, baixar dados e fazer pagamentos. É possível, por exemplo, desagregar os dados de consumo de uma área específica, como de uma ala de um hospital.
“Isso aprimora ainda mais o conhecimento sobre a conta, os gastos, para que ele possa tomar medidas para gastar menos energia”, diz o CEO.
Os primeiros clientes foram as unidades comerciais do edifício Quartier de Ipanema, no bairro carioca.
Expansão para o Nordeste
Hoje, a Tyr tem cerca de 400 unidades consumidoras, a maioria no estado do Rio.
Para Miranda, o fato de a companhia ter sido fundada na capital fluminense e buscar dar um atendimento customizado a cada cliente ajudou a ganhar a confiança do público local. É um diferencial, já que grande parte das comercializadoras brasileiras tem sede em São Paulo.
Apesar do foco na tecnologia, a diretora de operações da Tyr, Joana Waldburger, lembra que o fator humano é essencial no processo de contratação no mercado livre.
“O processo é humano. O meu vendedor, munido dos melhores treinamentos e ferramentas, acessa um cliente e gera confiança naquela contratação. É algo novo, que até ontem o cliente não sabia que ele existia, então, para ele, esse fator do processo de venda humano é relevante”, diz.
Com a intenção de expandir a atuação no Nordeste, em junho a companhia abriu um escritório no Ceará e contratou uma equipe local.
“O Nordeste é um lugar muito profícuo para o varejo. Eles são vanguarda do setor de renováveis. O cliente é sofisticado, toma decisão rápido”, diz o CEO.
Abertura total do mercado
Hoje, o mercado livre de energia brasileiro é aberto apenas a clientes de média e alta tensão.
O Ministério de Minas e Energia (MME) está trabalhando nas regras para a abertura a todos os consumidores nos próximos anos.
Segundo o CEO da Tyr, a companhia já começou a se preparar para esse novo momento do mercado, com estratégias de comunicação para atingir clientes menores, como patrocínios a eventos e campanhas de marketing nas redes sociais.
Há previsão ainda de novos investimentos em tecnologia, para baixar o custo de aquisição por cliente.
Miranda defende que a abertura precisa respeitar as discussões que ocorreram nos últimos anos e a experiência adquirida com a entrada dos consumidores de média tensão no mercado livre.
Para o executivo, é importante ainda que as regras tratem de questões concorrenciais, como a competição com as comercializadoras que fazem parte de grandes grupos de distribuição.
“Se vier algo que está dentro dessas discussões de longo prazo, está tudo bem, uma variação para cá ou para lá não é problemático. A gente acha, sim, que a questão da competição, principalmente do monopólio natural, deve ser endereçada de alguma forma”, diz.
“Quem estamos defendendo aqui? O consumidor final. Todos nós, varejistas, empresários, geradores, comercializadores, distribuidores, devemos colocar o consumidor em primeiro lugar”, acrescenta.
Aposta no gás natural
A Tyr avalia ainda entrar na comercialização de gás natural.
Com base na experiência na energia elétrica, a Mercurio desenvolveu também uma comercializadora de gás, a MGás, que foi vendida este ano para a J&F.
Como não há acordo de não competição, a companhia já avalia montar uma nova comercializadora para atuar no mercado de gás.
“O mercado brasileiro é muito mais imaturo no gás natural do que energia elétrica, mas a gente acha que tem muita sinergia de produtos”, diz Miranda.