BRASÍLIA – O Brasil precisa eliminar travas para se tornar um exportador de equipamentos e serviços para a geração eólica, defende a presidente da Associação Brasileira de Energia Eólica e Novas Tecnologias (Abeeólica), Elbia Gannoum. Ela ressaltou que o país precisa fortalecer a cadeia de fornecimentos para atender a América Latina, com alterações na tributação e melhorias na logística.
Em entrevista à agência eixos na Offshore Week 2024, Gannoum comparou os custos de importação que países vizinhos têm ao comprar do Brasil e da Europa. “Nos três últimos anos, para construir um parque eólico no Uruguai ou Argentina, fica mais barato trazer uma máquina da Europa do que do Brasil”, afirmou.
Segundo ela, um equipamento comprado por esses países de fornecedor europeu está sujeito a menos impostos do que o de um vendedor brasileiro.
A presidente da associação também cita o elevado preço da navegação de cabotagem e o excesso de uso do modal rodoviário como dificuldade para transportar as estruturas.
“A logística do Brasil é muito cara. O país optou por um transporte por estradas. Tem também a cabotagem, mas a legislação de hoje deixa essa opção muito cara”, disse.
Aprovação do PL das eólicas offshore
Gannoum afirmou esperar que o PL 576/21, conhecido como PL das eólicas offshore, pegue carona na agenda verde – que já aprovou no Congresso o marco do hidrogênio e o Combustível do Futuro –, e seja aprovado ainda no mês de outubro.
De acordo com a executiva, o gabinete do relator do projeto, Weverton Rocha (PDT/MA), confirmou a apresentação do relatório para os próximos dias.
O PL foi objeto de uma série de “jabutis”, que vão desde a contratação de térmicas a gás à prorrogação de contratos de usinas à carvão.
Quanto à perspectiva de um primeiro leilão após a aprovação da lei, Gannoum afirmou que o Ministério de Minas e Energia (MME) e a Empresa de Pesquisa Energética (EPE) estão preparados para avançar com as discussões rapidamente.
Para a presidente da ABEEólica, o decreto com as diretrizes para a geração eólica offshore, publicado em janeiro de 2022, é a prova do amadurecimento das discussões.
“A vantagem de o Brasil chegar um pouco depois [do que outros países] é que algumas questões estão mais amadurecidas. Alguns erros já foram cometidos e o Brasil vai ter um grande cuidado de fazer uma regulação que mitigue os erros, porque a experiência de fora serve de exemplo”, disse.
Futuro da energia eólica offshore
A associação espera que o primeiro leilão de cessão do mar para a geração eólica offshore aconteça no segundo semestre de 2025. Estima ainda um período adicional de três anos para a concessão de todas as licenças para que os projetos avancem.
Segundo a presidente, um erro que o Brasil não pode cometer no primeiro leilão é cobrar um preço muito alto pela cessão.
“Os primeiros projetos precisam sair com um bônus de assinatura baixíssimo porque o Brasil, diferente dos Estados Unidos, por exemplo, que tem o Inflation Reduction Act [IRA], não tem esse tipo de subsídio e precisa buscar outros mecanismos de incentivos”, reforçou.
O IRA é uma política de financiamento do governo americano para o combate às mudanças climáticas e promoção da transição energética.
Para a executiva, preparar o terreno para essa nova oferta de energia, a partir das eólicas em alto-mar, passa também por uma discussão de política industrial.
“As pessoas me falam que eólica offshore é coisa para o futuro. Sim, mas o futuro é decidido hoje. Então, se eu quiser fazer esse investimento no futuro, eu vou precisar fazer o que estamos fazendo agora”, comentou.