NESTA EDIÇÃO. Relatório State of Cities Climate Finance 2024 aponta que o financiamento climático deve aumentar cinco vezes para colocar as cidades em uma trajetória de 1,5°C até 2030.
Somente para a mitigação climática, a estimativa é que os centros urbanos demandarão US$ 4,3 trilhões anualmente até o final desta década, e mais de US$ 6 trilhões por ano de 2031 a 2050.
E ainda: governo abre consulta para leilão de armazenamento.
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Daqui a nove dias, cidadãs e cidadãos dos mais de 5,5 mil municípios brasileiros irão às urnas escolher prefeitos e vereadores responsáveis por formular e aprovar políticas que buscam tornar suas cidades lugares mais agradáveis de viver e conviver – pelo menos na teoria.
E embora as discussões sobre mitigação e adaptação à mudança do clima estejam ocupando espaço na agenda nacional, nas cidades – onde as pessoas vivem e sentem os impactos de enchentes, ondas de calor e baixa qualidade do ar – essas questões precisam ganhar mais atenção.
Lançado esta semana durante a Climate Week de Nova York, o relatório State of Cities Climate Finance 2024 (SCCFR) aponta que o financiamento climático precisa aumentar cinco vezes até 2030 para colocar as cidades em uma trajetória que contribua para limitar o aquecimento do planeta a 1,5°C – já estamos em 1,2°C, vale lembrar.
De um lado, instituições públicas, privadas e multilaterais precisam passar por uma reforma para acelerar a mobilização de recursos, principalmente destinados a países emergentes e vulneráveis.
De outro, cabe às cidades desenvolverem projetos que possam receber esse capital climático – papel das políticas que são aprovadas nas câmaras municipais.
Segundo o estudo, no mundo inteiro, as cidades precisam de cerca de US$ 4,3 trilhões anualmente de agora até 2030, somente para mitigação climática, e mais de US$ 6 trilhões por ano de 2031 a 2050.
Transporte, energia e edifícios dominam as necessidades de investimento para reduzir emissões de carbono.
Até 2030, as cidades precisarão de um investimento anual de US$ 1,7 trilhão para soluções de transporte (por exemplo, veículos elétricos e sistemas ferroviários urbanos) e US$ 1,2 trilhão para energia (particularmente para geração de energia renovável). Elas também precisarão de US$ 1 trilhão para reforma de edifícios e novas construções, bem como aquecimento, ventilação e ar condicionado com eficiência energética, aquecedores de água e sistemas de cozinha.
Lacuna na adaptação
As recentes enchentes no Rio Grande do Sul, que deslocaram 200 mil pessoas e causaram US$ 3,7 bilhões em danos, aproximadamente, chamaram a atenção para a urgência de adaptar as cidades para lidar com a emergência do clima.
O SCCFR observa, no entanto, que as necessidades de adaptação são mais difíceis de projetar devido à falta geral de dados, particularmente do setor privado.
Nas cidades de países emergentes, as necessidades de adaptação somam US$ 147 bilhões por ano até 2030 e US$ 165 bilhões de então até 2050.
O estudo engloba Argentina, Brasil, Chile, China, Colômbia, Hungria, Índia, Indonésia, Malásia, México, Polônia, Rússia, Arábia Saudita, África do Sul, Tailândia e Turquia e provavelmente estão subestimadas, alertam os autores, já que a dimensão dos riscos climáticos é incerta.
Além disso, as estimativas não capturam totalmente as necessidades futuras de adaptação, como o aumento triplo previsto na demanda global por resfriamento até 2050, o que pode exigir um investimento adicional de US$ 1,5 trilhão somente na Índia até 2040, explicam.
Adicione-se a isso o alto custo da inação climática nas cidades, que ano a ano faz o custo de adaptação aumentar.
“Os impactos econômicos de eventos relacionados ao clima são enormes, com algumas cidades já sofrendo bilhões de dólares em perdas devido à escassez de água, inundações e danos à infraestrutura. Os custos da inação podem ser severos no futuro, com projeções de danos cobrindo muitos tipos e geografias diferentes de cidades”, resume o relatório.
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Curtas
Leilão de baterias. O Ministério de Minas e Energia (MME) colocou em discussão, nesta sexta (27/9), a minuta de diretrizes para o Leilão de Reserva de Capacidade na forma de Potência de 2025, destinado a contratar sistemas de armazenamento em baterias (LRCAP Armazenamento de 2025). A proposta recebe contribuições até 28 de outubro de 2024. A consulta pública sugere a realização do leilão em junho de 2025.
Descarbonização do refino. Com o crescente interesse pela descarbonização das operações no setor de refino no Brasil, Leon Melli, diretor de vendas da Honeywell para América Latina, afirma que há uma oportunidade importante para o país otimizar o uso das refinarias existentes e reduzir emissões antes mesmo da chegada do hidrogênio de baixo carbono ao mercado. Confira a entrevista ao estúdio eixos
Guerra verde. A Comissão Europeia anunciou, nesta sexta (27/9), as regras do segundo leilão para subsidiar projetos de hidrogênio renovável dentro do bloco. A grande novidade é a inclusão de critérios que buscam barrar o uso de eletrolisadores chineses. O novo leilão terá início no dia 3 de dezembro deste ano e vai disponibilizar até €1,2 bilhão, por meio do Banco Europeu de Hidrogênio.
CCS no Mar do Norte. TotalEnergies, Equinor e Shell anunciaram na quinta (26/9) a conclusão das instalações para recebimento e armazenamento de CO2 do projeto Northern Lights, na Noruega. O empreendimento é fruto de uma parceria entre as três petroleiras com o governo da Noruega, e visa oferecer o serviço de captura e armazenamento de carbono (CCS) em larga escala.
Solar na farmoquímica. A Flash Energy fechou contrato de geração distribuída com a Soroquality Biotecnologia, empresa da indústria farmoquímica, localizada em Aparecida de Goiânia, em Goiás, que produz soro fetal bovino para exportação. A UFV Flash Caldas, foi adquirida pela Flash Energy no ano passado e conta com a capacidade instalada total de 61,5 kWp, o que representa uma geração de energia limpa mensal de 8.500 kWh. Com investimento de R$ 750 mil, a usina fica localizada em Caldas Novas, conta com 164 painéis fotovoltaicos e faz parte do plano de expansão da empresa.