BRASÍLIA – As mudanças que o governo pretende promover no mercado de gás natural precisam ser implementadas a partir do diálogo com a indústria, defendeu a presidente da Equinor no Brasil, Verônica Coelho, ao estúdio eixos, durante a ROG.e 2024.
Coelho afirmou ser favorável às medidas estabelecidas no decreto do Gás para Empregar, mas lembrou que o mercado de gás é uma cadeia complexa, com investimentos vultuosos e longo prazo de retorno.
Ela acredita que as medidas podem viabilizar o aumento de produtores e consumidores de gás e promover a competitividade no mercado. (Assista à íntegra da entrevista acima.)
“Falo isso da perspectiva de quem é o operador do maior campo de gás em desenvolvimento no Brasil hoje [Raia]. A gente tem uma visão muito otimista em relação ao mercado de gás, tanto é que tomamos a decisão de investimento”, disse a executiva à eixos.
O campo de Raia, na Bacia de Campos, vai produzir 16 milhões de metros cúbicos, o que equivale a 15% da demanda de gás projetada para o país em 2028, quando está previsto o início da produção.
Segundo Coelho, é necessário um ambiente regulatório estável e com previsibilidade. O Brasil é o principal destino de investimentos da Equinor fora da Noruega.
“O Brasil tem realmente essa tradição de, no longo prazo, ter uma estabilidade no ambiente regulatório, no ambiente fiscal”, ressaltou.
Ela ressaltou que mudanças repentinas nas regras do mercado de petróleo e gás são ruins para os investimentos e elevam as exigências para a aprovação de novos projetos no país.
Quando a Equinor no Brasil estava prestes à apresentar ao conselho de administração da companhia o plano para sanção dos investimentos em Raia, na Bacia de Campos, o governo brasileiro decidiu taxar por quatro meses as exportações de petróleo, lembra a CEO.
A presidente cita a Medida Provisória n° 1.163/2023 como uma “surpresa”, em um momento no qual o conselho da companhia estava avaliando uma importante decisão de investimento.
A MP estabeleceu alíquota de 9,2% para o imposto de exportação para o petróleo. A cobrança serviu para compensar a extensão da desoneração dos combustíveis
“Pegou muita gente de surpresa, definitivamente. E causa uma percepção de risco maior do que a gente gostaria de ter num momento de decisão tão importante, de um investimento tão vultuoso”, disse.
“Quanto maior o risco, maior a expectativa de retorno, sempre. Você vai colocando a barra cada vez mais alta para os investimentos aqui no Brasil”, acrescentou.
Coelho também reforçou a posição da Equinor de ser favorável a uma regulamentação do mercado de carbono, para que as empresas não assumam compromissos apenas de forma voluntária.
“Assim, a gente coloca todo mundo competindo em bases iguais”, disse.
A executiva lembrou ainda que é importante que o país tenha metas pragmáticas de descarbonização. Segundo ela, os investidores precisam de clareza sobre a velocidade das metas para a transição energética.
“É muito importante também que a gente saia da retórica muito ambiciosa e consiga trazer isso para a realidade”, afirmou.