RIO – A Petrobras está “trabalhando fortemente” para aumentar a oferta de gás natural no mercado brasileiro e, assim, baratear o preço da molécula ao ponto de viabilizar novos projetos de fertilizantes nitrogenados e de outras indústrias no país, disse a CEO da estatal, Magda Chambriard, ao estúdio eixos na ROG.e., nesta quarta (25/9), no Rio de Janeiro. (Assista na íntegra acima)
Em sua primeira entrevista exclusiva desde que assumiu a petroleira, Chambriard destacou que o potencial de crescimento do mercado brasileiro de gás é imenso e que a demanda poderia ser ao menos três vezes maior se a molécula tivesse um preço adequado.
E acrescentou que trazer mais gás para a costa é o único jeito de baixar os preços.
Como agente dominante do mercado, a Petrobras é também formadora de preços: se a estatal baixa os seus preços, também pressiona os preços da concorrência para baixo.
“O que a gente vai fazer é melhorar a oferta de gás para o mercado e, com isso, tentar viabilizar um gás mais barato que viabilize, sim, todos esses projetos. Não é só a fábrica de fertilizantes. É também a siderurgia, são os vidros, alimentos e bebidas, papel e celulose. São os químicos em geral”, comentou.
Essa mudança na visão estratégica, segundo ela, é o que justifica o otimismo de sua gestão em apresentar, no 1º trimestre de 2025, uma proposta viável para retomar os investimentos na fábrica de fertilizantes de Três Lagoas (MS).
“A gente tem um trade-off: quer ganhar muito em pouca coisa ou ganhar um pouco menos em muita coisa e viabilizar muito mais projetos e muito mais a venda e lucratividade. Então, é isso que nós estamos estudando. Essa é a diferença de abordagem que nós estamos inserindo agora”, disse.
Magda vê valor no decreto do Gás para Empregar
A CEO da Petrobras disse que vê valor no novo decreto regulamentador da Lei do Gás, porque ele muda o racional do planejamento de novos projetos de produção em prol do maior aproveitamento do gás.
“A gente não investe no gás porque não tem mercado e não tem mercado porque não investiu no gás. Então a gente tem que romper esse ciclo. E acho que a Petrobras tem toda a possibilidade de romper esse ciclo, trazer mais gás para a costa, viabilizar mais gás para a costa. Nós estamos começando a trabalhar nisso fortemente. Eu acho que o decreto vem para ajudar nessa conscientização”, comentou.
Ela destaca que diante da tendência de construção de novas plataformas sem capacidade de exportação de gás para a costa, nos últimos anos, o valor do gás para o desenvolvimento foi esquecido.
“Então, o que se fez foi, alegando um momento pontual na indústria, usar uma caneta técnica para fazer uma política energética, à revelia da política energética do país”.
“Qual é o valor do decreto? (…) É que ele diz que, tendo viabilidade técnica, tendo viabilidade econômica, a gente vai querer que vocês [empresas] exportem gás. Mas, não tendo, que deixe a instalação preparada para quando tiver”.
“Porque a pior coisa que pode haver é você fazer uma instalação que nunca vai permitir a exportação de gás e privar a geração futura desse energético valioso que pode beneficiar o país, a economia do país e a qualidade de vida no país”.
O que diz o decreto do Gás para Empregar
O decreto reforça o papel da Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP) no controle da reinjeção e permite que o regulador reveja planos de desenvolvimento para reduzir os volumes injetados “ao mínimo necessário”.
A percepção de risco de mudar o que foi aprovado (e levou às decisões de investimento) é uma das principais queixas das petroleiras – inclusive de gestões passadas da Petrobras.
O próprio decreto, no entanto, prevê que seja observada a viabilidade técnico-econômica da reavaliação da reinjeção.
A Petrobras avalia internamente ampliar a capacidade de exportação de gás em Búzios, com a entrada de uma 12ª plataforma. O campo de Búzios, no pré-sal, foi concebido para ter 12 FPSOs; atualmente, 11 estão em operação ou contratados.
As plataformas mais recentes de Búzios têm sido contratadas com foco na reinjeção de gás para maximização da produção de petróleo. Nos últimos anos, houve uma mudança no perfil de reinjeção nos campos do pré-sal.
Os FPSOs mais recentes passaram a ser planejados com capacidades cada vez maiores de produção de petróleo.
Ao menos quatro das plataformas mais recentes, contratadas pela Petrobras, preveem a reinjeção total do gás e uma produção de 225 mil barris/dia – ante os patamares usuais, até então, de 180 mil barris/dia.