Diálogos da Transição

Data centers aquecem demanda futura de energia no Brasil

Novos pedidos de projetos de data centers para acesso à rede elétrica brasileira elevam em 9 GW projeção de consumo até 2035, informa MME

Mercado de data centers aquece demanda futura de energia elétrica no Brasil. Na imagem: Rede de transmissão de energia conectada a edifícios do centro de dados da Google em The Dalles, no estado de Óregon, EUA (Foto Wiki Commons)
Edifícios do centro de dados da Google em The Dalles (Óregon) conectados à rede | Foto Wiki Commons

NESTA EDIÇÃO. Novos pedidos de projetos de data centers para acesso à rede elétrica brasileira elevam a demanda para 9 GW até 2035, informa MME.

No mundo, setor já supera a frota de veículos elétricos no crescimento do consumo.

Um desafio para metas de emissões líquidas zero de big techs, como o Google.


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Entre maio e agosto de 2024, dez novos projetos de centros de processamento de dados iniciaram o processo de acesso à rede básica de energia elétrica, segundo informações do Ministério de Minas e Energia (MME) indicando uma demanda que pode chegar a 9 GW até 2035.

Informações divulgadas pela pasta nesta quarta (18/9) indicam que as instalações de data centers no Brasil estão ganhando impulso, trazendo novos desafios para o planejamento da transição energética.

Reforços no suprimento de energia elétrica e avanços em relação aos índices mínimos de eficiência energética para equipamentos e edificações são alguns exemplos elencados pelo governo.

Até agosto, o MME contabilizou 22 projetos registrados nos estados de São Paulo, Rio Grande do Sul, Ceará, Rio Grande do Norte e Bahia com pedidos de acesso à rede de transmissão. Em maio eram 12, com uma demanda máxima de 2,5 GW até 2037 – ou seja, houve um crescimento de 3,6 vezes no intervalo de apenas quatro meses.

Uma oportunidade para o país se posicionar como um hub tecnológico da América do Sul, comenta o ministro Alexandre Silveira, em nota.

Enquanto países na Europa e regiões nos Estados Unidos começam a impor restrições regulatórias à expansão desses centros de dados justamente pela alta demanda energética e o impacto disso nas emissões de gases de efeito estufa, no Brasil, há um potencial a ser explorado, inclusive para aproveitamento de capacidade eólica.

  • O mercado de energia eólica vive um paradoxo no Brasil: ao mesmo tempo em que bate recordes de novas instalações de usinas, passa por sua mais grave crise. Desde 2022 houve uma redução significativa na demanda por energia, o que resultou em menos pedidos nas fábricas e consequente desaceleração na instalação de novos parques.


As instalações de data centers no Brasil, por outro lado, vêm crescendo a uma taxa média de 20,8% ao ano entre 2013 e 2023, segundo levantamento da consultoria imobiliária JLL. O país lidera o setor na América Latina, concentrando cerca de 40% dos novos investimentos na área. 

O mapeamento aponta 135 instalações do tipo no país, a maioria no estado de São Paulo. 

A expectativa do governo é que os investimentos em data centers no Brasil continuem em curva de ascensão, dada a alta demanda por serviços de nuvem e inteligência artificial, além da necessidade de encontrar locais estratégicos para a instalação desses empreendimentos.

Em 2022, centros de dados em todo o mundo (excluindo criptomoedas) responderam por cerca de 1-1,3% da demanda global de eletricidade e essa participação deve chegar a uma faixa entre 1,5-3% até 2026, estima a Agência Internacional de Energia (IEA, em inglês).
 
O crescimento no consumo supera o de veículos elétricos – também em franca expansão – e, em alguns mercados, já representa uma fatia importante da demanda, como Irlanda (18%) e Singapura (7%).
 
Ao mesmo tempo, estão impulsionando PPAs ao redor do mundo. Segundo a BloombergNEF, as corporações anunciaram 46 gigawatts (GW) em contratos de energia solar e eólica em 2023, cerca de 12% a mais do que o recorde anterior de 41 GW em 2022, com destaque para as big techs.
 
Pelo quarto ano consecutivo, a Amazon foi a maior compradora corporativa de energia limpa do mundo, com 8,8 GW de PPAs em 16 países. O portfólio de energia renovável da companhia chegou a 33,6 GW – maior que a capacidade instalada do Chile. 

Em julho deste ano, ao divulgar o seu relatório de sustentabilidade, o Google apontou aumento de 48% nas suas emissões de CO2 em relação a 2019, motivada pelo alto consumo de eletricidade demandada pela inteligência artificial e sua crescente frota de data centers.
 
O grupo tem meta de atingir emissões líquidas zero até 2030, mas vem relatando dificuldades em descarbonizar.
 
Desde que definiu o objetivo net zero, suas emissões só cresceram: 13% em 2023 em comparação com 2022, e 48% desde 2019, seu ano base. (S&P Global)


Clima extremo. A Confederação Nacional dos Municípios (CNM) estima que 11,2 milhões de pessoas já foram diretamente afetadas por incêndios florestais nas cidades brasileiras desde o início deste ano. Os prejuízos econômicos com as queimadas são calculados em R$ 1,1 bilhão. A estimativa foi feita com dados de 2024, que mostram que, até a última segunda-feira (16), 538 municípios decretaram situação de emergência por conta dos incêndios. (Agência Brasil)
 
Brasil busca maior envolvimento dos EUA. Durante o Brazil Climate Summit, em Nova York, nesta quarta (18/09), o presidente da Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos (ApexBrasil), Jorge Viana, disse que falta participação de companhias dos Estados Unidos em setores cruciais como mineração, baterias para veículos elétricos e hidrogênio verde no Brasil.
 
Segundo Viana, enquanto China e Europa têm aumentado significativamente seus investimentos em transição energética no Brasil, os Estados Unidos, apesar de serem os maiores investidores diretos no país, ainda não participam de setores-chave da transição energética.
 
O mundo está na rota da mobilidade sustentável? Apesar dos avanços tecnológicos, a migração do transporte particular para opções de mobilidade sustentável – como transporte público, caminhada, ciclismo e carros compartilhados – não se materializou como esperado, mostra uma análise publicada no início de setembro pelas consultorias europeias Arthur D. Little e POLIS.
 
O levantamento mostra que os carros particulares ainda são responsáveis ​​por 70% dos passageiros por quilômetros em áreas urbanas e 90% em áreas rurais – destacando o desafio e urgência de uma transformação significativa nos hábitos de transporte.
 
Biogás na Paraíba. O grupo italiano Asja e a brasileira Migratio Bioenergia anunciaram nesta terça (17/9) que estão investindo R$ 40 milhões na construção de duas usinas de biogás para transformar em eletricidade os resíduos de aterros sanitários da Ecosolo, dos municípios de Campina Grande e Guarabira, na Paraíba. Empreendimentos terão potência instalada de 2,5 MW e, juntos, vão gerar cerca de 40 GWh/ano para o mercado de geração distribuída.
 
Chamada socioambiental. A Elera Renováveis está com inscrições abertas, até o dia 25 de setembro, para o 15º Edital Socioambiental. A iniciativa selecionará até cinco projetos que poderão receber até R$ 100 mil para desenvolver ações socioambientais.