FPSOs

Financiamento é desafio para afretamento de plataformas, diz CEO da Modec

Executivo defende discussão de novos modelos de contratação para plataformas, com mudanças na indústria e dificuldade de acesso a financiamento

CEO da Modec no Brasil, Katsuyuki Imaizumi
CEO da Modec no Brasil, Katsuyuki Imaizumi | Victor Curi

A busca por investimentos menos emissores de carbono tornou mais difícil para a indústria de petróleo e gás acessar as instituições financeiras. O cenário tem impactado a contratação de plataformas pelo modelo do afretamento, segundo o CEO da Modec no Brasil, Katsuyuki Imaizumi.

A situação da indústria mudou com a maior dificuldade de acesso a financiamento, por isso, na visão do executivo, é necessário que o setor procure se adaptar a esse novo cenário.  

“O desenvolvimento de novos projetos offshore continua. Mesmo com as mudanças no setor de petróleo e gás, ainda há grandes projetos”, ressaltou, em entrevista exclusiva à agência eixos

A multinacional japonesa segue interessada em buscar novos contratos com a Petrobras, apesar de não ter participado das licitações mais recentes da estatal. 

Segundo o executivo, a decisão da Modec para ficar de fora das concorrências levou em conta também da carteira de grandes encomendas em andamento na região. 

Ao todo, a Modec tem três unidades em construção, sendo uma para a Guiana e duas para o Brasil — os FPSOs dos campos de Bacalhau e Raia, ambos operados pela Equinor.

Em busca de voltar a participar das próximas licitações da Petrobras, a empresa tem travado conversas com a estatal em busca de novas soluções financeiras para futuros projetos. 

Segundo Imaizumi, a petroleira tem indicado que pode passar a contratar plataformas no modelo build-operate-transfer (BTO), no qual a empresa contratada fica responsável pela construção, entrega e instalação da unidade, que depois é transferida para a operadora. 

Nos últimos anos, todos os projetos da Petrobras foram contratados pelo modelo de afretamento, mas a petroleira tem indicado que pode voltar a fazer as próprias unidades. Não há contratações recentes no modelo BTO no Brasil. 

“Estamos esperando para ver como serão os novos modelos. Caso se adequem ao nosso apetite e situação financeira, poderemos participar desses novos desenvolvimentos”, disse o CEO.

Um outro desafio no atual contexto é o aumento do tamanho dos projetos, o que também dificulta o acesso a financiamentos. 

A indústria tem demandado plataformas cada vez maiores, com investimentos que chegam a US$ 3 bilhões, segundo Imaizumi.

“Precisamos encontrar um equilíbrio entre o quanto conseguimos financiar no mercado e o restante poderia vir das operadoras, como a Petrobras”, disse. “Precisamos encontrar novos esquemas, termos e soluções”. 

A Modec é responsável, por exemplo, pelo FPSO que será instalado no campo de Bacalhau, operado pela Equinor no pré-sal da Bacia de Santos.

Com previsão de entrar em produção em 2025, o navio-plataforma será um dos maiores do país, com capacidade para produzir até 220 mil  barris de petróleo por dia e 15 milhões de m³/dia de gás natural.

A japonesa também vai entregar a unidade do campo de Raia, na Bacia de Campos. Também operado pela Equinor, o projeto terá uma capacidade de produção de 16 milhões de m³/dia de gás natural e deve entrar em operação em 2028. 

Modec tem contrato para 16 plataformas

Ao todo, a Modec já fechou contratos para 16 plataformas para instalação em projetos brasileiros, sendo que 14 já estão em operação. 

Imaizumi  lembrou que a maior parte das operações e dos empregados da companhia japonesa em todo o mundo estão localizados no país. 

“O Brasil é o país mais desenvolvido e com o maior volume de investimentos em projetos offshore”, afirmou. 

Para o executivo, um dos pontos positivos é que não é apenas a Petrobras que tem demonstrado apetite para investir no Brasil, como também outras grandes petroleiras internacionais (conhecidas pela sigla em inglês “IOCs”). Essas empresas também têm fechado contratos pelo modelo de afretamento no país. 

As operações brasileiras servem ainda como base para a Modec em outros países da América do Sul que têm tido aumento na produção de petróleo e gás, como a Guiana. 

O executivo apontou ainda que o Brasil tem potencial para exportar tecnologias de exploração e produção em águas profundas. 

“A tecnologia da Petrobras é muito avançada”, destacou. 

No contexto da transição energética, Imaizumi lembrou que é importante que a indústria global de óleo e gás consiga manter uma cadeia de fornecedores saudável. Há uma capacidade limitada, por exemplo, para a entrega de turbinas a gás no mundo hoje. 

“A cadeia de suprimento, sobretudo na China, está muito concentrada na etapa de construção, principalmente para novas unidades”, aponta. 

A Modec tem buscado reduzir a pegada de carbono dos novos projetos em construção, assim como aplicar novas tecnologias para reduzir as emissões das unidades já em operação. 

“Estamos desenvolvendo novos processos, mudando as operações e trazendo novas tecnologias para reduzir as emissões dos projetos existentes”, disse. 

Uma das soluções adotadas nos projetos mais recentes é o uso de sistemas de geração de energia de ciclo combinado, que levam a uma demanda até 30% menor de combustível para geração de energia nas plataformas. 

A empresa também começou a desenvolver soluções para captura de carbono. Para avançar nesse tema, no entanto, Imaizumi ressaltou que vai ser necessária uma colaboração intensa com as petroleiras, além da definição das áreas onde o CO2 poderá ser injetado. 

No longo prazo, a companhia tem planos de entrar no mercado de projetos eólicos offshore flutuantes, que ainda estão em fase de estudos de viabilidade técnica e financeira na companhia. Por enquanto, o foco nesse segmento ainda está nos empreendimentos na costa do Japão. 

O Brasil deve começar o desenvolvimento das eólicas offshore com unidades fixas, mercado em que a Modec não atua. A Petrobras já indicou interesse em estudos para unidades eólicas flutuantes no futuro.