A Associação Brasileira das Indústrias Químicas (Abiquim) tem se articulado junto ao governo e ao Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (MDIC) por mudanças relacionadas à importação de matérias-primas para a indústria, de modo a tornar o mercado brasileiro mais competitivo.
Entre as propostas da Abiquim estão a elevação temporária do imposto de importação e avanço das discussões da estrutura tarifária do Mercosul.
“Nossas tarifas não estão em linha com o que está sendo praticado na Europa e nos Estados Unidos”, disse o presidente da associação, André Passos, à agência eixos.
Considerado baixo pela associação, o imposto de importação de 12,5% para a produtos da indústria química, sobretudo chineses, associado a oferta limitada e preços elevados de gás natural vem tornando a indústria química brasileira menos competitiva, segundo Passos.
No Brasil, 70% da nafta petroquímica – principal matéria-prima usada no país – é importada.
Duas grandes fabricantes do setor decidiram fechar suas unidades no Brasil recentemente. Há o temor de que outras fábricas também parem as atividades.
Conforme noticiado pela CNN, a Fortal Química paralisou, por tempo indeterminado, as atividades em Candeias (BA). E a Rhodia comunicou a interrupção da produção de bisfenol na unidade de Paulínia (SP).
“Se nada for feito, poderemos ter mais interrupção por aí. O próprio CEO da Braskem já deu declaração de que está avaliando a descontinuidade de algumas unidades de produção. Muitas plantas industriais estão abaixo de 70% de utilização da capacidade”, disse Passos.
Segundo o executivo, o Brasil precisa combinar a política fiscal, de comércio exterior, energética e de insumos. O pano de fundo desse cenário é a mudança no mercado internacional.
“A gente tem dois gigantes brigando por fatias do mercado de uma série de bens estratégicos, como o aço, químicos e o alumínio. De microchip a foguetes, hoje não se faz nada sem químicos. China e Estados Unidos estão disputando pesadamente em uma guerra comercial na qual cada um deles usa suas vantagens”, afirmou.
Os dois países têm amplo acesso a gás natural e matéria-prima barata. No caso americano, também há instrumentos de proteção e defesa comercial, como a elevação do imposto de importação sobre químicos chineses para 32,5%.
As discussões em torno das especificações do gás natural pela Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP) também são acompanhadas de perto pela associação.
Para o presidente, há ajustes a serem feitos para evitar que o produtor de gás deixe de fornecer etano para a indústria petroquímica.
De acordo com Passos, um eventual acordo para a separação do etano não traz “equilíbrio entre as partes”, pois o produtor tem vantagens.
Segundo o executivo, a competição pela compra do gás nacional faz o energético custar muito mais do que a indústria petroquímica pode pagar.
A Abiquim defende, ainda, que elementos que constam no decreto do Gás para Empregar deveriam migrar para a ANP.
Atualmente há uma consulta pública em andamento quanto às especificações, mas o presidente da associação não enxerga, no horizonte de curto prazo, uma redução nos preços a partir de mudanças regulatórias.
“Nós não sabemos se o preço vai chegar ao ponto de ser comparado, por exemplo, ao mercado americano, russo, chinês, ou mesmo o europeu. Então, a gente precisa combinar mecanismos no Brasil. Nós passamos para o governo o plano de estímulo para a indústria química, que contempla toda a cadeia produtiva, e ele tem que estar na Nova Indústria Brasil”, disse Passos.