Hidrogênio de baixo carbono

Indústria nuclear defende inclusão da fonte em regras da UE para hidrogênio de baixo carbono 

O objetivo é abrir espaço para uso de eletricidade de origem nuclear na produção do hidrogênio eletrolítico

Indústria nuclear defende inclusão da fonte em regras da UE para hidrogênio de baixo carbono (Foto: Laurent Chamussy/European Communities Audiovisual Service)
(Foto: Laurent Chamussy/European Communities Audiovisual Service)

RIO — Em uma carta aberta divulgada nesta terça (10/9), um grupo de empresas e associações europeias ligadas à energia nuclear pede o reconhecimento do papel das “fontes de eletricidade não fósseis” no Ato Delegado que define o regras para o hidrogênio de baixo carbono, atualmente em discussão pela União Europeia (UE). 

O objetivo é incluir a possibilidade de uso de eletricidade de origem nuclear na produção do hidrogênio eletrolítico – obtido a partir da eletrólise da água com energia renovável.

Hoje, apesar da energia nuclear ser livre de carbono, ela não é considerada uma fonte “verde” pela União Europeia, dentro da definição de hidrogênio renovável ou combustíveis renováveis de origem não biológica (RFNBO, na sigla em inglês). Logo, não tem acesso a incentivos previstos pelo bloco na produção de hidrogênio. 

“A indústria de eletrólise da UE precisa de uma definição de hidrogênio eletrolítico de baixo carbono que aproveite os pontos fortes da Europa e facilite o lançamento efetivo de nossa cadeia de valor eletrolítica”, diz a carta enviada à Comissão Europeia.

Entre os signatários, estão as associações de hidrogênio de países do bloco europeu pró-nuclear, como a France Hydrogene, Croatian Hydrogen Association, Bulgarian Hydrogen Association, entre outras.  

Além de empresas como a EDF e John Cockerill, que atuam na operação de plantas de geração nuclear, e a GravitHY, que atualmente desenvolve uma planta de aço verde no Sul da França, que irá utilizar como matéria-prima hidrogênio produzido a partir de energia nuclear.

Em julho, o Tribunal de Contas Europeu (TCE), que audita as ações adotadas pela Comissão, chegou a publicar um documento onde afirmava ser “excessivamente ambiciosa” e “irrealista” a meta da UE de produzir e importar 20 milhões de toneladas de hidrogênio renovável até 2030.

O documento dizia ainda que a Comissão deveria incluir o hidrogênio de baixo carbono – que abrange nuclear e fontes fósseis com captura de carbono – dentro da meta de produção e importação.

Na ocasião, a Comissão rejeitou a recomendação do Tribunal e decidiu manter as metas anteriormente estipuladas, restritas ao hidrogênio renovável. 

Na carta divulgada nesta terça, as empresas e associações defendem que o novo Ato Delegado introduza uma metodologia capaz de reconhecer o conteúdo de carbono específico, ou seja, diferente da média da rede, para contratos de compra e venda de energia de longo prazo (PPAs) de fontes não fósseis. 

“O próximo Ato Delegado de hidrogênio de baixo carbono apresenta uma oportunidade única de abraçar o realismo defendido pelo Tribunal de Contas Europeu e atingir nossas metas compartilhadas para a produção de hidrogênio renovável”, diz a carta. 

Europa dividida

A inclusão da energia nuclear na produção de hidrogênio divide os países do bloco. A França entende que a mudança da Europa para a energia limpa exigirá hidrogênio produzido a partir de fontes renováveis ​​em combinação com a nuclear, e que as leis da UE devem refletir o direito dos estados membros de escolher seu próprio mix de energia.

Apoiam a iniciativa, países como Bulgária, Croácia, República Tcheca, Hungria, Polônia, Romênia e Eslovênia

Outros membros, incluindo Alemanha e Espanha — que decidiram pelo fim das usinas nucleares em seus territórios –, e a própria maioria da Comissão, argumentam que estimular energia nuclear prejudicaria os esforços para expandir massivamente a energia eólica e solar. 

No fim, o debate é mais político do que necessariamente técnico, dizem algumas fontes ouvidas pela agência eixos

A França, por exemplo, planeja construir 14 usinas nucleares, com o relançamento do seu programa de expansão nuclear.

Já a Espanha se destaca como um potencial hub de hidrogênio verde na Europa, seja como produtor, seja como ponto de recebimento e do hidrogênio produzido no Norte da África e escoamento para o resto do continente europeu. 

A Alemanha, por sua vez, foi um dos primeiros países do bloco a se posicionar restritivamente a favor do hidrogênio verde em sua estratégia nacional de produção e importação, muito devido ao seu domínio da tecnologia da eletrólise.