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Quase 4 mil municípios brasileiros enfrentam algum grau de seca. Reservatórios de hidrelétricas em baixa levam a acionamento de térmicas, com efeitos nas tarifas de energia.
Enquanto isso, incêndios colocam em risco sistemas elétricos e causam prejuízos milionários à safra sucroalcooleira.
E ainda: Marina pede marco para emergência climática, Agro comemora Combustível do Futuro e GD ganha mais prazo em texto aprovado no Senado.
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O Brasil está enfrentando este ano a pior seca de que se tem registro nos últimos 70 anos, com 3.978 municípios com algum grau de seca, sendo que 201, em condição de seca extrema, de acordo com o Cemaden (Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais).
A previsão é de que o número suba para 4.583, com 232 em seca severa agora em setembro e a situação pode se agravar já que há indicativos de atraso no início da estação chuvosa.
É um efeito da crise climática que o mundo vem enfrentando, com sucessivos recordes de temperatura, e impactos sobre o setor de energia.
Há poucos meses, falávamos sobre os impactos das enchentes e das fortes chuvas sobre as redes elétricas. Agora, o período seco e as queimadas também vão mostrando a urgência de mitigação e adaptação às mudanças climáticas.
Nesta quinta (5/9), a Climatempo alertou que mais de 109 mil focos de incêndio foram registrados no Brasil até o momento — um crescimento de 78% em relação ao mesmo período do ano passado (janeiro a agosto).
A perspectiva de que a estiagem se prolongue até novembro traz riscos para o setor elétrico, cujos ativos e operações podem ser bastante danificados pelas queimadas.
A consultoria meteorológica lista uma série de impactos das queimadas sobre o setor de energia como o aumento da temperatura local, que pode reduzir a eficiência de geração de energia, especialmente em usinas solares; e o acúmulo de partículas e fuligem nos painéis solares, reduzindo a capacidade de geração.
Além disso, a maior presença de partículas e cinzas é causa de curtos na rede de transmissão, já que podem danificar isoladores e outros componentes, levando a falhas e interrupções no fornecimento de energia. Há ainda a vulnerabilidade da infraestrutura, com danos diretos a componentes físicos da rede de transmissão e distribuição que trazem riscos elevados de desligamentos.
Térmicas para compensar reservatórios em baixa
O Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS) começou a antecipar o acionamento de usinas termelétricas, inclusive a carvão – a que mais emite carbono e impacta a mudança do clima –, devido à menor disponibilidade de recursos hídricos para o atendimento à demanda de energia elétrica nos horários de pico de consumo.
Além de emitir mais gases de efeito estufa, o acionamento termelétrico para garantir segurança energética terá um custo para o consumidor.
O encargo de serviço do sistema (ESS) em agosto chegou a R$ 436,5 milhões, estima um estudo da comercializadora Simple Energy. A cifra representa um salto de 683,49% ao mês de junho, por exemplo, quando o custo havia sido de R$ 55,7 milhões.
A estimativa é que no mês de agosto o valor represente um gasto adicional de R$ 9 por megawatt-hora (MWh).
A última vez que o ESS atingiu valores tão altos foi em dezembro de 2023. À época, o ONS despachou mais energia termelétrica por conta de ondas de calor que fizeram disparar o consumo de energia, principalmente no horário de ponta.
Vale dizer: setembro terá bandeira vermelha. Na quarta-feira (05/9), a Aneel alterou o patamar da bandeira tarifária de setembro. A bandeira vermelha foi reduzida do patamar 2 para o patamar 1 após a correção de informações do ONS.
No aumento anteriormente informado, no patamar 2, a cobrança era de R$ 7,87 a cada 100 quilowatt-hora (kWh) consumidos. Após a atualização, o custo extra passa a ser de R$ 4,46 para cada 100 kWh.
Danos de R$ 800 milhões à safra de cana
Levantamento da Organização de Associações de Produtores de Cana do Brasil (Orplana) estima que os incêndios que atingiram as propriedades rurais no estado de São Paulo e também em outras regiões do Brasil no final de agosto já causaram prejuízos de mais de R$ 800 milhões.
A conta considera os efeitos dos incêndios na cana em pé, nas soqueiras e na qualidade ruim da matéria-prima para produção de etanol.
O balanço divulgado nesta quinta (5/9) contabiliza os incêndios registrados no fim de semana dos dias 24 e 25 de agosto e as ocorrências subsequentes até a quarta-feira (4).
Ao longo desse período foram identificados mais de 2,3 mil focos de incêndios, que resultaram em mais de 100 mil hectares queimados em áreas de cana-de-açúcar e áreas de rebrota de cana — sem contar áreas de proteção permanente (APP), reserva legal e pastagens.
Segundo a Orplana, devido às perdas, a cana só vai conseguir rebrotar quando tiver água no solo, quando as chuvas chegarem.
Cobrimos por aqui
- Fórum Econômico Mundial alerta que até 2050 as mudanças climáticas podem causar 14,5 milhões de mortes e US$ 12,5 trilhões em perdas econômicas em todo o mundo
- Além disso, a crise climática pode deixar mais de cinco bilhões de pessoas sem água até 2050
- Está esquentando: nos primeiros meses de 2024, a onda de calor ficou 1°C mais quente
Curtas
Fogo & crédito rural. Parte da fumaça que se espalhou pelo Brasil em agosto deste ano teve origem em queimadas dentro de áreas na Amazônia financiadas por crédito rural, segundo levantamento da InfoAmazonia com base nos dados do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) e nos registros do Banco Central. Pelo menos 1.389 propriedades que receberam os recursos registraram fogo dentro dos seus limites de 1º de julho a 26 de agosto. A análise considerou áreas com crédito ativo em 2024.
Marco para emergência climática. Em audiência pública no Senado, a ministra do Meio Ambiente e Mudança do Clima (MMA), Marina Silva (Rede), afirmou que as mudanças climáticas, associadas ao fenômeno de baixa precipitação, altas temperaturas e elevado processo de evapotranspiração, em muito corroborados pelo aquecimento global, por queimadas e desmatamentos que ocorrem no país e no mundo, poderão gerar perdas como o desaparecimento do bioma Pantanal.
E defendeu que o Congresso crie um marco regulatório de emergência climática. (Agência Senado)
Agro feliz com Combustível do Futuro. Os produtores de biocombustíveis celebraram a aprovação do projeto de lei do Combustível do Futuro (PL 528/2020) no plenário do Senado Federal, na quarta-feira (4/9). O texto retorna à Câmara com a previsão de utilização de uma média decenal do gás natural comercializado para calcular os volumes de biometano que deverão entrar no mercado. Veja a repercussão
Mais prazo para GD solar. Uma emenda no projeto de lei do Combustível do Futuro garante a ampliação dos prazos para entrada de sistemas de minigeração solar distribuída com descontos em tarifas. A prorrogação é criticada pelo grupo que representa grandes consumidores e calcula custo extra nas contas de energia.
Isenção para painéis. Enquanto isso, a Câmara analisa um projeto de lei que isenta do Imposto de Importação (II) os painéis solares desmontados ou montados necessários à instalação dos sistemas de energia fotovoltaica. (Agência Câmara)
Até R$ 18 bi para hidrogênio no Brasil. O Senado aprovou o Projeto de Lei 3027/2024, que cria um programa de incentivos fiscais para o hidrogênio de baixo carbono. Entenda os principais detalhes da proposta que seguiu para sanção presidencial.
Árabes investem em H2 azul no Texas. A Abu Dhabi National Oil Company (Adnoc) anunciou, na quarta (4/9), a aquisição de uma participação de 35% no projeto de produção de hidrogênio e amônia de baixo carbono da ExxonMobil em Baytown, Texas. O aporte bilionário da companhia dos Emirados Árabes traz mais de certeza para a conclusão do projeto que andava em risco, devido à falta de incentivos do governo dos EUA. Veja detalhes
Mais renováveis. A matriz elétrica brasileira expandiu a oferta de energia em 7 GW no ano, com a entrada em operação de 203 usinas, afirma a Aneel. Dessas, 93 são solares e 90 são eólicas. Em agosto, a Bahia teve a maior expansão energética, com 16 novas usinas e ampliação de 299 MW na oferta. (Aneel)