Banco Central estuda estímulos para negociação de títulos verdes

Campos Neto afirmou que Brasil poderá se tornar um centro de negociação de créditos de carbono e estímulos aos títulos verdes serão anunciados

Roberto Campos Neto, Por Agência Senado
Roberto Campos Neto, Por Agência Senado

RIO — O presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, afirmou que o Brasil poderá se tornar um centro de negociação de créditos de carbono. Segundo o executivo, medidas de estímulo a investimentos em títulos verdes serão anunciadas em breve.

“Estávamos discutindo formas de colocar o país no mapa. Uma das ideias apresentadas, ainda em estudo, é que o Brasil fosse um centro negociador de carbono”, disse Campos durante o webinar promovido pela Climate Bonds Initiative (CBI), nesta terça (23).

Campos Neto destacou a necessidade de avaliar a vulnerabilidade das economias às mudanças climáticas – e a importância da precificação das externalidades para incentivar o mercado de carbono.

“O preço tem uma informação especial. Uma grande forma de ajudar nas governanças climáticas é a precificação”, defendeu Campos, ao lembrar que atualmente apenas 20% das emissões de carbono estão precificadas.

Globalmente, desde 2013 o mercado de títulos verdes (green bonds), oriundos de investimentos de baixo carbono, contabiliza mais de US$ 800 bilhões (R$ 3,4 trilhões) em emissões até o momento. O Brasil é o segundo maior mercado de títulos verdes da América Latina e Caribe. O país representa 30,5% da emissão na região, com US$ 5,9 (R$ 25 bilhões).

Agro demanda US$ 100 bilhões em capital de giro

Durante o webinar, foi lançado o relatório Destravando o Potencial de Investimentos Verdes para Agricultura no Brasil. O documento, elaborado pelo CBI em parceria com o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa), traz recomendações para desenvolver o mercado de títulos verdes no agro brasileiro. Veja o estudo na íntegra (.pdf)

O relatório aponta que o capital de giro necessário para agricultura é de US$ 100 bilhões por ano e aumenta ao se considerar o agronegócio como um todo.

“Queremos fortalecer esse mercado de finanças verdes no Brasil, que é uma potência agroambiental, comprometida com a sustentabilidade. Estamos abertos para saber o que causa as dificuldades para atrair investidores”, afirmou a ministra da Agricultura Tereza Cristina.

Recentemente, grandes fundos de investimento da Europa, responsáveis por gerir mais de US$ 2 trilhões em ativos, ameaçaram se desfazer de títulos de produtores de carne bovina e grãos, e até mesmo títulos do governo brasileiro, caso não observarem progresso no combate à crescente destruição da floresta amazônica, que vem se intensificando nos últimos anos.

No ano passado, o Nordea, um dos maiores bancos dos países nórdicos, já tinha deixado de comprar títulos da dívida brasileira depois dos enormes incêndios florestais que atingiram a Amazônia.

A ministra defendeu que apenas 8% do território nacional é ocupado por lavouras, e 20% pela pecuária, havendo ainda espaço para aumento da produtividade sem necessidade de desmatamento.

Tereza Cristina também ressaltou a lei 13.986 que facilita a entrada de capitais estrangeiros, que podem ser destinados a investimentos sustentáveis.

“Os títulos ficaram mais simples, com menos burocracia. Foi um ganho enorme. O CPR e CRA, por exemplo, podem ser referenciados em qualquer moeda no mercado doméstico e internacional”.

O ministro de Infraestrutura Tarcísio Freitas lembrou que a carteira de concessões de ferrovias do Ministério vem sendo certificada integralmente pelo CBI, com destaque para o Ferrogrão, projeto que pode ser beneficiado pela emissão de títulos verdes.

“É um projeto que está bem avançado. Em breve mandaremos para o TCU”, contou o ministro.

“Temos tudo para atrair o investidor, temos ativos de qualidade”.

Segundo o responsável por um dos maiores fundos de pensão da Europa, Jeroen Verleun, diretor de Investimentos do PGGM, os governos têm um papel importante para trazer credibilidade ao Brasil e atrair investimentos estrangeiros.

“Gostaríamos de ver a emissão de um título soberano brasileiro. O vizinho de vocês já fez”, disse Verleun, se referindo ao Chile, que ultrapassou o Brasil e agora lidera o ranking em volume de green bonds emitidos na América Latina.

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O país realizou grandes operações de títulos soberanos que somaram US$ 7,4 bilhões para investimentos em infraestrutura, com destaque para transporte e mobilidade urbana. O Brasil até agora não realizou nenhuma operação deste tipo.

A emissão de títulos soberanos consta nas recomendações do relatório do CBI, ao lado da expansão do Plano e o Programa de Agricultura de Baixo Carbono (Plano ABC) e da maior transparência dos dados de monitoramento e preservação ambiental .

A brasileira Sylvia Coutinho, CEO do banco suíço de investimento UBS na América Latina, apontou para o interesse do mercado em ativos verdes.

“Os investidores têm mudado seus critérios, considerando meio ambiente, impactos sociais, e governança. Inclusive estão relacionando sustentabilidade ao risco e retorno”.

Pesquisa realizada pelo UBS, com mais de 3 mil investidores, mostrou um resultado surpreendente, segundo a executiva.  Os brasileiros são os mais preocupados com a sustentabilidade, a frente de investidores de países europeus.

“O Brasil tem os maiores ativos ambientais do planeta. Podemos ser líderes e inovar nessa área”, concluiu a CEO.

Etanol e Biodiesel

Segundo o relatório, existem oportunidades de investimento na produção de matéria-prima e na expansão de unidades novas e existentes para a produção de etanol de cana de açúcar. Seriam necessários US$ 4 bilhões (R$ 17 bi) para a construção e US$ 2,4 bi (R$ 10 bi) para expansão de usinas de etanol.

Além disso, US$ 6,8 bilhões (R$ 29 bi) bilhões em investimentos na plantação de cana de açúcar (áreas novas e existentes) e mais US$ 990,5 milhões (R$ 4,2 bilhões) para plantas de produção de etanol de 2ª geração e cogeração de cana-de-açúcar.

Já os investimentos em novas usinas de produção de etanol de milho estão estimados em US$ 1,1 bilhão (R$ 4,7 bi) com os investimentos na expansão da capacidade de produção de biodiesel avaliados em US$ 1 bilhão.