Durante a pandemia, a geração de energias renováveis superou as expectativas do mercado chinês, no primeiro trimestre de 2020. Os efeitos negativos, contudo, devem se dar sobre as perspectivas de adição de nova capacidade este ano.
“No primeiro trimestre de 2020, a geração de energia eólica e solar cresceu, superando inclusive os números do segmento no mesmo período de 2019”, contou Kevin Tu, especialista em energia e políticas climáticas da Universidade de Pequim e membro do Centro de Política Global de Energia da Universidade de Columbia, durante webinar do Instituto E+ Transição Energética, moderado pelo ex-ministro da Fazenda, Joaquim Levy.
Veja a apresentação (.pdf) completa feita por Kevin Tu no webinar.
No mesmo período, o consumo de energia caiu 2,8%. A queda se deu principalmente pela indústria, responsável por mais de 50% da demanda energética do país.
O setor sofreu grande impacto em janeiro e fevereiro, no pico da pandemia, mas em março já apresentava sinas de recuperação, ao contrário do setor de serviços, segundo mais afetado, e que piorou nos meses seguintes.
“A recuperação da indústria chinesa se mostrou rápida, diferentemente do setor de serviços que em março apresentou uma piora considerável em relação ao início da pandemia”, explicou Kevin Tu.
As reduções de emissões de CO2 causadas pela pandemia de covid- 19 também foram substanciais na China nos primeiros meses do ano. “Entretanto, é provável que tenham vida curta”, alertou o especialista.
Segundo ele, mesmo que os números indiquem um otimismo na transição energética do país asiático, ainda existe enorme resistência para abandonar projetos de energia nuclear e a carvão.
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A China consome mais da metade do carvão mundial, fonte responsável por 11% de toda a emissão global de CO2. Nos últimos anos, o governo chinês vem se comprometendo a reduzir sua dependência de combustíveis fósseis poluentes.
“O carvão ainda é a principal fonte de energia da China. Porém, ele vem apresentando queda na sua participação na matriz energética do país, saindo de 70,2%, em 2003, para 57,7%, em 2019”, explicou Tu.
Além das renováveis, o gás natural também foi responsável por ocupar parte da demanda deixada pelo carvão, saltando, no mesmo período, de 2,3%, para 8% sua participação na energia chinesa.
Ainda assim, o especialista destacou que o Conselho de Eletricidade da China (CEC), que representa geradores, construtores e fabricantes de equipamentos, prevê um aumento na geração de energia a carvão nos próximos anos.
Outro ponto destacado por Kelvin Tu é o plano nuclear chinês. “A China tem um dos mais ambiciosos projetos nucleares do mundo. A projeção da capacidade nuclear operacional da China até 2050 é de 500 GW, a depender da permissão da construção de reatores nucleares em escala.”
O especialista acredita que com a pandemia e a resistência da população a projetos como esse, principalmente depois do que ocorreu em Fukushima, a energia nuclear seja deixada de lado. “É improvável que o governo permita isso. O renascimento nuclear na China está distante”, afirmou Tu.
Para ele, o pacote de estímulo econômico chinês necessita urgentemente guiar a economia rumo a uma recuperação sustentável.
“Equilibrar melhor as metas políticas de curto prazo com as estratégias estratégicas de longo prazo é fundamental para a transição para a energia limpa na China”, concluiu.
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