Apesar de avaliarem que há uma convergência pela abertura no segmento do gás natural, representantes de empresas do setor cobraram do governo uma estratégia de aliar investimentos de escoamento e processamento com projetos e contratos que garantam a demanda no longo prazo
Executivos participaram nesta sexta (29) de em live organizada pelo BNDES para debater o mercado de gás e propostas para o setor.
A vice-presidente para o mercado de energia da Equinor no Brasil, Claudia Brun, destacou que a aprovação de investimentos para novos projetos de produção de petróleo e gás precisam ser feitas com muita antecedência e há vários entraves no cenário brasileiro, como a necessidade de um projeto com demanda firme para ancorar a produção de novos campos .
“O relatório do BNDES deixa bem claro que a nova oferta de gás depende primordialmente de novas infraestruturas de escoamento e processamento. Sem contrato de longo prazo para lastrear esses investimentos, é difícil convencer nossos boards para que isso aconteça”, pontuou.
A crise causada pelo coronavírus é, inclusive, mais uma das dificuldades que o setor enfrenta. Mesmo com um cenário positivo de integração do gás natural com térmicas, Brun destacou que o cancelamento do leilão por parte do Ministério de Minas e Energia é um indicativo de que a demanda de longo prazo pela energia elétrica não é muito promissora.
“No cenário atual, com os preços de petróleo derretendo, o crivo para decisões finais de investimento está mais exigente”.
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A harmonização com o setor elétrico também foi colocada pelo gerente executivo de Gás Natural da Petrobras, Rodrigo Costa. De acordo com ele, 40% do que a Petrobras tem hoje contratada no mercado de gás é voltado para o setor elétrico.
“É importante avançarmos desde no timing descasado dos projetos de óleo e gás com os leilões de energia, no avanço da valoração dos atributos e até no limite máximo de inflexibilidade que está em 50%”, disse.
Os projetos para garantir demanda do gás podem, inclusive, ser fora do âmbito de energia elétrica. É o que defendeu o gerente Regulatório da Shell Energy, Alexandre Cerqueira, ao lembrar que há oportunidades em desenvolver também as áreas de fertilizantes e outros projetos ligados ao segmento da indústria química em coordenação com o setor de gás.
“Se, por um lado, temos necessidade de rotas de escoamento para o novo gás, não temos sinalização de volumes de contratação de tamanho no prazo necessário para garantir uma tomada de decisão. O caso de Marlim Azul é exemplo de como um projeto âncora pode viabilizar ou ajudar a viabilizar investimentos dessa magnitude”, explicou.
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Fortalecimento da ANP e regulação de transporte também são apontados como desafios
Outra questão colocada pelos representantes da Shell e da Equinor como ponto de atenção das empresas foi a preocupação com o fortalecimento da ANP para que a agência seja capaz de realizar as mudanças necessárias. Segundo as empresas, haverá uma necessidade não apenas de recursos humanos, como também financeiros para que a agência promova o novo arcabouço regulatório.
Há também receio em relação ao transporte do gás, que afeta o mercado ainda hoje. Como destacado por Claudia Brun, as discussões sobre contrato de capacidade de transporte ininterruptível para o curto prazo não englobam a decisão que a empresa precisa tomar hoje sobre o contrato com as transportadoras.
Ainda há dúvidas das empresas sobre a possibilidade de comercialização gás, caso os compradores interrompam o consumo. “Vai haver um mercado secundário de gás? O que acontece se tivermos que reinjetar o nosso gás e o nosso parceiro do upstream não concordar? O gás que volta é de quem?”, questionou.
No âmbito do transporte, a Petrobras alertou que é preciso dar seguimento a modelagem de entrada e saída para aperfeiçoar e facilitar a prestação de serviço, com maior liquidez da troca da molécula, e aproximar a especificação fisico-química do gás para aproximá-lo de modelos internacionais.