Quando tratamos de biocombustíveis, estamos vivendo o auge do que eu chamo de primeira onda com o etanol e biodiesel como protagonistas. Nosso grupo empresarial ECB anunciou recentemente um novo desafio que envolve o que há de mais avançado em biotecnologia, os produtos da segunda onda.
O lançamento do Omega Green, mega complexo para produção de diesel renovável HVO (sigla em inglês para Hydrotreated Vegetable Oil) e do SPK (Synthesized Paraffinic Kerosine – pode ser utilizado misturado ao querosene de aviação) no Paraguai, com investimento estimado em mais de US$ 800 milhões, envolve a primeira planta de combustíveis renováveis de segunda geração do Hemisfério Sul.
Mas o que são esses novos combustíveis verdes do futuro?
O HVO e o SPK fornecem soluções de sustentabilidade para um planeta que deve reduzir suas emissões de CO2 em todas as formas de transporte. Eles são biocombustíveis avançados e representam um passo importante na busca por um combustível sustentável para o mundo do século 21.
Esses biocombustíveis são avançados porque podem ser produzidos com métodos limpos (com menos emissões de CO2). São produzidos a partir de resíduos de gordura animal, óleos de cozinha usados, bem como óleos vegetais. Os biocombustíveis avançados permitem que os resíduos gordurosos sejam reciclados e transformados em uma fonte de energia mais limpa e eficiente.
Quais são as vantagens sobre os biocombustíveis comuns?
Eles são combustíveis de “entrega imediata”, que vai “direto para o tanque”. Eles podem ser utilizado em 100% em motor diesel de um caminhão das décadas de 60 e 70 assim como nos motores de última geração desenvolvidos na Europa e nos Estados Unidos sem necessidade de adaptações, ao contrário de algumas outras alternativas ao uso de petróleo, que exigem um alto investimento na criação de infraestrutura de abastecimento e na própria compra de um novo caminhão ou ônibus.
O fato de eles entrarem diretamente no tanque sem a necessidade de adaptações do motor é uma diferença importante, pois torna o tamanho potencial do mercado muito maior do que o de um biodiesel tradicional, que costuma ser usado em uma mistura com o diesel fóssil.
Esse biocombustível pode ser usado por aviões?
Os biocombustíveis de primeira geração podem operar apenas até -5°C, os avançados podem funcionar a temperaturas muito mais baixas. O SPK, que será fabricado na planta Omega Green, pode operar a -45°C, ideal para uso por companhias aéreas, um setor que precisa de soluções eficazes para reduzir as emissões de CO2. O mais interessante é que a tecnologia que vamos utilizar na nova fábrica já produz este biocombustível no hemisfério norte e o mesmo SPK já foi aprovado para ser utilizado em aeronaves de grande porte.
Apesar de não reconhecermos tão diretamente a poluição provocada por um meio de transporte que está a 30 mil pés, é certo o forte impacto negativo que o avião tem para o meio ambiente. O setor tem feito pouco ou quase nada para a redução dos gases efeitos estufa e vai precisar trabalhar muito em tecnologia para reduzir em 50% as emissões até 2050. A chegada de um novo combustível sem necessidade de alteração de motor deverá ter um papel muito importante nesse setor da aviação.
O HVO e o SPK são uma solução para reduzir as emissões de efeito estufa?
Hoje, os biocombustíveis avançados são uma das principais ferramentas para reduzir as emissões de CO2. A diferença crucial entre os biocombustíveis de primeira e segunda geração é a tecnologia. Aplicamos hidrogênio na matéria-prima para produzir a reação que os transforma em combustível.
É um processo que requer energia elétrica e nos permite produzir uma série de diferentes produtos combustíveis, da mesma forma que uma refinaria convencional produz gasolina, diesel e querosene para aviação.
Erasmo Carlos Battistella é presidente da BSBIOS, do Grupo ECB e do Conselho de Administração da APROBIO – Associação dos Produtores de Biocombustíveis do Brasil. Escreve no blog Biocombustível Avançado