27 de setembro foi dia dos funcionários das empresas de Óleo e Gás trabalharem acompanhando a performance dos seus representantes na oferta de 287 blocos entre as 9 bacias (marítimas e terrestres). A segunda em 2017, a 14ª rodada de licitações da ANP superou as expectativas de muitos no quesito bônus de assinatura.
Houve surpresas: empresas estreantes, consórcios inéditos e pouco interesse na Bacia de Santos.
Veja o resumo dos resultados abaixo:
ExxonMobil em peso
As ofertas nos blocos da Bacia de Campos pelo consórcio Petrobras e Exxon confirmaram o que a mídia havia divulgado há meses atrás e incomodou a Petrobras, a ponto de divulgar um comunicado ao mercado esclarecendo que não haviam negociações em andamento com a empresa americana.
Contudo, o consórcio (50/50%) mostrou para que veio: ofertou o maior bônus de assinatura da história, no bloco C-M-346, R$ 2.241 milhões, sem dar brechas para as outras majors, que ofereceram valores irrisórios, se comparado.
Este bloco e o C-M-411 parecem prometer: a Petrobras, como operadora, tem amplo conhecimento por ser a pioneira na Bacia de Campos e provavelmente não apostou suas fichas para desbancar qualquer outra oferta à toa. A Exxon, até então com presença no mínimo sutil no Brasil, possui um diversificado portfólio de ativos, presença global e experiência em campos do Golfo do México.
Pequenas com atitude
A Karoon recebe o prêmio de “empresa revelação” no leilão ao arrematar integralmente um bloco na tradicional Bacia de Santos, onde já possui cinco blocos exploratórios sob operação, além de brigar contra grandes players em campos da Bacia de Campos. Em entrevista dada 13/09/2017, no jornal Valor Econômico, o Diretor Geral na América do Sul Tim Hosking falou que a estratégia da empresa é estar presente nos leilões que acontecerão, mas que também estão de olho em ativos em desinvestimentos, como as negociações mal sucedidas de Tartaruga Verde e Baúna.
Estes ativos lhe garantiriam um fluxo de caixa adiantado no curto prazo, com um volume menor de recursos para desenvolvimento da produção, enquanto parcerias estratégicas como a que vem sendo traçada com a estreante DEA Deutsch lhe garantiriam fôlego nos investimentos exploratórios onde já é operadora.
A Parnaíba Gás Natural, subsidiária da empresa de energia Eneva, arrematou cinco blocos, num total de R$ 2,7 milhões de bônus e compromisso exploratório de R$ 55,35 milhões. Valores consideráveis numa área em que ela já possui sete campos comerciais declarados (Parque dos Gaviões), sete Planos de Avaliação de Descoberta e sete blocos exploratórios da 13ª Rodada. Seus movimentos mostram a estratégia de domínio das reservas de gás já bem mapeadas e que alimentam seu inteligente sistema integrado (reservoir-wire, único no Brasil) de abastecimento para geração de energia elétrica e insumos petroquímicos para a região.
Repsol Exploración
A Repsol volta a participar de investimentos de exploração sem nenhuma parceria, depois de passar os ativos que detinha para a joint venture formada com a Sinopec em 2010, quando empresa espanhola passava por problemas de caixa e a chinesa aportou mais de US$ 7,1 bilhões, ficando com 40% da nova companhia.
A Repsol Exploración arrematou um bloco e já se inscreveu para o 3º leilão do pré-sal, enquanto a joint venture está habilitada apenas para o 2º leilão. As duas empresas vêm apresentando relações estremecidas desde que a Sinopec abriu processo de arbitragem requerendo US$ 5,5 bilhões pelo investimento na joint venture formada no Mar do Norte com a aquisição da Talisman Energy pela Repsol.
Para os blocos da Bacia de Campos, a Repsol fez lances com a Shell, sua parceira em Sapinhoá desde a compra da BG pela anglo-holandesa.
China, cada vez mais
A estatal CNOOC não deixou passar em branco sua inscrição na rodada, e bidou para um bloco, mostrando interesse também na Bacia de Campos. A empresa busca uma experiência mais robusta nos ativos brasileiros, do que os tímidos 10% no campo de Libra e já está inscrita no 3º leilão do pré-sal.
Total e BP
O consórcio formado pela Total e BP, cada uma com 50% de participação, se mostrou tímido nas ofertas. Talvez a Total esteja já satisfeita com a parceria estratégica firmada com a Petrobras na área de Iara e esteja guardando suas apostas nos blocos do pré-sal, a serem licitados no próximo mês.
A BP, possui ativos em exploração onshore distribuídos pelo país, sempre dividindo o risco com outras empresas. Destes, quase todos da Bacia Foz do Amazonas são divididos com a Total, indicando que a britânica está feliz com a parceria até o momento. Em desenvolvimento possui apenas 17,6% do campo do BC-2 com Total e Petrobras. Difícil dizer se a BP pretende expandir seu portfólio de maneira mais intensa no país. Contudo, ela está inscrita no 3º leilão do pré-sal.
* Christiano Lins Pereira e Ísis Ladeira são amigos, estudantes apaixonados pela Engenharia de Petróleo na Universidade Federal Fluminense (UFF) e auditores na KPMG do Brasil.