Produção da Petrobras em águas rasas cai novamente; campos estão à venda

Diretor-geral da ANP, Décio Oddone, estima que produção pode triplicar quando ativos forem transferidos para novos operadores

Plataformas geminadas de Pargo 1A e 1B operando
no Polo Nordeste da Bacia de Campos. Foto: Taís Peyneau/ Banco de Imagens Petrobras
Plataformas geminadas de Pargo 1A e 1B operando no Polo Nordeste da Bacia de Campos. Foto: Taís Peyneau/ Banco de Imagens Petrobras
Plataforma fixa instalada no campo de Peroá, na Bacia do Espírito Santo. Foto: Cortesia Petrobras

A produção da Petrobras em campos localizados em águas rasas no offshore brasileiro caiu 25% no primeiro semestre do ano, passando de 93 mil barris por dia para 69 mil barris por dia. No trimestre, a queda foi de 17,8%, passando de 76 mil barris por dia para 62 mil barris por dia. 

Os campos em águas rasas saíram do radar de investimentos da Petrobras há alguns anos. Desde 2017 a empresa está trabalhando para vender os ativos, inicialmente no Nordeste e posteriormente também no Sudeste. 

O diretor-geral da ANP, Décio Oddone, estima que a venda dos campos em águas rasas e em terra da Petrobras deve triplicar a produção dos ativos em dois ou três anos. A aposta que é os novos operadores vão investir no aumento do fator de recuperação e no redesenvolvimento dos campos. 

“E que quando o Ministério de Minas e Energia liberar a oferta permanente dentro do polígono do pré-sal eles (os novos operadores) vão disputar áreas livres no entorno. Está cheio de pequenas descobertas nunca desenvolvidas por ali”, disse Oddone. 

Novos operadores

A Petrobras anunciou esta semana que assinou contrato,na casa de US$ 1 bilhão, com a Trident Energy  para a aquisição dos campos que englobam os polos Enchova e Pampo, em águas rasas da Bacia de Campos. Os polos incluem dez campos, mas nem todos produzem. Os sistemas são integrados: no polo Pampo, a produção de petróleo e gás é escoada pela plataforma PCE-1, em Enchova, onde é transferida, junto com a produção do polo Enchova, para a planta de Cabiúnas, em Macaé.

Em novembro de 2018, a Petrobras anunciou o acordo em que a Perenco comprou, por US$ 370 mil (R$ 1,4 bilhão), os campos de Pargo, Carapeba e Vermelho. Carapeba, Pargo e Vermelho entraram em operação entre 1988 e 1989 e chegaram a produzir 97 mil barris de óleo equivalente (boe) por dia em 1990, quando Pargo e Vermelho atingiram de o pico de produção. Em Carapeba, o auge foi em 1992, quando a produção combinada foi de 81 mil barris/dia. A produção média este ano está em 3,6 mil boe/dia.

A Perenco enxerga possibilidade de estender em pelo menos 20 anos a produção dos campos de Carapeba, Pargo e Vermelho, em águas rasas da Bacia de Campos.  A empresa entende que é viável a reativação de pelo menos 50 poços nos campos.

Desinvestimento 

A Petrobras ainda está vendendo cinco polos produtores de petróleo em águas rasas no offshore brasileiro. O último a entrar em oferta é o polo Peroá, onde a empresa vai vender 100% dos campos de Peroá e Cangoá e a descoberta de Malombe, no bloco BM-ES-21, onde detém 88,9%, na bacia marítima do Espírito Santo. 

O pacote de venda inclui as instalações de produção e de escoamento e o gasoduto terrestre que interliga a plataforma PPER-1 a unidade de tratamento de gás de Cacimbas (UTGC). A produção atual dos campos de Peroá e Cangoá é de cerca de 900 mil m³/dia de gás não-associado, mas o sistema tem capacidade para produzir 8 milhões de m³/dia.

Em Malombe, a Petrobras estima um potencial de produção de 2,5 milhões de m³/dia de gás. Atualmente, a companhia detém 88,9% do bloco BM-ES-21, em parceria com a Repsol, com os 11,1% restantes. A sócia, contudo, aguarda decisão da ANP para deixar o ativo.

Desde 2017 estão à venda os polos Ceará, Merluza, Rio Grande do Norte e Merluza, o último em águas rasas da Bacia de SAntos. Todos os polos têm juntos 17 campos com baixa produção e alguns deles parados. Todas as áreas têm contratos de concessão terminando em 2025, mas a ANP tem indicado renovação das concessões para projetos com novos planos de investimentos. 

O Polo Ceará engloba os campos Espada, Curimã, Xaréu, Atum, que em 2017 produzia a partir de 66 poços interligados a nove plataformas fixas. O Polo está localizado em águas rasas a uma distância de cerca de 30 km da costa, e com profundidade de reservatório entre 1.100 e 2.600m. 

Na Bacia de Santos, os campos de gás natural de Merluza e Lagosta fazem parte do Polo Merluza, onde a Petrobras também está vendendo a plataforma de produção e o duto de exportação do gás natural. A produção é feita por três poços interligados na plataforma fixa PMLZ-1, de onde gás e condensado são exportados por um duto de 16’’ e 215 km até a Refinaria Presidente Bernardes (RPBC), em Cubatão. 

A Petrobras está vendendo os campos de Ubarana, Cioba, Oeste de Ubarana, Agulha, Pescada e Arabaiana, todos no offshore potiguar. Junto com a concessão da área a empresa está se desfazendo de 54 poços produtores (dados de 2017) e 25 plataformas fixas (das quais quatro são habitadas), duas com facilidades de separação gás/líquido.  Todas as plataformas, dutos de exportação e um duto de importação de água para injeção estão incluídos no negócio. 

Por fim, na Bacia Sergipe-Alagoas, a empresa está vendendo os campos de águas rasas de Caioba, Camorim, Dourado, Guaricema, Tatui junto com 25 plataformas fixas que estão instaladas na região. Todas as plataformas, dutos de exportação, uma estação de tratamento de petróleo onshore, assim como uma planta de gás natural estão incluídos no negócio. 

Pode não parar por ai

Em março, durante a divulgação do resultado trimestral da empresa, a Petrobras anunciou que vai ampliar seu plano de desinvestimentos com a inclusão de mais campos maduros de petróleo e gás terrestres e em águas rasas, ativos de midstream e downstream. 

A medida faz parte do Plano de Resiliência aprovado pela diretoria da empresa, que tem como objetivos a redução do custo do capital; busca por custos baixos, meritocracia e respeito às pessoas e ao meio ambiente e foco na segurança de suas operações.