A importância da venda dos campos maduros da Petrobras

Placa de campanha de investimento na Bacia de Campos fixada na Rodovia Amaral Peixoto, no Cavaleiros. Macaé/RJ. Data: 10/08/2017. Foto: Rui Porto Filho
Placa de campanha de investimento na Bacia de Campos fixada na Rodovia Amaral Peixoto, no Cavaleiros. Macaé/RJ. Data: 10/08/2017. Foto: Rui Porto Filho

Por Mauro Destri

Nesta quarta (24), a Petrobras assinou com a empresa Trident Energy a venda dos Polos Pampo e Enchova. Esta venda é muito importante para a Bacia de Campos e para a revitalização de seus campos maduros. Vamos entender o porquê.

Os campos são concessões do BID 0, ou seja, se nada for feito para revitalizá-las e, consequentemente, estender suas vidas úteis para além da data de concessão em 2025. Ano que vem, deverá ser iniciado o processo de descomissionamento de todas as plataformas;

Com a descoberta do pré-sal em 2006 e a necessidade de desenvolvimento desta imensa riqueza, a Petrobras reduziu seus investimentos em campos maduros;

O acidente de Macondo em 2010 modificou radicalmente o olhar e a forma de atuar dos órgãos reguladores em todo o mundo. No Brasil, faz com que as exigências com relação às não conformidades aumentassem muito, inclusive, com a criação da Operação Ouro Negro, com atuação conjunta de quatro órgão reguladores – ANP, Ibama, Marinha e MPT. Agentes desses órgãos embarcam e realizam auditorias nos elementos estáticos, dinâmicos e de gestão. Estas auditorias, invariavelmente, geram não conformidades desencadeando esforços físicos, humanos e logísticos que exigem alto grau de custo operacional;

Em 2014, além de todos os problemas relativos à Operação Lava Jato, houve a vertiginosa queda do valor do Brent, dificultando ainda mais a escolha da Petrobras por investir em campos maduros, tendo em vista a existência, em seu portfólio, de investimentos muito mais lucrativos nos campos do pré-sal, além da necessidade de altos dispêndios de opex para manutenção da integridade e continuidade operacional das plataformas, poços e sistemas submarinos dos polos Pampo e Enchova, ainda mais em diante de restrições orçamentárias;

Restariam, então, à Petrobras, diante de tal cenário, o descomissionamento e a devolução das concessões ou o desinvestimento, que, felizmente, foi sua opção.

Quando digo “felizmente” refiro-me à manutenção de milhares de empregos diretos e indiretos, além de bilhões de reais em contratos de manutenção de poços, linhas, dutos e equipamentos submarinos, do top side das plataformas. Uma riqueza que poderia ser interrompida precocemente se não houvesse o desinvestimento.

Some-se à boa notícia da venda a enorme e fecunda gama de oportunidades que existem nos dois polos. Gerenciei algumas plataformas e, antes de me aposentar, a área de projetos da Bacia de Campos. Posso afirmar que as oportunidades espalhadas pelas concessões e plataformas são imensas e, tratando de investimentos, podemos esperar que o vencedor da licitação solicite da ANP uma extensão da vida útil do campo e das plataformas, para muito além de 2025. Isso é uma grande notícia para Macaé e região.

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Vamos lembrar um pouco da configuração destes dois polos:

O campo de Pampo, que produz majoritariamente pela plataforma PPM-1, foi descoberto em 1977, iniciando sua produção em 1984. Os campos de Enchova, Enchova Oeste e Bonito, que produzem por meio da PCE-1, foram descobertos em 1974 e iniciaram sua produção em 1977. Os campos de Marimbá e Piraúna, com a plataforma de P-08, foram descobertos em 1981 e iniciaram sua produção em 1983.

Já a plataforma de P-65, foi convertida para plataforma de tratamento de óleo e gás em 2001 entrando em operação em 2002 com o objetivo de tratar o petróleo produzido nas PPM-1 e PCE-1. Todas estas concessões foram outorgadas à Petrobras em 1998, no BID 0.

Como demonstrado, a malha de escoamento da produção e seus custos de inspeção e manutenção, somados a todos os outros sistemas envolvidos versus a produção atual dos polos, tornam antieconômica a manutenção dos campos em operação para a realidade Petrobras.

Percebam que as plataformas de P-07, P-12 e P-15 já estão com suas produções paradas desde 2015, aguardando tão somente autorização para serem descomissionadas, bem antes, portanto, do fim da concessão, em 2025, já causando impactos na região.

Caso tais concessões não sejam cedidas a outra empresa de menor porte, com custos mais aderentes à produção ora percebida, as plataformas acima corriam risco de serem descomissionadas precocemente e, os reflexos, somados ao descomissionamento de P-07, P-12 e P-15, seriam altamente negativos para toda uma cadeia produtiva de Macaé, região e, quiçá, do Brasil, gerando, fatalmente, desempregos em toda esta cadeia.

Neste contexto, a notícia de que estes campos estão em avançado estágio de negociação para sua cessão, bem como de seus sistemas produtivos, juntando-se à notícia recente de cessão de outros campos, são um alento para uma região tão carente da atividade de produção de O&G.

Certamente a economia irá reagir e, mais ainda, conhecendo as possibilidades dos campos, que tive a oportunidade de gerenciar antes de me aposentar, repito, uma empresa com outra realidade de custos poderá investir e garantir produção por algum tempo além do prazo final da concessão, como já dito, hoje previsto para 2025, solicitando à ANP, extensão de vida útil da produção, consequentemente, gerando riqueza na forma de tributos e empregos, por muito mais tempo.

Adicionalmente, podemos notar que todos os esforços para extensão de vida útil das unidades da Bacia de Campos estão sendo realizados, o que mostra o interesse tanto da Petrobras, quanto de operadoras interessadas e dos órgãos reguladores. Esta realidade é o que todos queremos, Macaé e região e no próprio país.

Excelentes notícias, vamos aguardar e ficar atentos, ansiosos e torcer para que as transações sejam frutíferas.