EUA devem proteger petróleo do Oriente Médio e Rússia perder mercado pela Opep?

EUA devem proteger petróleo do Oriente Médio e Rússia perder mercado pela Opep?

Barani Krishnan/Investing.com

Normalmente, as afirmações feitas na última segunda-feira pelo presidente dos EUA e o ministro de energia da Rússia teriam causado um enorme estrago no sentimento do mercado, provocando forte oscilação nos preços do petróleo devido à consternação dos traders e investidores.

Mas não vivemos tempos normais no petróleo.

Por isso, o mercado não deu tanta importância ao que foi dito ontem. Além disso, diversos outros fatores – desde apostas em uma segunda redução semanal nos estoques petrolíferos dos EUA até ameaças de Washington de duplicar as sanções ao Irã – brigavam pelos corações e mentes dos traders no mercado.

Ao final, os futuros do petróleo terminaram o dia sem direção única, com o West Texas Intermediate norte-americano subindo e o Brent britânico caindo, refletindo de certa forma a incerteza quanto à direção do mercado no curto prazo.

Mas, ao iniciarmos um novo pregão, vale a pena revisitar algumas das fortes manifestações de ontem que tiveram pouca atenção do mercado.

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EUA como “protetor não remunerado” do petróleo no Oriente Médio
Uma delas foi a reclamação do presidente dos EUA, Donald Trump, de que seu país estaria sendo usado como um protetor “não remunerado” das vias de transporte marítimo no Oriente Médio.

A outra foi o alerta feito pelo ministro de energia da Rússia, Alexander Novak, de que o apoio do seu país a outra rodada de cortes de produção da Opep+ não era certo, apesar de a Arábia Saudita aparentemente se mostrar convencida de que Moscou devesse continuar perdendo participação de mercado para os exportadores de petróleo dos EUA apenas para ajudar os produtores petrolíferos do Golfo.

Quanto a Trump, ele questionou por que os Estados Unidos estão protegendo as embarcações de petróleo no Estreito de Ormuz, uma das passagens mais arriscadas do mundo para os petroleiros, sugerindo que outros países pagassem pela segurança dos seus próprios navios na região.

O presidente disse, em uma sequência de tuítes:

“A China obtém 91% do seu petróleo do Estreito; o Japão, 62%; assim como vários outros países. Então por que estamos protegendo as vias de transporte marítimo de outros países (há vários anos) sem nenhuma remuneração?”

“Todos esses países deveriam estar protegendo suas próprias embarcações em uma jornada que sempre foi perigosa.”

Embora Trump tenha cometido um óbvio erro ortográfico ao usar a palavra “Straight”, em vez de “Strait”, para se referir ao Estreito de Ormuz, a mensagem que ele quis transmitir era clara.

EUA menos dependentes do petróleo do Golfo Pérsico neste momento
Dados mostram que a dependência dos EUA ao petróleo do Golfo Pérsico está na mínima de 30 anos, pois a revolução do shale oil transformou drasticamente a posição do país, que deixou de ser um importador líquido para ser um exportador líquido.

Se esse é realmente o caso, então por que seria papel dos Estados Unidos proteger os produtores petrolíferos do Oriente Médio, especialmente a Arábia Saudita? Continuidade de política?

Talvez essa não seja a maior prioridade de Trump, que nesses 30 meses de mandato já rasgou quase todos os pactos globais com participação dos EUA por achar que não eram do melhor interesse do seu país. Embora ele já tenha sugerido no passado que a relação entre EUA e Arábia Saudita precisava ser repensada, somente agora ele se posiciona publicamente contra a proteção da hidrovia de Ormuz.

A aliança entre os dois países foi construída ao longo de décadas de cooperação de segurança e fortes laços comerciais dominados pelos interesses norte-americanos no petróleo saudita. A relação sobreviveu a diversos desafios, como o embargo petrolífero de 1973 e os ataques de setembro de 2001, em que 15 dos 19 sequestradores dos aviões eram cidadãos sauditas.

O Conselho de Relações Exteriores, de Nova York, observa que, desde o 11 de setembro, sucessivos governos dos EUA consideraram que a Arábia Saudita era um parceiro estratégico na região.

Trump, em particular, elevou a relação a patamares mais altos, já que ele e seu genro Jared Kushner, que também é conselheiro sênior do presidente, estabeleceram cômodos laços com o príncipe herdeiro da Arábia Saudita, Mohammed bin Salman. Apesar de o assassinato do jornalista saudita Jamal Khashoggi, que residia nos EUA, e da suposta ligação do príncipe com o crime terem desestabilizado a relação no ano passado, o foco das atenções de Trump estava voltado ao Irã, maior rival dos sauditas e alvo principal da sua cooperação com Riad.

Relação EUA-Arábia Saudita ainda é boa, mas apresenta rachaduras
Mas também apareceram rachaduras nas relações entre EUA e Arábia Saudita, já que a Opep, liderada por Riad, continua pressionando por preços mais altos para o petróleo com pactos como o firmado com a Rússia, para desgosto de Trump, que precisa que os preços do petróleo mundial e nas bombas dos EUA estejam baixos para sua campanha de reeleição em 2020.

Cerca de 30% de todo o petróleo exportado no mundo por via marítima passa pelo Estreito de Ormuz. Uma recente onda de ataques a petroleiros no estreito – todos atribuídos ao Irã, que nega qualquer responsabilidade – colocou a hidrovia de volta no centro das atenções. Se os EUA decidirem não policiar mais o estreito, podem aumentar os riscos à oferta de petróleo e os custos de seguro de frete naquela região.

Porém, mesmo com Trump questionando o papel dos EUA como protetor não remunerado dos petroleiros no Oriente Médio, o Secretário de Estado, Mike Pompeo, estava em Riad na segunda-feira, discutindo com a Casa de Saud a necessidade de “promover a segurança marítima no Estreito de Ormuz” e reconhecendo que “a liberdade de navegação é fundamental”.

Essa pode ter sido uma razão para que os traders de petróleo não dessem tanta importância aos tuítes do presidente sobre o estreito. Mesmo assim, Trump levantou a questão e não deve deixá-la de lado, portanto é importante que o mercado dê mais atenção a isso.

Rússia quer ver os resultados das tratativas do G20 antes de se comprometer com cortes
Quanto a Novak, suas observações de que Moscou não havia decidido sobre a extensão dos cortes de produção até o fim do ano sob a égide da cooperação Opep+ deveriam ter sido objeto de maior consideração do mercado.

Novak afirmou que a Rússia pode corroborar seu compromisso depois de ver os resultados das tratativas do G20 entre Trump e o líder chinês, Xi Jinping.

Ele também disse que estava ouvindo as empresas petrolíferas russas.

Isso pode ser um problema para a Opep. Igor Sechin, diretor da Rosneft (OTC:OJSCY), maior companhia petrolífera da Rússia, é veementemente contra a extensão dos cortes de produção com a Opep, afirmando que isso geraria uma perda de participação de mercado da Rússia para os exportadores de petróleo dos EUA.

Claramente, os traders de petróleo estão minimizando a importância de dois dos mais importantes aspectos do mercado neste momento.