Petrobras paga R$ 2,6 bilhões em disputa por contrato de sonda

Petrobras foi a empresa que mais pegou empréstimos no BNDES: R$ 90 bilhões, nos últimos 15 anos. Na imagem: Foto tirada à noite de edifício-sede da Petrobras (Edise), na avenida Chile, no Rio de Janeiro, com iluminação na cor rosa
Fachada do edifício-sede da Petrobras (Edise), na avenida Chile, no centro do Rio de Janeiro

A Petrobras informou nesta sexta-feira, 21, que pagou US$ 700 milhões por conta da na arbitragem movida por Vantage Deepwater Company e Vantage Deepwater Drilling Inc pela contratação da sonda Titanium Explorer, envolvida em um esquema de propinas conduzido na diretoria internacional da petroleira, há quase dez anos. Na cotação do dólar desta quarta-feira a disputa envolve R$ 2,6 bilhões.

“O pagamento visa cessar a incidência de juros à condenação, permite levantar o bloqueio cautelar de bens da Petrobras e suas subsidiárias na Holanda e evita outras constrições judiciais, mas não encerra o litígio, uma vez que a companhia recorreu da decisão da Corte Federal do Texas em 19 de julho de 2019 e segue adotando todas as medidas destinadas a resguardar os seus interesses”, informou a empresa em nota.

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O valor é pedido pela Vantage devido ao cancelamento antecipado do contrato da sonda Titanium Explorer. Em julho do ano passado, uma corte arbitral decidiu em favor da Vantage, concluindo que as alegações da Petrobras não são válidas. A petroleira recorre dessas decisões.

Este caso foi revelado pela Lava Jato e terminou na condenação dos ex-diretores da área internacional da Petrobras, Jorge Zelada e Eduardo Musa, além Hamylton Pinheiro Padilha Junior, Raul Schmidt Felippe Junior e João Augusto Rezende Henriques, que intermediaram o pagamento de propinas, envolveu repasse para o PMDB, atual MDB. Os cinco foram condenados em 2015.

Em outro processo, o MPF denunciou o ex-CEO da Vantage Drilling, Paul Alfred Bragg. O americano, com endereço conhecido em Houston, Texas, é acusado de corrupção ativa e cúmplice no pagamento de propina no valor de US$ 31 milhões.

A sonda Titanium Explorer, da Vantage Drilling

Entenda o caso
A Titanium Explorer foi construída a partir do contrato com a Petrobras, fechado em 2009. A sonda foi concluída em 2012 – e atualmente está encostada (warm stack) na África do Sul.

A investigação demonstrou, por meio de documentos internos da Petrobras e informações de delatores, que estudos técnicos foram manipulados pelos executivos da Petrobras Jorge Zelada e Eduardo Musa, para justificar a contratação da sonda e, posteriormente, beneficiar a Vantage Drilling.

A fabricação da demanda ocorreu por meio da revisão de estudos internos que passaram a contar com um cenário mais otimista e que não se mostrou real. Zelada era o diretor da área internacional responsável pela estratégia.

Trecho de uma das denúncias do MPF, detalhando a fraude na contratação da Titanium Explorer, da Vantage Drilling

Toda a operação ocorreu em 2008 e 2009, enquanto a economia global sentia os efeitos da crise do subprime nos EUA, iniciada em 2007 e agravada pela falência do Lehman Brothers no ano seguinte.

Um dos indícios de manipulação foi a transferência de uma outra sonda, a Sevan 650, do Golfo do México, para o Brasil, a partir de um entendimento de que não haveria necessidade de manter o contrato no exterior, podendo ser aproveitado pelo E&P nacional. A transferência ocorre no segundo semestre de 2008; poucos meses depois a Titanium Explorer é contratada.

Por fim, a licitação foi manipulada em favor da Vantage. Chefe da comissão de licitação, Eduardo Musa altera os critérios de pontuação das propostas, beneficiando a oferta pela Titanium Explorer, atribuindo mais peso ao bônus de performance do contrato – um adicional que é pago pela operação das sondas que atingem metas de tempo de serviço sem interrupção.

Jorge Zelada está preso no Complexo Médico Penal de Curitiba, condenado a 15 anos de prisão em um dos processos. Dois ainda aguardam julgamento. Eduardo Musa e Hamylton Padilha se beneficiaram de acordos de delação premiada.

Os processos envolvendo a áreas internacional
— Contratação da Titanium Explorer: evasão de divisas, corrupção ativa e passiva e lavagem de dinheiro por Jorge Luiz Zelada, Eduardo Musa, Hamylton Padilha Junior, Raul Schmidt Junior, João Augusto Rezende Henriques e Hsin Chi Su (Nobu Su).

— Ex-CEO da Vantage Drilling: corrupção ativa e lavagem de dinheiro por Paul Alfred Bragg.

— Formação de quadrilha organização criminosa: fraude à licitação, corrupção ativa e passiva e lavagem de dinheiro por Raul Schmidt Junior, Nestor Cerveró, Jorge Zelada, Fernando Antônio Falcão Soares, Hamylton Padilha Junior, Eduardo Musa e João Augusto Rezende Henriques.