O Brasil tem a melhor proposta de eletrificação da frota de veículos do mundo, ao combinar a eletricidade com o uso de biocombustíveis, afirma o presidente da Unica, Evandro Gussi. Ex-deputado, ele é autor do projeto que originou o RenovaBio e hoje comanda a associação que representa parte do setor sucroenergético no Brasil.
Em entrevista exclusiva à epbr, Gussi defende que o uso de motores híbridos a etanol gera menos emissões do que veículos plug-in em outros países e afirma que o grande benefício do RenovaBio para a sociedade é a maior participação dos biocombustíveis na matriz energética brasileira.
A Toyota pretende lançar até o fim do ano o primeiro Corolla elétrico híbrido flex movido a etanol. A montadora afirma que será o automóvel movido a etanol mais eficiente do mundo e o mais limpo do mundo.
Nesta terça-feira, 4, a epbr – em parceria com o Conselho Empresarial Brasileiro para o Desenvolvimento Sustentável (Cebds) – realiza a segunda edição do Diálogos da Transição que vai discutir eletrificação da frota e o uso de biocombustíveis. O evento será transmitido a partir das 9h da manhã pelo Facebook da epbr.
Atento aos debates acerca da liberação da venda direta de etanol, ele afirma que a eventual alteração na cadeia do combustível não é uma ameaça ao programa, que excluirá usinas que optarem pela alteração. E faz um alerta: a mudança na tributação pode trazer para dentro do setor uma número maior de devedores contumazes.
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epbr – Qual o próximo passo para a implantação do programa RenovaBio?
Evandro Gussi – O RenovaBio está na última fase de implementação, que é o processo de estruturação financeira do programa, uma fase que é tratada no Banco Central com diálogos com a ANP e o MME e está dentro dos prazos adequados.
Essa fase visa a adequação de processos de emissão de Cbio (Crédito de Descarbonização por Biocombustíveis), esclarecendo como funcionará o mercado secundário, quem pode comprar o título.
epbr – Como as empresas estão se preparando para vender e comprar Cbios?
Gussi – Nas usinas o que se tem agora é a busca pelo processo de credenciamento. Para que você possa emitir Cbios é preciso um certificado de produção eficiente junto à ANP. Já há usinas buscando as empresas para apresentarem o seu processo de certificação.
O tempo para esse credenciamento tem sido relativamente célere. Três usinas já foram credenciadas e há outras buscando o credenciamento.
epbr – Com o programa completamente implementado, qual será o impacto do RenovaBio?
Gussi – O grande benefício do RenovaBio para a sociedade é a maior participação dos biocombustíveis na matriz energética brasileira.
São Paulo é um exemplo de uma revolução promovida pelo etanol. 30 anos atrás tínhamos uma série de problemas causados pela poluição. O aumento da participação do etanol gerou uma profunda revolução na qualidade do ar das cidades brasileiras.
epbr – A venda direta de etanol voltou a ser debatida no Congresso este ano. Há risco para o RenovaBio?
Gussi – Entendemos que não tem impacto sobre o programa. Quem optar por venda direta está, a princípio, fora do RenovaBio. Isso porque o programa é desenhado com toda a cadeira, com a revendedoras para o processo de substituição da gasolina pelo etanol. Não achamos que a venda direta vá trazer redução de preços ao consumidor. A capacidade de transporte que a distribuidora tem o produtor, em geral , não tem.
Não vemos grandes benefícios da venda direta. Entendemos até que é preciso observar e garantir não atrair para o setor de combustíveis uma preocupação tributária. Queremos que o setor mantenha a lisura em relação a tributos. Quando vc altera a tributação sobre a cadeia produtiva pode atrair falsos empreendedores que se aproveitam de “gaps” institucionais para praticar concorrência desleal.
epbr – como você vê a concorrência por espaço no setor automotivo entre biocombustíveis e eletrificação? Há espaço para os dois modelos no Brasil?
Gussi – A mobilidade do século 21 vai ser uma mobilidade plural. Você tem gente de patinete na Faria Lima, transporte compartilhado. Vai ser diferente do passado e isso é bom.O processo de eletrificação terá um papel importante nesse novo desenho de mobilidade.
Nós, no Brasil, temos a melhor proposta para eletrificação. A primeira delas é veículo híbrido que a Toyota está lançando agora em outubro. Um carro movido a gasolina gera 147 gramas de CO2 por km rodado. O Corolla com etanol vai emitir 28 gramas de CO2 por km rodado. Você não consegue ver um resultado assim em nenhuma outra opção de eletrificação.
Há várias rotas para a eletrificação. Motores a baterias, a etanol. O que nós propomos é uma visão global desse processo de eletrificação. Você tem que perguntar de onde vem a eletricidade que o carro está usando. Se ele usa energia de uma termelétrica movida a carvão eu apenas desloquei a localização da emissão de carbono .
Um estudo da Universidade de Colônia mostrou que um carro elétrico rodando na Alemanha produz emissões da ordem de 120 gramas de CO2 por km. São emissões superiores à gasolina porque você avalia todo o ciclo de vida do combustível.
No RenovaBio estamos envolvendo todas as fases de produção o etanol: do adubo usado para o solo, o transporte da cana à usina, o processo industrial até o posto de combustível… A metodologia é avaliação do ciclo de vida da molécula.
O etanol será determinante nos processos de eletrificação mais eficientes do mundo. Não há nenhum outro projeto com essa mesma taxa de emissão da Toyota.
epbr – A recuperação judicial da Atvos é o anúncio de uma crise para o setor?
Gussi – Não há essa preocupação. Eu não falo pela Atvos mas entendemos que a recuperação judicial foi noticiada como a estratégia jurídica para manutenção das operações. Eles possuem um compromisso inequívoco com o setor nacional e temos profunda convicção de que estão se portando da melhor maneira possível.
O mercado viveu momentos muito difíceis, especialmente quando o governo da ex-presidente Dilma Rousseff promoveu o controle de preços da gasolina e etanol. Mas o mercado vem contribuindo com a melhora da saúde da economia.
epbr – A produção de etanol de milho cresce no Brasil. Esse crescimento ameaça o espaço da cana?
Gussi – Não vemos disputa nenhuma. Quanto mais produção de etanol tivermos no Brasil e no mundo, isso significará uma contribuição determinante para a segurança energética.
por outro lado, dificilmente o milho é capaz de substituir uma área cultivada com cana. Entendemos que para o cumprimento dos objetivos do RenovaBio precisaremos também do etanol de milho. Prevemos uma participação da produção de etanol de milho no programa.