Por Barani Krishnan/Investing.com
As palavras de um trader não poderiam ser mais empíricas do que estas:
“Eu não dormiria vendido no petróleo nem por todo o chá da China no clima atual. Ponto final.”
Nas idas e vindas da movimentação intradiária, o petróleo chegou a subir 2% no pregão de quinta-feira, marcando o terceiro dia consecutivo de vitória dos touros. E mais um dia pode entrar nessa sequência, dependendo do que acontecer no pregão desta sexta-feira em Nova York, embora o mercado tenha corrigido um pouco no início da sessão asiática, possivelmente por causa da realização de lucro antes do fim de semana.
Mais exagero do que fato?
Meu argumento é o seguinte: sim, está havendo uma escalada nas tensões geopolíticas no petróleo, mas ainda há mais exagero do que fato no mercado neste momento. Sabemos que os Houthis, grupo alinhado ao Irã, reivindicou a responsabilidade pelos ataques de drones a duas estações de bombeamento de petróleo da Arábia Saudita, depois de supostas sabotagens a petroleiros pertencentes ao reino e aos Emirados Árabes Unidos (EAU).
Também sabemos que, em resposta, a coalizão militar liderada pelos sauditas no Iêmen realizou diversos ataques aéreos à capital Sanaa, controlada pelos Houthis. Quem tem acompanhado a guerra do Iêmen nos últimos quatro anos – que matou quase 18 000 civis de forma insensata – provavelmente não dará muita importância a esse jogo de gato e rato entre Houthis e sauditas neste momento.
Em suma, para mim, tudo isso não ocasionou o pico de 2% no petróleo. O mercado, na verdade, se consolidou nas máximas da quinta-feira, com o WTI fechando com 1,4% de valorização, e o Brent, com alta de 1,2%. Mas eu não poderia aceitar esse comportamento dos preços, sabendo que houve um aumento nos estoques semanais de petróleo de quase seis milhões de barris nos EUA no dia anterior. Nem depois de a Agência Internacional de Energia declarar que o excesso de oferta mundial não diminuiu após os seis meses de cortes de produção da Opep.
Drama das sanções ao Irã e Venezuela em inacreditável câmera lenta
Apesar da reunião preliminar da Opep+ neste fim de semana, na qual a Arábia Saudita, os EAU e outros defensores do preço alto provavelmente pressionarão por uma extensão dos cortes de produção antes da cúpula mais importante de 25 de junho, a falta de solução para a guerra comercial EUA-China e suas incertezas ainda pesam sobre o destino da demanda de longo prazo do petróleo.
E o chamado estrangulamento do petróleo iraniano e venezuelano por causa das sanções norte-americanas continua se desenrolando em inacreditável câmera lenta, a tal ponto que muitos já as consideram como uma dinâmica que pode ser revertida a qualquer momento, inclusive por Washington, se ainda existir ali vontade política.
O trader reconheceu tudo o que eu disse, mas ainda ficou com um pé atrás.
“O oleoduto é o que está deixando as pessoas loucas”, afirmou ele, ao se referir aos ataques de drones às estações de bombeamento de petróleo da Arábia Saudita.
“Se eles [os agressores] tiveram sorte, o ataque pode ter causado um enorme problema. Deus me livre se eles pegarem um petroleiro [em seguida]. É muito complicado… Eles atuam em pequenos grupos e, se tiverem sucesso, podem causar um enorme problema, pois todos culpariam o Irã – e com razão.”
Mas ele admitiu:
“Todos querem, inclusive eu, que a situação se acalme, mas o risco está aí e é real. Fanáticos são imprevisíveis e podem causar um tremendo estrago facilmente.”
“Entendo sua frustração, é uma pena que o mundo/as pessoas ajam dessa forma. Viva e deixe os outros viverem em paz.”
Isso me leva ao ponto principal deste artigo: será que existe alguém corajoso o bastante para apostar na queda do petróleo?
O urso “certo” que tiver paciência prevalecerá
Mesmo que seja difícil perder uma mania – ainda mais para um urso do petróleo com viés convicto de baixa ou posições profundamente entrincheiradas –, a quantidade de fatores contrários em jogo neste momento no petróleo pode fazer com que até os vendedores mais inveterados façam uma pausa.
John Kilduff, sócio do hedge fund de energia Again Capital, de Nova York, afirmou, em uma entrevista recente ao Investing.com, que aqueles que tiverem “a estratégia certa e convicção baterão o pé contra a tendência, pois nada é mais gratificante para eles do que provar que o mercado está errado”.
Kilduff disse ainda:
“Você precisa se lembrar de que está praticamente entrando na frente de um trem de carga. Não é um cenário para aqueles que têm estômago fraco ou se deixam levar por múltiplos fatores de medo usados pelos touros para estimular os preços.”
Entre os maiores temores está, obviamente, a possibilidade de eclosão de outra guerra do Golfo envolvendo um Irã aparentemente relutante, que os sauditas parecem estar ansiosos para punir por causa das suas alegadas transgressões à soberania petrolífera do reino.
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O próprio Trump não quer uma guerra com o Irã
Essa premissa é válida e ocupa as mentes não só dos touros do petróleo, mas também dos ursos, e podemos agradecer o Assessor de Segurança Nacional dos EUA e maior opositor do Irã, John Bolton, por gravar isso em nossas consciências – embora a Reuters tenha noticiado, na quinta-feira, que o próprio presidente dos EUA, Donald Trump, havia dito aos seus assessores de alto escalão que não queria que seu país entrasse em guerra com o Irã.
E não é só a geopolítica que está trabalhando contra os ursos. A estrutura de mercado do atual rali no petróleo também possui spreads temporais a favor do preço flat. Isso está causando um dos maiores cenários de backwardation no petróleo, em que os contratos com vencimento mais longo são negociados com um grande desconto em relação àqueles com vencimento mais próximo, gerando dinheiro “fácil” para quem simplesmente fizer a rolagem de contratos perto da expiração para os contratos seguintes. Isso é o que está sustentando o rali do petróleo.
Scott Shelton, corretor de futuros de energia na ICAP (LON:NXGN), em Durham, N.C., é pessimista em relação ao petróleo.
“Acho que é seguro dizer que se trata de uma ‘tempestade perfeita’ de informações físicas baixistas com uma quantidade saudável de risco geopolítico.”
“Para quem está à procura de vendedores, acredito que é preciso ficar de olho nos produtores, que só vão piorar o backwardation.”